HIV: epidemia banalizada
Ministério da Saúde estima que 135 mil pessoas infectadas pelo vírus HIV ainda não tiveram acesso ao diagnóstico
PUBLICAÇÃO
sábado, 30 de novembro de 2019
Ministério da Saúde estima que 135 mil pessoas infectadas pelo vírus HIV ainda não tiveram acesso ao diagnóstico
Viviani Costa - Grupo Folha
Aos 28 anos, Roni Lima havia concluído a graduação em Administração quando soube que era portador do vírus HIV. “Eu estava vivendo um período em que você já tem boa parte da sua formação profissional e sabe bem o que quer. Simplesmente ali veio aquele balde de água fria. ‘Hoje você não é mais só o Roni, com todo esse potencial. A partir de agora você é o aidético, o gay que teve o pecado capital, a sentença e a punição de ter uma doença que não tem cura’. É mais ou menos assim. Se não fosse a minha família e a própria Alia [Associação Londrinense Interdisciplinar de Aids] me acolher e me orientar em relação a tudo isso, eu não estaria mais aqui como muitos amigos meus não estão. Só nesse ano perdi oito”, lamenta hoje, aos 52 anos.
Envolvido nas ações de prevenção e orientação sobre a aids, Lima atua como coordenador da associação em Londrina. O momento atual, segundo ele, preocupa, já que faltam investimentos partindo de todas as esferas (Federal, Estadual e Municipal) para implantar propostas efetivas e integradas de combate à doença, além de campanhas de esclarecimento que eliminem estigmas, preconceitos e a morte social pela qual passam os diagnosticados com o vírus HIV.
“A Saúde nunca vai dar conta dessa epidemia sozinha. Outras políticas setoriais como a Educação e a Assistência Social precisam ter isso como ponto primordial em suas ações. Outro elemento importante é a garantia do estado laico de direito. Esse tem sido um dos impedimentos para enfrentarmos não só a epidemia de aids, mas também questões de equidade de gênero, de diminuição da violência e de negligência com populações historicamente abandonadas”, alerta.
Dados divulgados pelo Ministério da Saúde apontam que o número de mortes por aids caiu em todo o País. No ano passado, 10,9 mil pessoas morreram com a doença. Em 2014 foram registrados 12,5 mil óbitos. Porém, ainda em 2018, o Ministério da Saúde contabilizou 37 mil novos casos de aids e quase 44 mil novos casos de infecção por HIV.
O governo federal estima que 135 mil pessoas sejam portadoras de HIV no Brasil, mas desconheçam o diagnóstico. Nem todos os portadores do vírus desenvolvem a aids e podem passar anos sem apresentar sintomas da doença. Nesta sexta (29), o Ministério da Saúde lançou uma campanha para reforçar a importância da realização de testes rápidos que identifiquem a presença do vírus no organismo.
O Dia Mundial de Luta contra a Aids, celebrado em 1º de dezembro, traz à tona desafios e conquistas ao longo da trajetória de combate à epidemia. Conscientizar os jovens está entre as principais metas, já que, no último ano, pouco mais da metade das infecções por HIV registradas no País (52,7%) ocorreu na faixa etária de 20 a 34 anos.
“O jovem não presenciou a descoberta dos primeiros casos quando os ídolos morriam e ficou essa lacuna”, avalia a chefe da Divisão de Infecções Sexualmente Transmissíveis da Sesa (Secretaria de Estado da Saúde), Mara Franzoloso. O Paraná notificou 18.763 casos de HIV entre 2007 e 2017. Destes, 66,2% estavam na faixa etária entre 20 e 39 anos.
“A notificação de HIV passou a ser obrigatória [no Brasil] a partir de 2014 e a quantidade de casos quase dobrou. O Paraná foi pioneiro na descentralização dos testes rápidos de diagnóstico do vírus. Isso reflete uma sensibilidade maior na busca dos casos e oportuniza a detecção”, ressalta.
Mais de 35 mil pessoas no Estado fazem uso dos medicamentos antirretrovirais ofertados pelo SUS, o que contribui para a redução no número de diagnósticos por aids e de óbitos pela doença. “A pessoa passa a ter uma boa qualidade de vida com carga viral indetectável e, por isso, intransmissível”, destaca a representante da Sesa.
Dentro das inúmeras limitações em termos de orçamento e de recursos humanos, os profissionais da saúde que atuam diretamente no combate às chamadas ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis) se desdobram para levar palestras e orientações de conscientização a eventos e locais públicos ou privados.
Em Londrina, 75 novos casos de HIV foram identificados entre janeiro e outubro deste ano. “Nós fazemos o que podemos. Executamos o Plano Municipal de Controle da Aids, fornecemos insumos, preservativos, folders, trabalhamos em campanhas, vamos até as empresas, levamos os testes rápidos e fazemos palestras. Quem teve uma relação de risco, deve procurar o CTA [Centro de Testagem e Aconselhamento] para fazer o teste rápido que identifica sífilis, HIV e hepatites B e C. A sífilis agora também é mais um desafio nacional. É mais uma epidemia que enfrentamos”, frisa a coordenadora, em Londrina, do Programa Municipal de IST/HIV/AIDS/Tuberculose/Hepatites Virais, Elizabeth Shibayana.
SERVIÇO
Centro de Testagem e Aconselhamento
Alameda Manoel Ribas, 1. Centro de Londrina.
O horário para realização de testes rápidos para HIV, sífilis e hepatites B e C é de segunda a quinta-feiras, das 8h às 10h
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