Pressionada por uma geração de crianças e adolescentes que crescem familiarizados com a tecnologia, a rotina escolar precisou avançar. Equipamentos, metodologias e sistemas de ensino incorporaram novidades e a sala de aula se transformou. Com aulas mais interativas e dinâmicas, proporcionadas por ferramentas digitais, a personalização do ensino entrou em cena. “As tecnologias possibilitam conhecer mais detalhadamente o perfil de cada aluno, avaliar o desempenho e, com isso, adaptar conteúdos e garantir uma aprendizagem mais atrativa e ampla, com foco no desenvolvimento de habilidades dos alunos”, explica o especialista em inovações para o ensino, Cláudio Genário.

Imagem ilustrativa da imagem O futuro do ensino - o hibridismo e o homeschooling no Paraná
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Dentro da sala, o quadro negro deu espaço para lousas digitais interativas, enquanto tablets e computadores tornaram-se indispensáveis. Ambientes virtuais imersivos misturam o mundo real com virtual, permitindo o aprendizado por meio da experiência e da interação dos alunos — modelo semelhante aos dos tours 360º de museus. Além de facilitar a aprendizagem, a tecnologia abriu também um novo horizonte para os professores, que deixaram de ser os únicos detentores da informação. “Ele tem várias ferramentas à disposição para auxiliar e também deixa de lado aquele modelo em que só falava e o aluno escutava, copiava as matérias. Hoje o aluno tem um mundo de informações na palma da mão e passa a ser protagonista do processo de aprendizagem, é essencial se adaptar, transformar e não tentar impor metodologias anacrônicas”, observa a professora e mestre em Educação, Soraia Cavalcante.

As novas abordagens estão presentes no conceito de “Educação 4.0”, em que entender por que se precisa de um conhecimento ou habilidade torna-se um fator essencial, tanto quanto aprendê-la. As escolas deixam de ser apenas espaços de replicação de conhecimento para se transformarem em pontos de desenvolvimento de competências. Outra tendência é a de uma aprendizagem mais colaborativa, com alunos aprendendo uns com os outros, tendo os professores como pontes facilitadoras na construção dos processos. “Com o aluno envolvido no processo, a criatividade é estimulada com a mão na massa, fazendo, no desenvolvimento de projetos. As aulas são mais produtivas e todos ficam mais preparados para encarar os desafios de um mundo cada vez mais dinâmico, que se reinventa a cada instante. E nesse mundo, tão importante quanto os conteúdos, temos as habilidades socioemocionais, levando em conta as orientações da BNCC (Base Nacional Comum Curricular)”, complementa Cavalcante.

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O ensino remoto, que permitiu a continuidade das aulas durante a pandemia, também deixa um legado relevante, como a importância de se idealizar atividades presenciais que realmente sejam diferenciais para os estudantes. “A ausência de encontro dos alunos, que o isolamento social durante a quarentena gerou, mostrou que os períodos juntos podem ser melhor aproveitados”, indica a mestre em Educação, que não acredita que o modelo remoto possa substituir o presencial. “Pelo menos em um horizonte próximo não acho, e também não recomendo. Ele foi muito importante durante esse período desafiador, isso é inegável, e nos mostrou que podemos lançar mão dessa ferramenta se necessário. Algumas atividades com certeza podem ser desenvolvidas de forma remota, mas o convívio na escola é também um momento de desenvolvimento cognitivo e social, peça chave para o processo de crescimento pessoal e de aprendizagem”, analisa.

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Ambientes virtuais imersivos misturam o mundo real com virtual, permitindo o aprendizado por meio da experiência e da interação dos alunos
Ambientes virtuais imersivos misturam o mundo real com virtual, permitindo o aprendizado por meio da experiência e da interação dos alunos | Foto: iStock

Nesse contexto de planejar o futuro que avançou sobre a educação nos últimos anos. A educação híbrida, que mescla diferentes formas de ensino e aprendizagem, combinando recursos em aulas presenciais, online e em plataformas digitais, deve ganhar cada vez mais espaço, mas depende da elaboração do plano pedagógico e a gestão do tempo na escola. “Ela é diferente de ensino remoto, que é apenas uma aula pelo computador. No híbrido, você lança mão de diferentes metodologias, combinando conteúdos complementares em sala de aula e em um laboratório de informática, por exemplo, com acesso à tecnologias que ajudem no desenvolvimento daquela habilidade. No momento seguinte, em outro ambiente, pode-se desenvolver projetos, discutir o assunto, contextualizar, tudo com o envolvimento de professor e alunos. Caminhando por essa trilha de aprendizagem, o aluno é provocado a pensar de forma crítica, a trabalhar em grupo, e o professor tem o papel mais delineado de um mentor, que auxilia nesse caminho”, detalha a professora e mestre em Educação, Soraia Cavalcante.

