A cidade de Carlópolis, no Norte Pioneiro, está no mapa do agronegócio graças a sua produção de frutas – com destaque para a goiaba – e também os cafés de alta qualidade, gourmet, tipo exportação. Mas este ano, os cafezais sofreram um ataque forte de uma praga que, normalmente, está ligada justamente à fruticultura. A mosca-das-frutas – que tem incidência natural nesse tipo de área – e monitorada com rigor nos pomares diversos acabou atacando o café de maneira agressiva, algo bastante atípico, afinal, a praga é considerada secundária na cultura. Além de Carlópolis, o severo ataque do inseto foi constatado em lavouras nas regiões de Jacarezinho, Santo Antônio da Platina, Ribeirão do Pinhal, Ibaiti.

Com isso, o café cereja descascado simplesmente “sumiu do mapa” na região. As moscas atacam depositando seus ovos no fruto maduro ainda no pé, com as larvas ingerindo a polpa e acelerando seu processo de secagem, inclusive fermentando-o. Com isso, o produtor não consegue trabalhar com um produto diferenciado, perde qualidade de bebida e ainda por cima não fatura na comercialização, principalmente para fora do País. Por fim, não consegue fazer lotes especiais para concorrer em prêmios e concursos.

A reportagem da FOLHA Rural foi até Carlópolis para saber se a pressão da praga no café, de fato, foi atípica. Os depoimentos colhidos mostram o tamanho do prejuízo, não em volume de produção, mas, fundamentalmente, na qualidade. As fotos produzidas pelo fotógrafo Ricardo Chicarelli comprovam facilmente como a praga dominou os 5,5 mil hectares de café do município. Chega a assustar o número de moscas. Difícil dizer quem dos 700 cafeicultores escapou ileso do problema.

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O coordenador regional do Café da Emater, Otávio Oliveira da Luz, relata que há dois anos os produtores já estavam em alerta, mas neste ano a praga veio forte. “Nunca foi o caso de pensarmos em controle, já que geralmente ela ataca a goiaba e outras frutas, em áreas que os produtores fazem o controle biológico.”

icon-aspas “Tivemos um problema sério de calor forte, adiantou muito a colheita e não formou bem os grãos"

Isso aconteceu, segundo técnicos e pesquisadores, devido à colheita antecipada do café, associado às temperaturas elevadas, que auxiliam na reprodução da mosca. Como em outras culturas há controle, o café acabou sendo o alvo da vez. “Isso não atrapalhou a produção, mas comprometeu a qualidade. Houve um desequilíbrio. Quando ocorre a explosão de uma praga, precisa ser avaliado, entrar em contato com entomologistas, universidades, para auxiliar na tomada de decisão e prevenir.”

Não bastasse esse ataque inesperado das moscas, o produtor enfrenta outros problemas na safra atual, como a própria colheita antecipada e o preço baixo do café commodity, inferior aos custos de produção. “Tivemos um problema sério de calor forte, adiantou muito a colheita e não formou bem os grãos. Teremos peneiras baixas, quantidade maior de defeitos, e uma quebra de produção de 25% a 30%”, complementa Luz.