A cidade de Umuarama, no Noroeste, foi a segunda do País a receber a Certificação de Eliminação da Transmissão Vertical do vírus HIV (da mãe para o bebê). O reconhecimento pelo Ministério da Saúde foi anunciado em setembro durante o Congresso Latino Americano IST/HIV/Aids, realizado em Foz do Iguaçu (Oeste).

Segundo a coordenadora do Ambulatório de Infectologia da Secretaria de Saúde de Umuarama, Maria de Lourdes Gianini, a equipe do governo federal esteve na cidade no final do ano passado para checar as informações e avaliar os atendimentos prestados pela equipe.

“Foi um trabalho contínuo em equipe feito junto às gestantes. Elas eram encaminhadas e fazíamos o monitoramento da medicação e dos exames de rotina. Era importante que elas entendessem todas as orientações para não transmitir o vírus para o bebê”, explica.

A equipe multidisciplinar é formada por enfermeiras, assistentes sociais, infectologista, infectologista pediátrico e farmacêutica. Os integrantes realizam visitas domiciliares e frisam que as mães não podem amamentar os bebês. A transmissão do vírus, de mãe para filho, pode ocorrer durante a gestação, na hora do parto e na amamentação.

“O Departamento de Doenças Crônicas do Ministério da Saúde fornece o leite para as mães com HIV para que elas não amamentem. Aqui no ambulatório, quando falta um mês para acabar o leite, nós já fornecemos esse item.”

Em média, três gestantes portadoras do vírus são atendidas por ano no município. “O Ministério exige a documentação dos últimos cinco anos para constatar que não tivemos crianças infectadas por HIV nesse período. Estamos há oito anos sem infecção. A nossa maior dificuldade é com as que têm dependência química. Nesse caso, outros órgãos são acionados também para que a gente possa acolher e cuidar da mãe e da vida desse bebê.”

Todas as gestantes com o vírus são consideradas de alto risco. As crianças são acompanhadas pela equipe do ambulatório até completar 1 ano e 8 meses. São realizados exames de carga viral e outros acompanhamentos. “Nosso grande desafio agora e o de todo o País é combater a sífilis congênita, também transmitida de mãe para filho, na gestação.”

CURITIBA

Curitiba foi o primeiro município brasileiro a receber do Ministério da Saúde a Certificação de Eliminação da Transmissão Vertical do HIV de mãe para filho, em dezembro de 2017.

A capital paraense foi a primeira a comprovar o cumprimento dos indicadores e metas exigidos pelo órgão — entre eles, taxa de transmissão inferior a 0,3 para cada mil nascidos vivos e infecção de crianças expostas ao vírus inferior a 2%.

Em setembro deste ano, o município obteve a manutenção do certificado após comprovar a continuidade dos indicadores e da assistência às gestantes.

O índice de transmissão vertical mais recente calculado pela SMS (Secretaria Municipal de Saúde), de 2017, é de 1%. O dado de 2018 está sob análise, já que inclui um caso cujo pré-natal ocorreu quando a mãe ainda não morava em Curitiba.

Segundo a prefeitura, foram registrados 907 nascimentos de filhos de gestantes HIV positivo entre 2007 e 2017. A estimativa é que tenha sido evitada a contaminação em mais de 400, considerando-se que há transmissão em até 45% dos casos em que não há intervenção.

Na avaliação da secretária da SMS, Márcia Huçulak, o principal diferencial da prevenção da transmissão vertical em Curitiba é o programa Rede Mãe Curitibana, de atenção ao pré-natal, parto, puerpério e assistência ao recém-nascido. Implementado em 1999, o programa prevê o acompanhamento das gestantes desde o início da gravidez e inclui testes rápidos para HIV já na primeira consulta.

“Implantar a testagem de HIV em todas as gestantes em 1999 foi uma ação inovadora e até polêmica”, conta Huçulak, que é servidora da pasta desde 1986. “Hoje, já é rotina no pré-natal e está incorporado nos recursos que a gente recebe do Ministério”, explica, em entrevista à FOLHA.

Segundo a secretária, a prevenção da contaminação de bebês de mães HIV positivo inclui desde intervenções no pré-natal até a adoção de protocolos específicos no parto — garantida pela vinculação da gestante ao serviço de saúde onde irá dar à luz. “A equipe sabe que a mãe é HIV positivo e toma as medidas”, explica.

Huçulak diz que o acompanhamento das gestantes HIV positivo é constante e inclui alertas para as equipes responsáveis no caso de falta a consultas, por exemplo. “A gente nunca pode perdê-las de vista”, explica.

Para a secretária, além de ter adotado este tipo de ação precocemente, Curitiba tomou medidas além dos protocolos do Ministério da Saúde — incluindo o acompanhamento de gestantes em situação de rua com consultórios itinerantes. Segundo a secretária, a eliminação da transmissão vertical de HIV requer investimentos principalmente em capacitação por parte dos municípios. “

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