A vida possui muitos recomeços. O aniversário, o nascer do dia, um novo emprego, um relacionamento que se inicia. Contudo, a virada de um ano para o outro é um momento que mexe de forma mais específica com os sentimentos das pessoas. O Ano Novo é uma festa comemorada em todos os cantos do mundo, com milhões de pessoas renovando as esperanças para o novo ciclo que começa.

Imagem ilustrativa da imagem Adeus ano velho, feliz ciclo novo
| Foto: iStock

Para muita gente, porém, as festas de fim de ano representam uma verdadeira “overdose emocional”, como define o psicanalista Sylvio do Amaral Schreiner, de Londrina. Para ele, há dois principais tipos de posturas problemáticas nesse momento de balanço. “Uma delas é fazer uma avaliação muito cruel consigo mesmo, se comparar com os outros dizendo que fracassou, que os outros deram certo porque arrumaram um emprego, que viajaram, usando esse momento para se desvalorizar”, comenta ele.

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| Foto: Ricardo Chicarelli - Divulgação

A outra postura, por sua vez, é alimentar desejos muito distantes da realidade: “As pessoas às vezes querem coisas que precisam ser mais trabalhadas, que demandam tempo e todo um processo para que venham a se realizar”, pondera Schreiner. É o caso de quando se desejam mudanças grandes e imediatas, ou que mudem o comportamento dos outros.

FIM DA PANDEMIA

A professora e psicóloga clínica Giuliana Carmo Temple vê que “2021 era um ano de muitas esperanças de que as pessoas pudessem voltar a viver normalmente, mas não foi bem o que aconteceu”. Justamente por isso, na visão dela, “não dá para separar a expectativa que as pessoas têm em relação ao próximo ano com o fim da pandemia”, disse. Temple, coordenadora do curso de psicologia da Universidade Pitágoras Unopar

Observando a maioria dos seus pacientes, ela nota, contudo, que “em relação ao final do ano passado, se for fazer uma comparação, as pessoas estão mais otimistas”, sobretudo porque já estão convivendo de novo com os seus familiares, com os amigos e voltaram ao trabalho presencial.

Segundo dados do Consórcio de Veículos de Imprensa, até este domingo (26), 66,8% da população brasileira havia tomado as duas doses da vacina contra a Covid-19. Diante desse panorama, a esperança de muitas pessoas é de que 2022 seja o ano em que a pandemia vai ficar para trás.

PARA DEUS NADA É IMPOSSÍVEL ‘

Rosimeire Sposito Beraldi, proprietária de uma cafeteria, está com boas perspectivas para os negócios, esperando que o movimento continue a melhorar em 2022. No dia 11 de março de 2021, às 5h, por causa da Covid, ela teve uma parada cardíaca e precisou ser internada. Dali em diante, foram 100 dias hospitalizada, sendo 87 intubada. “Fiquei praticamente 100 dias morta. A equipe médica desenganou, mas para Deus nada é impossível’, relembra ela, que atribui sua cura à corrente de orações feita por amigos, conhecidos e familiares. Beraldi conta que, depois da volta para casa, foram “mais de três meses para andar e comer sozinha”.

Malaquias Barbosa Lacerda sobreviveu à Covid: “graças a Deus eu estou aqui para contar a história”.
Malaquias Barbosa Lacerda sobreviveu à Covid: “graças a Deus eu estou aqui para contar a história”. | Foto: Isabella Alonso Panho

Contudo, ela conta que conseguiu, a partir dessa vivência, construir um olhar mais positivo sobre a vida e sobre as pessoas: “A gente vê tudo mais belo, mais bonito, vê o lado bom das pessoas”. Mesmo depois do sofrimento atravessado, Beraldi espera que 2022 seja um ano melhor. “Eu creio que vai ter um futuro melhor para todo mundo”, arremata.

‘2022 SERÁ UM ANO ABENÇOADO ‘

Outro sobrevivente da Covid, Malaquias Barbosa Lacerda, diz “graças a Deus eu estou aqui para contar a história”. Ele, que é dono de um mercado na zona sul da cidade, lembra que ficou internado seis dias no HU (Hospital Universitário), e chegou a ter 75% do pulmão comprometido. Lacerda afirma que o período de internamento o fez repensar o sentido da vida e ter mais cuidado com a própria saúde.

Para 2022, ele tem boas perspectivas, não apenas para si, mas para todos os brasileiros. “Com as duas vacinas a gente tem um pouco mais de segurança. Então eu tenho fé de que 2022 será um ano abençoado”, diz Lacerda.

DESEJAR DE MANEIRA MAIS REAL

Apesar de todas essas questões, é possível lidar com sonhos e expectativas de uma forma mais saudável. “Não que a gente tenha que desejar pequeno, mas tem que desejar de uma maneira mais real”, afirma Schreiner.

“A gente não paga pra sonhar”, pontua Temple. Para que os objetivos do Ano Novo não se percam ou virem motivo de frustração, é necessário diferenciar os planos de curto, médio e longo prazo, pois assim é possível “dividir uma meta muito grande em pequenas etapas, para que a gente vá superando um ou outro obstáculo até chegar naquilo que é o nosso desejo”, afirma a professora.

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| Foto: Arquivo Pessoal

DENTRO DE NÓS

Por outro lado, também é importante assumir a responsabilidade sobre as mudanças desejadas e se comprometer verdadeiramente o processo que leva a elas. Como comenta Schreiner, “cada um tem uma responsabilidade com a própria vida. Não é tanto o que precisa acontecer lá fora – ainda que tenham muitas coisas lá fora que precisam mudar, melhorar e evoluir. Mas é o que cada um vai fazer com a própria vida”. Ele arremata: “a felicidade não tem que ser dada. Mas ela é uma possibilidade dentro de nós, e a gente precisa trilhar esse caminho”.

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