Ele está presente em vários processos quando o assunto é saúde. Está dentro do centro cirúrgico, mas também no pós-operatório ou até coletando materiais para exames. Pode gerenciar um setor ou responder por um grande hospital, no cargo de superintendência. O profissional de enfermagem é multitarefa e com um campo de atuação cheio de possibilidades.

Estes profissionais sempre estiveram presentes nos processos relacionados à saúde, mas ganharam holofotes com a Covid-19, tornando-se protagonistas no combate a uma doença letal e contagiosa. Nesta quarta-feira (12) é celebrado o dia internacional da enfermagem, data que lembra e destaca a contribuição destes trabalhadores em prol da vida. A FOLHA conversou com três enfermeiras, que atuam nos grandes hospitais de Londrina. São histórias de trabalho, mas também de sensibilidade na maior missão, que é cuidar das pessoas.

‘Nosso objetivo é que o paciente volte para a casa’

É uma rotina intensa. Ao todo são 78 horas de trabalho semanais. Alzira Aparecida Boaventura Yamamoto é enfermeira no hospital Evangélico e no HU (Hospital Universitário). Somente no Evangélico são 39 anos de dedicação no pronto-socorro. A carreira começou na Santa Casa como ajudante no berçário. Fez curso de auxiliar de enfermagem e se encantou com a área da saúde.

Alzira Aparecida Boaventura Yamamoto:  Nos colocamos no lugar no outro"
Alzira Aparecida Boaventura Yamamoto: Nos colocamos no lugar no outro" | Foto: Arquivo Pessoal

Posteriormente foi para o hospital Evangélico como auxiliar, sendo promovida um tempo depois, ao concluir a graduação. Com tanta experiência, se deparou com uma mudança drástica no dia a dia de cuidado aos pacientes. A pandemia de coronavírus trouxe angústias, desafios e aprendizados como nunca antes visto. “É uma doença muito desgastante. A gente vê o sofrimento das pessoas e isso é muito triste. São vidas que estão indo, famílias perdendo muitos entes queridos”, relatou. No HU são oito anos de serviço e desde o ano passado atendendo os casos no setor de tratamento da Covid-19.

Segundo Yamamoto, desde março a situação tem sido ainda pior, gerando ainda mais desgaste, principalmente, psicológico. O porto seguro tem sido a família. “Pessoas novas morrendo, muitas pessoas da mesma família. Nos colocamos no lugar no outro. No mês passado atendi um senhor de idade que perdeu dois filhos em 15 dias. Neste momento sinto o acolhimento da família, que sabe que estou trabalhando na linha de frente. Tenho me cuidado para não levar o vírus para dentro de casa”, destacou.

Diante de uma realidade com tanto sofrimento e tristeza, também existem momentos de alegria. “É muito bom ver o paciente melhorando, indo embora e dando tchau para você, dizendo que vai orar por nós, isso é gratificante”, pontuou. “Trabalhar na área da saúde é amor. Tem que ter amor e dedicação ao próximo, saber se doar mais pelo outro, poder cuidar e tentar devolver a saúde. Nosso objetivo é que o paciente volte para a casa.”

‘A enfermagem é um norteador de vida’

Eleine Aparecida Penha Martins tem a enfermagem duplicada em sua vida: na parte assistencial e na educacional. Formada em 1993 pela UEL (Universidade Estadual de Londrina), vem de uma família de enfermeiros. Já de casa sentiu o chamado para o cuidado do ser humano em sua plenitude. A primeira experiência foi como enfermeira assistencial no HU (Hospital Universitário).

Eleine Aparecida Penha Martins : “Me encanta o quanto os alunos se dispõem a estar presentes"
Eleine Aparecida Penha Martins : “Me encanta o quanto os alunos se dispõem a estar presentes" | Foto: Arquivo Pessoal

Neste período também passou no concurso para docente na universidade. Foi uma década de docência e a assistência juntas, até que decidiu pedir desligamento do hospital e seguir na instituição de ensino. Mas o destino fez com que retornasse ao hospital, com outro intuito, desta vez auxiliando os futuros enfermeiros. Atualmente é responsável pela supervisão de estágio da graduação e da residência em enfermagem em paciente crítico no pronto-socorro.

“Me encanta o quanto eles (alunos) se dispõem a estar presentes, mesmo neste período difícil no trabalho de prestação da assistência. Olhando para eles vejo que se sentem motivados - apesar de ser cansativo – ao desafio do dia a dia no processo de aprendizagem. De repente, tudo o que aprende na faculdade tem que aplicar e buscando o autocuidado”, avaliou. “Com a Covid-19 os profissionais tiveram que se adaptar a novas realidades, desenvolver mais habilidades e num prazo curto”, acrescentou.

Para Martins, o trabalho na enfermagem é de coragem. “Lembrando que a palavra coragem é agir pelo coração. Também é determinação e, claro, uma arte em toda sua completude. A enfermagem é um norteador de vida. Te ensina a cuidar, mas também exige o autocuidado. É uma profissão que tem muitas áreas de atuação, que permite fazer escolhas, desde o contato direto com o paciente até a administração”, ressaltou.

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‘Não é simplesmente fazer a técnica, é necessário se dedicar’

“Não consigo me imaginar em outra profissão, por mais que esteja difícil, sobrecarregada. Não é simplesmente fazer a técnica, é necessário se dedicar a eles. Não é somente um paciente, mas uma mãe de família, pai, o filho de alguém”, frisou Dayane Prado de Oliveira Campos, que resume a enfermagem em dedicação. Há três anos na Santa Casa de Londrina, iniciou nas unidades de internação, subiu para enfermeira gerencial e agora faz parte da educação continuada.

Dayane Prado de Oliveira Campos:  "É uma luta diária e nós tentamos trabalhar da forma mais humanizada possível"
Dayane Prado de Oliveira Campos: "É uma luta diária e nós tentamos trabalhar da forma mais humanizada possível" | Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

Campos é quem realiza os treinamentos dentro da instituição para todos os profissionais da enfermagem do hospital, criando protocolos e manuais. Apesar de mais de um ano de pandemia de coronavírus, a doença ainda é nova, gerando inúmeras atualizações no cuidado. “Tivemos que nos adequar já nos treinamentos Antes poderíamos fazer dois horários num auditório cheio e reduzimos em mais horários, mais turmas. Tem que se atualizar constantemente, porque todo dia muda uma técnica e conduta”, detalhou.

Uma das principais transformações, recentemente, foi a mudança na faixa etária das pessoas contaminadas e que precisam de internamento. “Antes tínhamos muitos idosos na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e hoje temos muitos jovens. Não muda só a técnica, mas também o psicológico (fica mais abalado) quando lida com paciente jovem. É uma luta diária com cada um de nós e tentamos trabalhar da forma mais humanizada possível.”

Com a pressão diária na busca por salvar vidas, os profissionais, na Santa Casa, têm se reunindo em rodas de conversa com o setor de psicologia e a própria educação continuada oferece suporte. “Tudo isso que estamos vivendo estimulou a pensar de forma diferente. Pensamos muito no futuro, mas hoje pensamos no presente. Temos que tirar proveito deste momento para sermos profissionais e trabalhadores melhores”, refletiu.

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