Marcelo Pereira Nunes: "O que muitos veem como gastos, o condomínio vê como ganho"
Marcelo Pereira Nunes: "O que muitos veem como gastos, o condomínio vê como ganho" | Foto: Gustavo Carneiro



O edifício Jardins Eco Resort, na Gleba Palhano (zona sul de Londrina), é um exemplo de como a organização da coleta seletiva pode resultar não apenas em ganhos ambientais, mas também financeiros. No condomínio vivem 304 famílias e cada apartamento separa os seus resíduos em mais de 25 tipos. Parte deles é enviada a uma cooperativa de reciclagem, parte é encaminhada ao aterro, alguns materiais são destinados para logística reversa e outros são vendidos, o dinheiro fica com o condomínio e é revertido em benefícios aos funcionários.

No depósito de lixo, há recipientes para coleta de vidros quebrados, frascos reutilizáveis, produtos farmacêuticos, tecidos, jornais, óleo de cozinha, pilhas e baterias, entre outros materiais. O destino de todo esse material não é apenas o barracão da cooperativa. Há um esforço do condomínio para dar a melhor destinação para cada tipo de resíduo.

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Frascos de vidro reutilizáveis, como recipientes de conservas, são doados ao Banco de Leite do Hospital Universitário, itens eletrônicos vão para a ONG E-Lixo, produtos farmacêuticos vão para a logística reversa, lacres de latas de alumínio são doados para instituições, como o Hospital do Câncer, tecido e madeira vão para uma caçamba da empresa Kurica Ambiental, responsável pela coleta domiciliar em Londrina. "O óleo de cozinha e as latas de alumínio são vendidos e, com o dinheiro, a gente faz café da manhã para os colaboradores do condomínio", contou o colaborador Marcelo Pereira Nunes.

As adaptações para que o condomínio chegasse a esse nível de eficiência aconteceram há mais de três anos, mas a campanha educativa é constante, em razão da rotatividade de moradores e funcionários. "Foi muito difícil (implantar o sistema). Fizemos campanhas, mudamos o layout dos depósitos, distribuímos folhetos para o pessoal se adaptar. As pessoas achavam que iria jogar dinheiro fora, que era uma coisa desnecessária. Foi quase um ano de trabalho", comentou Nunes.

Além da mudança comportamental, o condomínio investiu também na adequação do espaço físico. Na sala que funciona como depósito, decks de madeira foram instalados sobre o piso de cerâmica, assim como desodorizadores. Duas vezes ao dia funcionários esvaziam os recipientes reservados a cada tipo de resíduo e transferem para um outro recinto onde o material fica armazenado até o dia da coleta. O resultado é um ambiente limpo e quase sem nenhum odor. "Não adianta fazer uma separação deste tamanho, mas não ter um ambiente que convide à separação" ensina o funcionário.

Nunes reconhece que mesmo com todos os investimentos e campanhas, ainda há um ou outro morador que não colabora e, por isso, as orientações são constantemente reforçadas. Mas se a falta de colaboração persistir, as câmeras de vigilância revelam a identidade de quem não faz a sua parte e o responsável é notificado. Se ainda assim ele insistir em não separar o lixo adequadamente, o condomínio aplica multa. Mas o funcionário garante que são casos isolados. A maioria dos 1,3 mil moradores já entendeu que os cuidados com o meio ambiente devem começar dentro de casa. "A preocupação maior do condomínio é com a ecologia. O que muitos veem como gastos, o condomínio vê como ganho. É um ganho ambiental que talvez não seja sentido pelos condôminos, mas as gerações futuras irão agradecer", disse. (S.S.)