A esquina que já foi ponto de encontro dos boêmios nas noites de Londrina hoje tem um cenário bem diferente. O imóvel na esquina da rua Quintino Bocaiúva com a Mossoró, na área central, onde funcionou um bar nos últimos anos, está em processo de demolição. O prédio fazia parte da listagem de Bens de Interesse da Preservação da secretaria municipal de Cultura. Agora, a área deverá dar lugar a uma farmácia.

“Deram entrada no pedido de demolição, conversamos com os proprietários para diretriz da preservação da memória, registro histórico do local com fotos. A expectativa é que a edificação que for construída tenha, por exemplo, uma ficha de inventário do local com imagens. É uma forma de preservar a memória, mesmo com a demolição”, destacou Solange Cristina Batigliana, diretora de Patrimônio Artístico e Histórico Cultura de Londrina.

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O imóvel não era tombado pelo patrimônio histórico. Inicialmente, na década de 1950, o espaço abrigou uma casa de madeira e posteriormente foi construída uma edificação com característica comercial no térreo e residencial no primeiro pavimento, um aspecto marcante da paisagem urbana da cidade no período de expansão. “Temos outros pontos com estas características de uso misto, como as avenidas Duque de Caxias e Guaporé. Olhando a rua Quintino, no seu conjunto, a demolição representa uma perda para a memória”, analisou.

No início da década de 1950, o espaço abrigou uma casa de madeira: demolição representa uma perda para a memória
No início da década de 1950, o espaço abrigou uma casa de madeira: demolição representa uma perda para a memória | Foto: Gustavo Carneiro- Grupo Folha

O serviço de demolição - além de levantar bastante poeira – tem chamado atenção de quem passa pelo cruzamento ou trabalha perto. “É estranho ver um lugar com tanta história ser destruído de uma hora para outra. Até tijolos antigos, que não são usados mais nas construções de hoje, dá para ver e daqui a pouco também vão virar escombros”, lamentou o aposentado José Valdir Caetano.

O prédio é mais uma estrutura tradicional e histórica a ir abaixo. Recentemente, também foram derrubados para receber nova destinação o casarão da rua Pio XII com a Santos; o armazém da máquina de arroz, na esquina da rua Uruguai com Santa Catarina; e o galpão onde funcionou o primeiro gerador do município, no estacionamento de um supermercado na avenida Celso Garcia Cid.

LISTA

Atualmente, a lista de Bens de Interesse da Preservação tem cerca de 500 imóveis. Até o início do ano eram aproximadamente 300, mas também foram incluídas as construções da avenida Duque de Caxias. “Londrina já foi cidade de madeira, de tijolo e hoje é de concreto. Essa transformação vem desde os seus primeiros tempos. É uma pena que não consigamos manter, porém, são propriedades particulares. Para preservação precisa de investimento. Se a cidade pretende se manter e preservar vai precisar de investimento”, destacou.

Batigliana ainda frisou que a preservação do patrimônio histórico não pode ser considerada uma “dor de cabeça”, mas sim um valor agregado. “Quando vamos em cidades antigas as pessoas falam que é bonito tudo preservado. Nós, como cidade, precisamos pensar sobre isso. Vamos querer que nossa cidade se preserve? Vai ser importante pensar nisso não só o poder público, mas todos nós, os próprios arquitetos, por exemplo, podem pensar formas interessantes de preservar.”

BENS TOMBADOS

Londrina tem sete imóveis tombados. Pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) o Museu de Arte; pelo Estado a antiga rodoviária, praça Rocha Pombo, teatro Ouro Verde e palacete dos Garcia; e pelo município a antiga Casa da Criança e fórum, hoje a biblioteca.

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