Está prestes a completar 10 anos o Museu do Plantio Direto, localizado em Mauá da Serra, no Norte do Estado. O espaço destaca o sistema implantado no Paraná desde a década de 1970 para evitar a erosão do solo e ampliar a produtividade. Hoje, segundo a Faep (Federação da Agricultura do Estado do Paraná), mais de 90% das áreas agrícolas paranaenses já utilizam a técnica.

No espaço de 600 metros quadrados do museu, o acervo contempla diversos equipamentos, como tratores e plantadeiras importadas ou modificadas no Brasil para atender ao tipo de manejo.

Há planos de expansão do museu, após doação de equipamentos pelo pioneiro da técnica no Estado
Há planos de expansão do museu, após doação de equipamentos pelo pioneiro da técnica no Estado | Foto: William Goldbach/Faep/Senar

É possível se deparar com raridades, como a primeira plantadeira utilizada no Brasil para essa modalidade, uma Allis Chalmers de 1972, importada dos Estados Unidos. Outro destaque é o primeiro protótipo de semeadeira de 1973, peça desenvolvida no Brasil.

“O museu tem as primeiras máquinas usadas no Plantio Direto na região, sendo que muitas eram rotineiramente adaptadas. É um acervo rico em história”, destaca Sérgio Kasutoshi Higashibara, presidente do Sindicato Rural de Mauá da Serra e integrante do grupo que idealizou o museu. Ele garante que o museu é o “único deste tipo no mundo”.

Trator antigo utilizado em propriedade paranaense
Trator antigo utilizado em propriedade paranaense | Foto: William Goldbach/Faep/Senar

O acervo atrai estudantes, técnicos, produtores e curiosos. A rotina de visitas inclui grupos de escolas e de universidades da região, além de pessoas de outros Estados e estrangeiros. “Já dei palestras para indianos, cubanos e suíços. Somos bastante procurados”, garante Higashibara.

O presidente do Sistema Faep/Senar-PR, Ágide Meneguette, destaca que o acervo do museu é completo. “As peças retratam perfeitamente o que os produtores da região precisaram fazer para adaptar as máquinas à técnica e garantir o desenvolvimento da agricultura”, pontua.

HISTÓRIA

Em 2004, em meio às festividades de comemoração dos 30 anos do início do Sistema de Plantio Direto na região de Mauá da Serra, os produtores rurais locais tiveram a ideia de criar um museu para reunir maquinários, equipamentos, fotos e documentos da técnica.

O Museu do Plantio Direto fica aberto de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h, com entrada gratuita
O Museu do Plantio Direto fica aberto de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h, com entrada gratuita | Foto: William Goldbach/Faep/Senar

O que incialmente parecia uma conversa de amigos em volta de uma mesa ganhou corpo. No mesmo ano, o grupo fez o lançamento da pedra fundamental do Museu do Plantio Direto.

A partir do ato simbólico, uma longa caminhada se estendeu até a abertura oficial do museu, em novembro de 2012. Isso porque era preciso reunir dinheiro para viabilizar a obra, já que os equipamentos seriam doados pelos precursores do sistema na região. “O terreno foi doado e tivemos que buscar recursos para levantar a estrutura. Levou tempo, mas deu certo”, lembra o presidente do Sindicato Rural de Mauá da Serra.

A ideia do espaço, segundo ele, é guardar a história do Plantio Direto. “Afinal, os jovens não sabem como se deu essa técnica, que revolucionou a agricultura no Paraná e em outros Estados.”

Mauá da Serra é um exemplo perfeito do impacto do sistema no campo. Na década de 1970, os agricultores sofriam com as chuvas e, consequentemente, a erosão. Na época, o sistema convencional estava impossibilitando a prática da agricultura na região, pois nem mesmo as curvas de nível “seguravam” o solo. Até que a chegada da técnica de palhada, pelas mãos do agricultor Cândido Hideomi Uemura, facilitou o manejo e transformou a atividade.

“Se não fosse o Plantio Direto, Mauá hoje seria pastagem e reflorestamento. O museu é uma forma de guardar a história e também um agradecimento”, aponta Higashibara.

EXPANSÃO

Dez anos após a inauguração do museu, o grupo de produtores que administra o espaço tem planos de ampliação. Isso porque a família do pioneiro do Plantio Direto, Herbert Bartz, falecido em 2021, demonstrou interesse em doar parte dos equipamentos ao local.

Em 1971, Bartz, de Rolândia, começou a buscar uma alternativa ao sistema convencional de preparo do solo, que causava tanta erosão principalmente após as chuvas fortes da região.

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“O Bartz sempre foi um parceiro nosso, inclusive vindo dar palestras aos visitantes. A doação dos seus maquinários vai enriquecer ainda mais o acervo e atrair mais pessoas. Vamos buscar os recursos para ampliar o espaço”, garante Higashibara.

O SISTEMA

Bruno Vizioli, técnico do Departamento Técnico e Econômico do Sistema Faep/Senar-PR, explica que, basicamente, o Plantio Direto consiste em colher a cultura e não revolver o solo para o plantio da próxima.

“Você faz a semeadura da cultura seguinte em cima da palhada da cultura anterior. Com isso, o solo não é revolvido. A vantagem disso é gerar economia ao sistema produtivo, com gasto de menos combustível e menos maquinário para preparar o solo e, consequentemente, gerando um menor custo de produção.”

O sistema tem inúmeras vantagens: a primeira é a redução da perda de solo por erosão. “A eficiência dos fertilizantes melhora, já que a técnica aumenta a fertilidade do solo, e o agricultor se vale da palhada da cultura anterior, que promove uma barreira física para plantas daninhas.”

O técnico explica que se trata de um sistema conservacionista – menos impactante ao meio ambiente – e mais produtivo, já que hoje o Plantio Direto é utilizado em até 3 safras por ano. “Hoje as empresas produzem maquinário próprio para o sistema de plantio direto. A técnica gera ainda sequestro de carbono no solo, reduzindo os gases de efeito estufa, além de evitar o assoreamento dos rios”, conclui.

SERVIÇO

O Museu do Plantio Direto fica aberto de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h, com entrada gratuita. O museu fica na rua Catarina Aires da Silva, s/n, em Mauá da Serra.

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