Homeschooling avança no Paraná

Debate educacional ganhou novos capítulos nas últimas semanas com sanção de lei que implementa a educação domiciliar no Estado

Outro debate no ambiente educacional que deve ganhar mais capítulos no futuro é o do homeschooling. No Paraná, o governador Ratinho Júnior (PSD) sancionou, na última segunda-feira, uma lei que implementa a educação domiciliar no Estado — o primeiro no país a regulamentar o modelo, que pode ser aplicado para estudantes dos ensinos infantil, fundamental e médio. De acordo com o projeto, de autoria do deputado estadual Márcio Pacheco (PDT), as aulas ficam sob responsabilidade dos pais ou responsáveis, com supervisão e avaliação periódica da aprendizagem por parte da Secretaria de Estado da Educação e do Esporte. A prática não é obrigatória, cabendo aos responsáveis legais optar por um modelo de ensino, e deve ser comunicada à Secretaria. “É uma forma democrática para a educação das nossas crianças e adolescentes, dando a opção aos pais de definirem qual formato de aprendizagem eles querem. Aqui no Paraná temos a escola convencional, com aulas de programação, robótica e educação financeira, a escola cívico-militar e agora o homeschooling. Os pais ou responsáveis é que vão escolher”, afirmou Ratinho Junior.

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Na avaliação da professora e mestre em Educação, Soraia Cavalcante, o modelo pode distanciar os alunos da realidade. “Claro que os pais ou responsáveis têm todo o direito de escolha, mas é preciso avaliar se o aluno vai estar mesmo sendo preparado para lidar com o mundo, digamos, ‘lá fora’. Não ter o contato com outros colegas, com outras realidades, com contextos diferentes pode abrir lacunas preocupantes para o futuro deste estudante, e destoa completamente dos avanços que temos hoje na educação. Tudo isso precisa ser avaliado pelos pais antes de uma escolha como essa”, sugere.

O mundo da educação que caminha a passos largos em direção à tecnologia é desafio também para os educadores. Completando 20 anos de magistério, a professora de Matemática Inês Rossi destaca que a necessidade de atualização constante é, em muitas situações, um obstáculo. “Estudei e comecei a dar aulas em um mundo analógico e hoje ele é digital. A todo momento surgem novas ferramentas, então a formação continuada é indispensável para que o professor não se desconecte do mundo dos alunos”, avalia. Outra preocupação de Rossi é em relação ao acesso dos estudantes e professores aos avanços. “Nós já temos um patamar de desigualdade gigantesco no país, que impacta seriamente na formação dos alunos. É preciso garantir políticas públicas educacionais que possibilitem a universalização de metodologias, tecnologias, que democratizem o acesso, ou corremos o risco de aumentar ainda mais o abismo social e educacional que enfrentamos no país”, alerta. “Enquanto estamos debatendo soluções digitais, há escolas Brasil afora que não têm saneamento básico, não tem carteira para os alunos. É preciso encarar isso”, lamenta.

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Cavalcante concorda e ressalta o papel cada vez mais importante dos professores. “Engana-se quem pensa que a tecnologia torna a função do professor desnecessária. É exatamente o contrário. Em um mundo caótico de informações, é ele que vai conduzir o aluno, auxiliá-lo. Educação é olho no olho, é emoção, é contato, é entender a personalidade de cada aluno e de quem forma ajudar para que o desempenho dele seja o melhor possível”, avalia.

Um levantamento realizado pela ABED (Associação Brasileira de Educação a Distância) no ano passado apontou que 72% dos estudantes que passaram a assistir aulas em casa durante a pandemia avaliaram que a qualidade das aulas remotas piorou quando comparadas às presenciais. Para Soraia Cavalcante, é mais um indicativo do caminho a seguir. “Por isso a valorização dos professores ganha ainda mais importância. Quanto mais avançarmos em ferramentas tecnológicas, mais será preciso avançar no relacionamento com os alunos e na formação dos educadores, na valorização da profissão, seja no Ensino Infantil, Fundamental ou Médio. E gestores, pais, responsáveis e os autores de políticas públicas de educação precisam ter essa consciência cada vez mais clara”, analisa a mestre em Educação.

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