Aos 73 anos, a secretária executiva aposentada Ivete Fernandes já não lembra mais das câimbras constantes que sentia, principalmente na hora de dormir. “Tinha dia que era difícil, os músculos retraíam todos”, relata. Essa melhora tem motivo e constância, ela é uma das 80 integrantes de um projeto desenvolvido na UEL (Universidade Estadual de Londrina), que oferece treinamento de força muscular para idosas a partir dos 60 anos. O objetivo é entender o efeito das atividades na saúde de pessoas nesta faixa etária.

A iniciativa existe há cerca de dez anos, no entanto, ficou paralisada nos últimos dois diante da pandemia da Covid-19, retornando em março deste ano. “É um projeto multiprofissional. Temos pessoas das áreas da nutrição, medicina, psicologia, fisioterapia, além dos educadores físicos”, conta o professor Edilson Serpeloni Cyrino, coordenador do projeto e professor do Departamento de Educação Física da instituição. “É um projeto que valoriza a tríade que sustenta a universidade: ensino, extensão e pesquisa.”

As mulheres – que vivem em Londrina e na região - são divididas em três turmas e frequentam a academia de musculação no ginásio do Cefe (Centro de Educação Física e Esporte) três vezes por semana em dias alternados. Elas seguem um protocolo de exercícios que trabalha com todo o corpo, como braço, tronco e membros inferiores. “Em geral, quando a pessoa envelhece, ela perde a força no corpo inteiro”, destaca o docente.

A cada 12 semanas as idosas passam por avaliação, que tem duração de três semanas. São analisadas a força muscular adquirida, potência, resistência, velocidade de caminhada, aeróbica, entre outros indicadores. “Com os treinamentos, muitos desses indicadores conseguimos atenuar ou reverter o que foi perdido. Temos mulheres de 70 anos que têm condição de uma pessoa 20 anos mais nova. Isso é qualidade de vida, vive por mais anos, melhora a autoestima”, elenca.

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HIPERTENSÃO E DISLIPIDEMIA

Mais de 50% das mulheres que participam do projeto são hipertensas. A segunda patologia predominante é a dislipidemia (níveis elevados de gordura no sangue) e a obesidade, seguida de diabetes, osteoporose e ansiedade e depressão. “O exercício funciona em todas as idades, mas o custo benefício é maior para idosos. Fazemos o treinamento de força individualizado e de acordo com a necessidade de cada uma. Nossa métrica para o momento de aumentar o peso e em quais valores são os números de série, repetições e a qualidade do movimento.”

Imagem ilustrativa da imagem Treinamento de força muscular para envelhecer com qualidade de vida
| Foto: Pedro Marconi - Grupo Folha

Não existe prazo para permanecer no projeto, entretanto, é necessário ter 85% de frequência nas sessões. As atividades físicas são monitoradas por 22 estudantes de graduação e de pós-graduação em Educação Física e Ciências da Saúde.

LIBERAÇÃO MÉDICA

Todas as participantes têm anuência médica para as atividades, também de forma gratuita. "Elas passaram por avaliação de pressão alta e arritmia, fizeram esteira, eletrocardiograma”, pontua o cardiologista Ricardo Rodrigues, que é aluno do programa de doutorado do CCS (Centro de Ciências da Saúde) da UEL e tem uma clínica na cidade. “Temos estudo piloto com resultado positivo. Ou seja, a musculação rejuvenesce o coração de idosas”, frisa.

RESULTADOS

Segundo o professor Edilson Serpeloni Cyrino, as pesquisas relacionadas ao “Estudo Longitudinal Envelhecimento Ativo” chegaram a diversas conclusões ao longo da última década. “Vimos que o treinamento aumenta a força (nas mulheres idosas), reduz gordura, aumenta hidratação intracelular, aumenta ou mantém a densidade mineral óssea, reduz obesidade, melhora as funções cardíacas, pressão arterial, melhora a aptidão funcional, agilidade, potência. Ainda diminui a ansiedade e a depressão”, elenca.

PRODUÇÃO CIENTÍFICA

Mais de mil artigos internacionais já foram produzidos nas informações fornecidas pelo projeto. Número que representa 7% da produção mundial sobre este tema. “Aquilo que o exercício não tem poder de cura, tem poder de melhorar. Vemos a redução dos medicamentos, consultas e cirurgias”. Os estudos também geraram 45 trabalhos entre dissertações de mestrado, teses de doutorado, TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) e iniciação científica.

‘TENHO MAIS ENERGIA, FORÇA E NÃO SINTO DORES PELO CORPO’

A dona Maria Izabel Silva Pereira, 64, começou a frequentar o projeto para levar a mãe, Aparecida Camponez, 83. Mas em pouco tempo passou de acompanhante para integrante. Já são quatro anos fazendo exercícios físicos na UEL (Universidade Estadual de Londrina). “É ótimo participar, porque vemos a melhora. Não tomo remédio, me sinto bem, não tenho dores”, contou. O desafio foi manter a rotina de atividades durante a pandemia. “Observei que minha mãe regrediu nesse período, com dores nas pernas e braços. Desde que o projeto voltou, não reclamou mais.”

Moradora da zona leste de Londrina, Anita de Lourdes Pavaneli, 73, atravessa a cidade para poder ir até a academia. “Participo do projeto desde 2014 e melhorou muito meu dia a dia. Tenho mais energia, força, não sinto dores pelo corpo. Tem me feito muito bem”, valoriza.

A iniciativa foca nas mulheres por conta das características da vida deste público, que ao envelhecer apresenta menos força, entre outros parâmetros, se comparado com os homens. “Iniciei no projeto neste ano, por meio de uma amiga, e tem sido muito importante. Não só para a parte física, mas para a cabeça. Tenho hipertensão e fiz todos os exames pelo projeto. Estou muito feliz”, resume Maria Anita de Jesus, 61.

“Podemos ficar muito tranquilos em recomendar o exercício físico para as idosas. Não tivemos nenhum caso de arritmia, nenhuma paciente com sintomas que apresentarem algo deletério, ou seja, efeito colateral. Vimos apenas benefícios. Temos que acabar com esse paradigma (de que idosos não podem fazer treinamento de força). Os idosos podem e devem fazer musculação”, ressalta Ricardo Rodrigues, cardiologista do Centro do Coração e que faz parte do “Estudo Longitudinal Envelhecimento Ativo”.

SERVIÇO - O projeto abrirá inscrições de 5/6 a 20/06. As interessadas deverão procurar o Laboratório de Metabolismo, Nutrição e Exercício do CEFE das 8h às 12h ou das 14h às 18h.

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