"Meu tempo é agora”, diz Fábio Vitturi, que está se permitindo realizar o sonho de investir na música autoral
"Meu tempo é agora”, diz Fábio Vitturi, que está se permitindo realizar o sonho de investir na música autoral | Foto: Divulgação

“Será que é isso aqui mesmo que eu quero realizar na minha vida?” Quando Fábio Vitturi, 47, se questionou, vivia rotina agitada como gerente de banco. Foram longos 15 anos até a decisão de largar a carreira para investir em algo que sempre quis fazer: trabalhar com música. Entre planos A e B, ele não sabe definir exatamente o lugar de cada um, mas se sente mais livre para viver o novo sem arrependimentos das escolhas passadas.

“Na época do vestibular eu queria tocar, sempre tive interesse em música, tive bandas, mas as circunstâncias não permitiam, até questão familiar e grana mesmo, eu precisava ter uma independência, então escolhi fazer economia”, conta. O curso era um dos poucos que casava alguns interesses, como a liberdade de trabalhar durante o dia e estudar à noite.

Durante a faculdade, passou por alguns estágios, mas terminou o curso desempregado. “Fiquei dois anos desempregado e uma amiga me chamou para trabalhar no banco. Entrei como assistente em um segmento que atendia empresas e fui promovido para o cargo de gerente”, recorda.

Pelo bom desempenho, era convidado por várias empresas bancárias diferentes, o que lhe garantiu uma boa recompensa financeira durantes os 15 anos que viveu essa rotina. “Eu acabei me dando super bem, fiz muitos amigos, melhorando o salário”, afirma. Em 2014 recebeu o convite para voltar a tocar. “Entrei no banco quando tinha 28 anos, eu me desliguei da música, tocava só em casa e em festa, mas foi uma coisa que sempre me pegou.” Em 2016, decidiu sair do emprego.

NEM TUDO SÃO FLORES

A música sempre foi sua paixão, portanto, a considera um Plano A que ficou engavetado enquanto executava o Plano B no banco. Tudo de maneira instintiva, sem pretensão de fazer a mudança. Até esse reencontro.

Mas como nem tudo são flores, quando optou por sair do banco para tocar em bar, se deparou com as infelicidades do novo projeto. “Tocando em bares eu descobri que toda profissão tem seu lado ruim. Quando você toca em bar, tem que desencanar de algumas coisas que você toca. Uma vez, eu me lembro de ter feito a reflexão, eu me senti um micro system, uma playlist, ninguém prestava atenção”, revela, lembrando ter passado pelos mesmos questionamentos de quando estava no banco.

Nesse período, também passou a perceber as dificuldades com o mercado da música e a sofrer preconceito de quem não entende que esse seja seu trabalho. “As pessoas perguntam: ‘mas você só faz isso?’ Como se isso não fosse uma profissão”, ri da própria circunstância.

O ENCONTRO

A experiência o levou a buscar novos caminhos para ser feliz de fato com a música. “Então eu voltei a compor e liguei para um amigo (o produtor musical Luciano Galbiati) para gravar. Nesse processo, me encontrei com alguns músicos para desenvolver o trabalho em conjunto e isso foi um divisor de águas para mim. É até emocionante, porque eu nem conseguia dormir na noite em que a gente fez o primeiro ensaio, rolou uma sinergia e virou a chave: 'é isso que eu quero fazer!'” O projeto musical sob o nome Vitturi está em desenvolvimento e será lançado ainda este ano. “É a ideia viver de música autoral, claro que é um processo lento, mas estou confiante.”

Com a incerteza desses dois anos, o artista planejou obter a cidadania italiana para tentar o mercado fora. Mesmo já decidido pela música, ele foi ao País, onde está atualmente para retirar a documentação. Nesse tempo, vai aproveitar para se dedicar mais ao projeto e também viver novas experiências com a música.

BANCO NUNCA MAIS?

Foram dois anos difíceis até a descoberta. Vitturi até voltou a trabalhar com banco on-line em home office, foram nove meses para ter certeza de que não era aquilo mesmo que ele queria fazer. Nem por isso, se arrepende. “Eu trabalhei a vida inteira para ter uma vida mais tranquila, hoje eu tenho estabilidade. Às vezes eu acho que está tarde, tenho 47 anos, mas meu tempo é agora”, defende.

E também não pensa ter demorado para se entregar a uma paixão tão antiga. “Naquele tempo, a minha prioridade era ter dinheiro para me sustentar e ter certa estabilidade. Tem gente que tem confiança, eu prefiro sempre andar com cuidado e planejar. Não é questão de ter medo, mas esperar a hora a certa”, afirma com o respeito sobre as escolhas individuais. “Tem gente que precisa ter muito para ser feliz, eu poderia continuar, mas vai da cabeça de cada um. Eu recomendo buscar sempre o que te realiza naquele momento”.

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