“Esse ano não conseguimos despolpar o café. Não é possível fazer café exportação, nem bebida de qualidade”, lamenta o administrador da fazenda  Jeandro Martins Siqueira
“Esse ano não conseguimos despolpar o café. Não é possível fazer café exportação, nem bebida de qualidade”, lamenta o administrador da fazenda Jeandro Martins Siqueira | Foto: Ricardo Chicarelli

Duas propriedades , uma com a colheita quase finalizada e outra firme nos trabalhos, e nenhuma delas escapou do ataque da mosca-das-frutas. Nas palavras do administrador de uma delas, este ano a praga foi “devastadora”. Produtores de alto nível, com produtividade bem acima da média do Estado, mas que não vão conseguir entregar para os fornecedores o cereja descascado. Prejuízo na certa.

A fazenda Teolândia, do produtor Jorge Yooki Ito, possui 213 hectares, sendo 70 deles dedicados ao café. A propriedade é administrada por Jeandro Martins Siqueira, que recebeu a reportagem e mostra o número impressionante de moscas no cafezal. Há 20 dias para terminar a colheita – antecipada em um mês – ele salienta o impacto devastador da praga. “Esse ano não conseguimos despolpar o café. Não é possível fazer café exportação, nem bebida de qualidade. Ano passado tivemos 36% de café cereja. Este ano, não temos nada.”

Siqueira relata que o ciclo normal do fruto que demoraria um mês para ser realizado acaba acontecendo em sete dias com a larva se alimentando da polpa, fora que, segundo ele, até o café commodity perde qualidade. “Esse café cereja agregaria em média R$ 50 por saca”, estima. Ele também cita a questão da comercialização, que pode ter atrapalhado muito gente, principalmente quem fechou o cereja no mercado futuro. “Paga-se muito pelo café despolpado, mas como você faz um compromisso desse se não sabe se terá o produto? Algumas empresas até fazem o deságio (caso receba o café com menos qualidade), mas outras querem receber de qualquer foma”, relata ele. A propriedade deve fechar com produtividade de 42 sacas por hectare. Em anos bons, chega a 55 sacas por hectare.

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No sítio Teixeira, o produtor Marcelo Valdevino da Luz possui 37 hectares de área própria e mais 32 hectares arrendados. De cara, ele já calcula que o calor exagerado – que chegou a 43ºC registrados na propriedade – auxiliou na quebra de 30% da produção já colhida, entre 30 e 35 sacas por hectare. “Perdemos a bebida, pois com a mosca não dá tempo de aproveitar o período do café cereja (acelera o processo). Então acabamos deixando de lado a commodity de exportação para focar na de consumo interno.”

O normal para Luz é trabalhar com 40% do total de café cereja. Essa ano, segundo ele, não fez 20%. Ele relata que não é possível fazer controle, nem o tradicional e nem o biológico. “Não dá para entrar pulverizando porque vai deixar resíduos, afinal, são inseticidas de contato. Já em relação à isca de controle, a área acaba sendo muito grande. Esse foi o pior ano convivendo com a mosca, foi demais”, complementa.