Dar um nome para uma criança que vai nascer é muito mais do que escolher um substantivo próprio que ficará anotado no registro civil feito no cartório. É um processo que, ao mesmo tempo em que é muito particular de cada pai e de cada mãe, é atravessado por fatores culturais e sociais que atingem as pessoas de forma mais ampla.

Imagem ilustrativa da imagem Como você se chama?
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Recentemente, os cartórios do Paraná divulgaram publicaram os nomes mais registrados em 2021. Na classificação geral, que abrange nomes femininos e masculinos, o nome mais escolhido pelos pais londrinenses foi Miguel, seguido por Alice, Helena, Arthur, Laura, Heitor, Davi, Lívia, Gael e Gabriel.

A psicóloga Mariana Fonseca Santos, de Londrina, explica que o ato de escolha de um nome faz parte da transformação do bebê, que ainda está na barriga da mãe, em um indivíduo, com ideias, personalidade, vontades e desejos. “Quando se escolhe o nome se está dizendo que o bebê é uma pessoa e vai se chamar de tal forma. E isso já vai construindo todo o imaginário em torno dela”, pontua.

IDEIAS PRONTAS

Isso porque, ao ouvir um nome, é natural que já se construam algumas ideias sobre como uma pessoa pode ser. “A gente fala o nome e já imagina um tipo de pessoa. E isso às vezes se confirma e outras vezes não”, pontua Santos.

“Eu nem pensava em namorar e já tinha Alice como uma opção para caso eu me tornasse mãe", conta Caroline Fernandes Terra Lacerda
“Eu nem pensava em namorar e já tinha Alice como uma opção para caso eu me tornasse mãe", conta Caroline Fernandes Terra Lacerda | Foto: Arquivo Pessoal

Quando a empresária Caroline Fernandes Terra Lacerda engravidou, ela e o esposo tinham, respectivamente, uma ideia de nome feminino e masculino. Ao saberem que seriam pais de uma menina, escolheram Alice. “Eu nem pensava em namorar e já tinha Alice como uma opção para caso eu me tornasse mãe. Sempre achei um nome muito delicado. Toda Alice que eu conhecia era uma menina fofa, delicada, boazinha. Esse nome sempre me marcou de forma positiva”, relembra ela.

Lacerda pontua que o contrário também pode acontecer: “Se você conhece alguém muito difícil, ou alguém que te marcou de forma negativa, você nunca vai cogitar por esse nome no seu filho”.

A forma de vida contemporânea, rápida, cheia de compromissos, exigindo agilidade, também influencia a escolha por nomes mais simples, como explica Santos: “Hoje eu tenho visto muitos nomes curtos, como Gael, Noah... Existe um reflexo de como nós funcionamos hoje, priorizando, de certa forma, a praticidade”.

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O PROCESSO DA ESCOLHA

Na sua experiência clínica, Santos dá bastante ênfase ao processo da escolha do nome. “Eu reparo sempre em quem escolheu e como foi essa decisão. Isso é o mais importante. Por meio disso, a gente vai percebendo o lugar que esse bebê pretende ocupar”, afirma. Para a psicóloga, não basta olhar apenas para o significado da palavra.

Mariana Fonseca Santos,psicóloga: “Tenho visto muitos nomes curtos; existe um reflexo de como nós funcionamos hoje, priorizando, de certa forma, a praticidade”
Mariana Fonseca Santos,psicóloga: “Tenho visto muitos nomes curtos; existe um reflexo de como nós funcionamos hoje, priorizando, de certa forma, a praticidade” | Foto: Arquivo Pessoal

É o caso da advogada Julia Saragoça, que ingressa no oitavo mês de gestação e será mãe de uma Helena em 2022. Embora ela já gostasse muito do nome, um dos fatores que influenciaram a escolha foi o local em que o casal teve sua lua-de-mel. “Helena é um nome de origem grega e a nossa lua de mel foi na Grécia. Tudo casou para que fosse esse nome”, relembra a advogada.

Ela e o esposo montaram juntos uma lista de possíveis nomes, mas não conseguiam encontrar nomes masculinos que os agradassem. “Parece que a gente já sabia. Helena sempre foi a primeira opção”. Mesmo sendo um dos nomes que têm sido mais escolhidos, para o casal esse fator sequer influenciou na escolha: “Por mais que seja um nome em alta, para mim o que pesou foi ser um nome do qual eu realmente gosto”, conta a advogada.

INFLUÊNCIA DA CULTURA

“Isso [o processo de escolha do nome] acaba sendo muito cultural. Existe um fator estético – achar bonito esse ou aquele nome – mas tem quem escolha por causa de filme, de livro, ou nome bíblico”, pontua Santos.

Em virtude da colônia japonesa que veio para o Norte do Paraná, a psicóloga relembra outro traço característico na escolha dos nomes de muitos londrinenses: “quem é de família japonesa acaba colocando um nome brasileiro e um nome japonês. E são dois nomes próprios, o japonês não é um sobrenome. E é curioso ver depois qual nome a pessoa usa, em qual ambiente usa um ou outro, como se apresenta. Isso demonstra que parte ela quer mostrar, ou onde ela se sente mais incluída”, arremata ela.

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