O que para muitos poderia ser o fim, o Instituto Não Me Esqueças ressignifica para que se torne um recomeço. A entidade sem fins lucrativos busca a manutenção do direito das pessoas com demência e seus familiares e apostando na qualidade de vida. “O Alzheimer é uma nova fase da vida da pessoa e da família. Quando isso é aceito, a trajetória será menos pesarosa e difícil”, destaca Elaine Mateus, vice-presidente da instituição e uma das fundadoras.

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O instituto nasceu em 2017, a partir da iniciativa de um grupo de mulheres que cuidavam de mães com Alzheimer, uma doença neurodegenerativa, progressiva e ainda sem cura. “Em 2015 começarmos com campanhas no mês de setembro (Mês Mundial do Alzheimer) e veio o desejo de consolidar a atividade por meio da fundação do instituto”, relembra.

Atualmente, a entidade que tem sede na rua Uruguai, centro de Londrina, oferece serviço de estimulação cognitiva para pessoas com diagnóstico da doença, grupos de apoio para familiares e formações psicoeducativas. Tudo de forma gratuita.

As atividades de estimulação acontecem diariamente e contam com psicólogo, psicopedagoga e fisioterapeuta, que propõe exercícios neuropsicológicos para trabalhar capacidades que vão ficando frágeis com a progressão do Alzheimer. “São atividades que trabalham a atenção, o aspecto social da interação, parte motora. Atividades que exercitam o cérebro. Do mesmo jeito que pensamos na academia para fortalecer a musculatura do corpo, essas atividades ajudam no fortalecimento das conexões neurais”, detalha.

Imagem ilustrativa da imagem Instituto londrinense Não Me Esqueças completa seis anos
| Foto: Gustavo Carneiro

80 FAMÍLIAS POR MÊS

As pessoas que vivem com demência, e que integram o projeto, podem participar até duas vezes por semana. Em média, 80 famílias são atendidas por mês. “Para acessar o serviço de estimulação é preciso preencher um formulário na nossa sede e a partir dele fazemos o contato e agendamos o início da participação nas oficinas”, orienta. As palestras e grupos de apoio são abertos para o público em geral.

Eliane Mateus – que também é presidente da Febraz (Federação Brasileira das Associações de Alzheimer) - destaca que o tratamento não farmacológico repercute positivamente na vida das pessoas e, por consequência, dos responsáveis pelo cuidado. “Recebemos a pessoa com a demência junto com o familiar e para este familiar é um momento terapêutico, de criar novos laços, trocar experiências”, elenca. “É um espaço de socialização”, acrescenta. Não existe cura para o Alzheimer.

IMPACTOS

De acordo com o Ministério da Saúde, cerca de 1,2 milhão de pessoas vivem com alguma forma de demência no Brasil e 100 mil novos casos são diagnosticados por ano. A doença atinge, majoritariamente, a população acima dos 65 anos, impactando a memória e linguagem e provocando alterações no comportamento, personalidade e humor. Adultos também podem ser diagnosticados. “São casos mais raros, cerca de 2% da população tem demência precoce. Temos no instituto, por exemplo, três pessoas com menos de 60 anos com diagnóstico de Alzheimer.”

AUTOCUIDADO

Os sintomas da doença podem ser divididos em três fases: leve, moderada e avançada. Um desafio que demanda cuidado mútuo. “É uma condição com qual a família passará a conviver a partir do diagnóstico. É necessário se readequar à nova condição, entender que a vida desta família vai passar por um processo de mudança e adequações. Reaprender o modo de viver e se preocupar com o autocuidado. Só é possível cuidar de alguém se está bem consigo mesmo”, ressalta.

‘Cada dia é como se fosse a primeira vez’

Engenheiro civil aposentado, Adil Segantin, hoje com 65 anos, foi diagnosticado com demência há cerca de dois anos. “Ele começou a esquecer, deixou de fazer algumas atividades ou apresentava dificuldades”, conta a esposa, a também engenheira civil aposentada, Helena Segantin. Há três meses foi identificado que a demência se trata de Alzheimer. “Ele não lembra das atividades atuais. Se faz algo hoje, amanhã não lembra. Cada dia é como se fosse a primeira vez”, resume.

Adil frequenta o Instituto Não Me Esqueças, onde participa das ações de estimulação cognitiva. A família ficou sabendo da instituição após ler uma matéria da FOLHA, no ano passado. “É um bom estímulo. Ele vê gente, todos o conhecem, conversam. Isso incentiva a pessoa a se relacionar e executar atividade que de outra forma não faria”, valoriza.

Benefício que Helena também enxerga para os acompanhantes. “Falo que esse projeto é mais para os acompanhantes do que para eles. Nós interagimos, conversamos e desliga um pouco de outras questões. É um tempo muito bem para eles e para nós”, comenta. Ela participa das reuniões com outras famílias que têm pacientes com demência. “É uma troca de experiência. Cada processo é diferente e cada fase apresenta comportamentos distintos. É uma adaptação diária.”

SERVIÇO – O instituto fica na rua Uruguai, 759, centro. O site é naomeesquecas.org.br e o telefone (43) 99155-5747 (WhatsApp).

Imagem ilustrativa da imagem Instituto londrinense Não Me Esqueças completa seis anos
| Foto: Folha Arte

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