No Paraná, em 2021, aconteceram 56.303 acidentes (envolvendo 82.100 veículos), que resultaram em 119.312 feridos/ilesos e 792 mortes, de acordo com dados do Registro Nacional de Acidentes e Estatísticas do Trânsito. Muitas dessas mortes ou ferimentos poderiam ser evitados com o uso correto de equipamentos de segurança. De acordo com a Opas (Organização Panamericana de Saúde), o uso correto do cinto de segurança reduz o risco de morte de motoristas e passageiros dos bancos dianteiros em 45% a 50% e o risco de morte e lesões graves entre passageiros dos bancos traseiros em 25%.

Imagem ilustrativa da imagem Cinto de segurança salva vidas, alerta bombeiro do Paraná
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Na semana passada, após um acidente no Noroeste que resultou em quatro óbitos, incluindo uma criança de menos de dois anos de idade, o tenente Alex Boni, do 5ª Grupamento do Corpo de Bombeiros de Maringá, fez um apelo à população sobre a importância dos dispositivos de segurança. “Quando a gente analisa o contexto do acidente, a chance de sobrevida seria muito maior se estivessem utilizando os dispositivos de segurança”, apontou. “É óbvio que houve a ação de uma força muito forte com as velocidades dos veículos somadas, já que foi uma colisão frontal, mas o potencial de sobrevida seria muito maior se a criança estivesse em uma cadeirinha no banco traseiro, assim como o adulto, que estava no banco traseiro, se estivesse usando o cinto de segurança, já que a colisão não deformou o banco traseiro”, apontou.

“Apelamos à população que utilize os dispositivos de segurança. A velocidade que um veículo desenvolve é a mesma que a de seus ocupantes. Na colisão, os corpos das pessoas estão sujeitos a todas essas forças”, explicou. “A literatura científica coloca que o potencial de morte aumenta vertiginosamente sem esses equipamentos”, apontou o tenente Alex Boni, acrescentando que o não uso do cinto de segurança é comum nas ocorrências que os bombeiros atendem. “É muito corriqueiro encontrar pessoas que não utilizam.”

CADEIRINHA

“A falta do uso da cadeirinha já não é tão comum, mas quando há um acidente em que ela não é usada, as lesões são graves. As pessoas têm uma falsa sensação de que elas vão conseguir segurar a criança, mas não têm força muscular para isso”, destacou o oficial dos bombeiros. “Eu sou o pai de três crianças, uma de quatro anos e gêmeas de 7 meses. A gente sempre imagina que isso nunca vai acontecer conosco, mas a partir do momento em que vai atendendo ocorrências ininterruptamente e vendo a família chegando desesperada, com uma mãe chorando, um pai chorando, você acaba convivendo com aquela dor e se colocando no lugar.”

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“A gente sabe que é difícil colocar disciplina na criança e ela acaba sendo transportada fora da cadeirinha, mas há uma lei que regulamenta isso, que é o Código de Trânsito”, reforça o tenente, dizendo que não basta adquirir qualquer equipamento. “O pai e a mãe têm que levar em consideração a idade, o peso e altura da criança e relacionar tudo isso com as características da cadeirinha. Há carros em que o banco traseiro não tem cinto de segurança de três pontas e o manual da cadeirinha pode estar dizendo que a cadeirinha não é certificada para usar com o cinto de duas pontas. Então os pais podem estar com a falsa sensação de que estão dando segurança para o seu filho, mas não estão”, detalhou.

PERFIL

O tenente Alex Boni ressaltou que não há um perfil das vítimas que não usam equipamentos de segurança, mas há uma percepção de que a maioria é jovem, na faixa dos 18 aos 40 anos. “O mais comum é a pessoa tentar dizer que utilizava o dispositivo, quando não estava fazendo isso. Muita gente mente com medo de ser multado, porque a preocupação é muito mais com o bolso do que com a segurança. O Corpo de Bombeiros solicita essa informação para potencializar o diagnóstico e repassar para o hospital.”

