Desde o dia 20 de maio, o uso de narguilés está proibido por decreto municipal em Londrina. O equipamento é comumente compartilhado em grupo de pessoas e o seu uso foi vedado tanto em espaços públicos como privados com acesso ao público, com aplicação de multa. A medida foi tomada como prevenção ao novo coronavírus, pois o uso pode contribuir com a disseminação de doenças infecciosas. Médico pneumologista de Londrina comenta os riscos do dispositivo.

Imagem ilustrativa da imagem Narguilé é ainda mais perigoso em tempos de Covid-19
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“O narguilé é um mecanismo em que a pessoa inala uma substância, que por si só já é totalmente prejudicial ao pulmão, mais prejudicial que o cigarro”, comenta o médico pneumologista de Londrina, Denison Noronha Freire. Porém, quando se trata de transmissão de outras doenças, a situação é ainda mais arriscada. “As pessoas usam em conjunto, um passando para o outro; mas ainda que seja de uso individual, o fato de estar inalando o vapor e exalando já contamina o ambiente”, argumenta.

Doenças infecciosas, como tuberculose, H1N1 e o novo coronavírus, podem ser disseminados no uso. “A questão do coronavírus é que você vai inalar aquele vapor e [ao expirar] as gotículas vão ficar suspensas no ar, espalhando no ambiente. É o mesmo caso da pessoa que tem asma e fica com aparelho de inalação. Neste momento, é contra indicado o aparelho, porque espalha as gotículas. Hoje o asmático tem que usar a bombinha individual”, exemplifica.

Com isso, o médico explica que o vapor que é eliminado no ar pode afetar os fumantes passivos, que acabam inalando as partículas com o vírus, além do próprio hábito de consumo, pois o dispositivo é comumente compartilhado, passando de uma boca para a outra entre os participantes, também levando o vírus e outras doenças infecciosas.

EM MARINGÁ

Assim como Londrina, a Prefeitura de Maringá (Noroeste) também proibiu o uso do equipamento na cidade. Alessandra Diehl, psiquiatra especialista em dependência química e vice-presidente da Abead (Associação brasileira sobre Estudos do Álcool e Outras Drogas), afirma que os decretos que proíbem o uso de narguilé em local público e ambientes privados com acesso ao público asseguram o direito à saúde de todos nesse momento – fumantes e fumantes passivos.

"Existe uma associação muito forte com relação à vulnerabilidade dos consumidores de tabaco, além dos dispositivos de tabaco aquecido, como o narguilé e o crack, à infecção pelo novo coronavírus. Todas as drogas lícitas e ilícitas fumadas acabam por predispor a maior vulnerabilidade à doença, como já indicam pesquisas científicas em andamento”, relata Diehl.

PRESSÃO SOCIAL

Com o decreto, ela acredita que mais pessoas fiquem atentas sobre os riscos que os dispositivos e cigarros podem causar também aos não-fumantes. “Cabe a própria população fazer uma pressão social para que as pessoas não fumem em ambientes públicos e privados. Isso terá um impacto positivo, principalmente entre os jovens, que são os maiores consumidores de vaping e narguilé. A força da legislação pode diminuir riscos nessa faixa etária”, acredita.

Tanto a psiquiatra quanto o médico pneumologista destacam que o dispositivo, assim como o cigarro eletrônico, prejudica a saúde dos pulmões por si só. “Não tem modo seguro de uso, é bastante prejudicial, toda a literatura coloca que é mais prejudicial que o próprio cigarro”, afirma Freire.

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| Foto: Folha Arte

RODAS DE JOVENS EM LONDRINA

Jovens em Londrina têm insistido em realizar rodas de narguilé, mesmo depois da publicação do decreto municipal que estabelece a proibição do uso do equipamento. A reportagem encontrou pessoas se aglomerando ao lado de seus carros em ruas de pouco movimento ou então em frente de prédios de áreas nobres da cidade, sempre acompanhadas do consumo de bebidas alcoólicas.

Além disso, foi possível perceber que os jovens não estavam respeitando a distância segura uns dos outros e muitos deles estavam sem máscara ou com a máscara posicionada no queixo, o que na prática não possui efeito algum na prevenção da Covid-19, já que as gotículas de saliva podem percorrer até dois metros de distância.

De acordo com o decreto 602, publicado no dia 21, o uso desse tipo de equipamento está proibido em espaços públicos. Ambientes privados com acesso ao público também não podem permitir o uso dos narguilés, mesmo ao ar livre. A regra determina uma multa de R$ 300, caso haja descumprimento. Em espaços privados que permitirem o uso dos narguilés, a multa varia entre R$ 1 mil e R$ 100 mil, e é estabelecida de acordo com o tamanho da área da empresa. Se o decreto for descumprido mais de uma vez, o valor das multas pode dobrar.

EM ANDIRÁ

Recentemente, em Andirá (Norte Pioneiro), um jovem, que havia assinado um termo de isolamento por ser suspeito de ter contraído a Covid-19, recebeu nove amigos em casa para fumar narguilé. Tal reunião obrigou a secretaria municipal de Saúde a realizar testes da Covid-19 em 19 pessoas e outras 34 pessoas que entraram em contato com os participantes dessa roda de narguilé também foram obrigadas a assinar um termo de isolamento e estão sendo monitorados. Até então o município de Andirá havia registrado seis casos de Covid-19 confirmados, dos quais dois se recuperaram e outros quatro ainda estão sendo monitorados.

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) mesmo casos assintomáticos da Covid-19 podem transmitir a doença. Acredita-se que pelo menos um entre quatro pessoas que foram contaminadas não desenvolve sintoma algum. (Colaborou Vítor Ogawa)