Em tempos de campanha eleitoral surgem promessas de todo o tipo. Melhorar a educação, cuidar atentamente da saúde, construir novas estradas. De fato, o papel da prefeitura é zelar pelo bem-estar básico da população e garantir que a cidade seja funcional e próspera. O desejo do eleitor nem sempre consegue espelhar as reais necessidades locais. Por isso, a FOLHA convidou analistas políticos que conhecem Londrina para opinar sobre quais as prioridades que o próximo prefeito, que será escolhido no mês que vem, terá que adotar no mandato que se inicia em janeiro.

Imagem ilustrativa da imagem Analistas políticos apontam questões que devem preocupar o próximo prefeito
| Foto: Roberto Custódio

LEIA MAIS

Pesquisa aponta tendência de vitória de Belinati no primeiro turno

Boca Aberta tem o maior índice de rejeição

Sob o ponto de vista do cientista político Mário Sérgio Lepre, professor da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), o fator fundamental para a cidade é o desenvolvimento e a geração de empregos. “Ainda temos um modelo que precisa de mais desempenho do administrador. Acho que essa é a pauta bastante forte. Comparando com outras cidades do mesmo porte de interior, acho que é uma grande falta que temos”, apontou.

De forma complementar, o professor da UEL (Universidade Estadual de Londrina), o cientista político Elve Cenci, alerta para o número crescente de famílias que vivem em situação de pobreza na cidade. Para ele, esse é o problema mais concreto a ser enfrentado. “São 52 mil famílias. Aproximadamente 170 mil pessoas vivendo em pobreza ou extrema pobreza. É preciso pensar políticas públicas em vez de discutir questões de gênero ou cunho religioso. Refazem o mito do ufanismo da Londrina rica, mas, quando se tira o verniz, esse é o número de pessoas que têm uma vida miserável”, disse, enfaticamente.

PANDEMIA

Os efeitos provocados pela pandemia da Covid-19 também causam preocupação. A reação aos problemas e o plano para manter Londrina nos eixos são foco da análise do professor Clodomiro Bannwart, de Ética e Filosofia Política na UEL. “É necessário um bom prefeito que saiba assegurar, por meio de diálogo franco, inclusivo e participativo, o equilíbrio entre o poder público, o setor econômico e a sociedade em geral, a fim de garantir processos decisórios que minimizem os impactos da pandemia e ofertem alternativas ao futuro”, afirmou.

Em uma comparação, Bannwart apontou que o próximo prefeito precisa funcionar como uma espécie de GPS, com a capacidade de estar conectado de forma sistêmica, e ser resiliente e capaz de ouvir a voz da sociedade para reorientar projetos e planejamentos. “Deverá ter o diálogo permanente, a capacidade para analisar e compreender as demandas e os desafios de uma cidade prestadora de serviços que acolhe no seu entorno mais de dois milhões de habitantes e que gerencia um orçamento que ultrapassa a dois bilhões de reais”, concluiu.

PREVIDÊNCIA

Além de questões de planejamento e das características de um bom gestor público, a cidade precisará do enfrentamento prático como o deficit financeiro da Caapsml (Caixa de Assistência, Aposentadoria e Pensões dos Servidores Municipais de Londrina). Somente no ano passado, a prefeitura repassou ao fundo R$ 239 milhões, sendo 152 referentes à conta patronal e parcelamento de dívidas. “É preciso equalizar a questão, tem que ter uma visão de diminuição do custo da administração. Ela é onerosa demais. Há muito o que alterar para que se torne também uma estrutura mais ágil e dinâmica”, afirmou Lepre.

O orçamento municipal deve ser um problema sério a se enfrentar, conforme lembrou Elve Cenci. Na opinião do analista, a perspectiva de planejar o orçamento com os valores de 2019 foi um cenário preocupante. “O prefeito vai trabalhar com menos dinheiro que teve em 2020, outro problema. Vamos ter efeitos de longo prazo da pandemia, que serão sentidos com o fim da pandemia. Será um período difícil”, apostou.