ESTATÍSTICAS

De acordo com a Opas, o uso de sistemas de retenção para crianças pode reduzir em 60% o número de mortes. Já o uso correto de capacetes pode reduzir em 42% o risco de mortes e em 69% o risco de lesões graves.

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MUITO MAIS QUE OBEDECER UMA LEI DE TRÂNSITO

O engenheiro Celso Alves Mariano é especialista multidisciplinar em trânsito pela PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná) e ressalta que muito mais do que obedecer uma lei de trânsito para não tomar multa, o uso do equipamento de segurança significa se adequar a uma condição da natureza. “Quando há uma desaceleração brusca decorrente da colisão contra um poste, por exemplo, essa energia se transforma na força que quebra, esmaga e retorce. É a energia cinética que fere as pessoas e destrói o próprio veículo ou os bens públicos ou outros veículos.”

“Em um acidente de trânsito a própria ação do cinto não libera completamente dos machucados e vai causar algum trauma, mas ele é incomparavelmente menor do que se estiver sem nada. A exigência que se faz legalmente só tem sentido porque as pessoas não percebem espontaneamente a importância desse uso para sua segurança.”

INCORPORADOS

Ele reforçou que há uma série de itens de segurança que estão tão incorporados e as pessoas só se recordam deles quando são exigidos, como o para-choque, os espelhos retrovisores, o limpador de para- brisa; o lavador de para- brisa; a pala interna de proteção contra o sol (para-sol) para o condutor, os faróis, as lanternas, o velocímetro; os freios, a buzina, os pneus em condições mínimas de segurança, entre outros.

Muitos deles demoraram a ser incorporados pela legislação nacional. “Temos que lembrar que no momento em que os fabricantes de veículos foram obrigados a equipar seus veículos com cinto de três pontos, houve uma grande resistência, tanto que durante muitos anos só houve cinto de três pontos no banco da frente. Nós nos atrasamos uns 10 anos em relação à Europa e Estados Unidos. Assim como a adoção do freio ABS e do airbag. As tecnologias que são utilizadas no trânsito, seja nas vias ou nos veículos e até mesmo nos acessórios que nós, como condutores, como passageiros, temos que usar, resultam de uma série de experimentações de técnicas. Os testes são rigorosos e cada vez mais nós temos um conjunto resultante de produtos que realmente atribuem mais segurança.”

“Essas melhorias demoram a chegar, mas elas estão aí e dificilmente dá para dizer que uma família que tem dinheiro para comprar um carro não tem dinheiro para comprar uma cadeirinha para transportar os seus filhos”, destacou.

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FISCALIZAÇÃO

Ele reforçou a importância da fiscalização nas rodovias. “Há condutores que desde que conseguiram a habilitação nunca mais estudaram trânsito na vida e não fizeram cursos de reciclagem, a não ser aqueles que cometeram muitas infrações. São pessoas que nunca mais vão estudar trânsito na vida e só irão realizar o 'exame de vista'. A fiscalização é indispensável, mas nós temos visto isso cada vez menos.” De acordo com ele, a frota e a população crescem, mas os efetivos de fiscalização não aumentam."

EFETIVO

A Polícia Rodoviária Federal possui 800 policiais rodoviários para fiscalizar 4 mil km de rodovias federais no Estado. O Paraná possui 12,8 mil quilômetros de rodovias estaduais, com 58 postos de fiscalização. Desde o fim do contrato de concessão de rodovias houve um acréscimo de cerca de 700 oficiais do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar em regime de extrajornada.

Os policiais civis também foram convocados para integrar a força-tarefa, mas questionaram a decisão no TCE-PR (Tribunal de Contas do Estado do Paraná). O Paraná firmou compromisso com o novo Pnatrans (Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito), do governo federal, no dia 20 de setembro do ano passado. O documento é um plano de metas focado em reduzir o índice de mortos no trânsito e conta com a inclusão de princípios e ações que alinham o País à agenda global de segurança viária. Também reforça o compromisso de reduzir em pelo menos 50% as mortes no trânsito brasileiro dentro de um período de 10 anos.

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