São Paulo - Antes de retomar a academia, a corrida ou até os exercícios com menor impacto, especialistas sugerem que os praticantes de atividades físicas e esportivas que tiveram Covid-19 passem por uma avaliação cardiológica chamada APP (avaliação pré-participação). A regra independe da performance ou do nível da atividade.

Segundo Agnaldo Piscopo, diretor do Centro de Treinamento em Emergências Cardiovasculares da Socesp (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo), a doença pode pode ter gerado sequelas cardiovasculares (sintomáticas ou não). Mesmo quem teve a doença leve ou moderada é recomendado que passe por avaliação.

É o caso da miocardite, uma inflamação no coração. A doença, que pode ser silenciosa, leva à insuficiência cardíaca aguda. Os principais sintomas são falta de ar e cansaço fácil.

"Nós temos encontrado um número grande de pacientes que tiveram a Covid e apresentaram um cansaço inexplicável. Quando vão ao consultório, estão diante de uma insuficiência cardíaca em decorrência da miocardite. Acometidos pela Covid-19 também têm mais chances de desenvolverem arritmias, insuficiência cardíaca, além de um risco maior de doença arterial coronariana", explica Piscopo.

Segundo o cardiologista e intensivista Gustavo Eder Sales, coordenador-chefe da UTI (unidade de terapia intensiva) do Hospital Albert Sabin, além da miocardite, muitos pacientes apresentaram arritmia após a infecção pelo coronavírus. O distúrbio também pode ser assintomático.

"Durante o esforço na atividade física, a pessoa pode precisar mais do coração e ter uma complicação. Nem toda arritmia causa morte súbita, mas pode trazer complicações. Como o músculo bate descompassado, perde a função e fica mais dilatado. Isso faz gerar mais arritmia. É como se fosse um círculo vicioso", explica Sales.

Outra possibilidade é a ocorrência de um AVC (Acidente Vascular Cerebral). "Como o coração não bate direito, forma coágulos que podem ir para outra parte do corpo", completa Sales.

ETAPAS

De acordo com Piscopo, o primeiro passo é se submeter a uma anamnese, que pode ser feita por um clínico geral ou cardiologista. Depois, o paciente deverá passar por um exame clínico cardiológico.

Durante a investigação, é importante verificar se há sinal de insuficiência cardíaca, como inchaço dos membros inferiores, cansaço e falta de ar ao fazer pequenos ou médios esforços ou esforços progressivos.

Completam a lista de exames recomendados a ausculta cardíaca, o eletrocardiograma, o ecocardiograma - se houver suspeita de alguma doença cardíaca— e o teste de esforço. Pessoas com suspeita de miocardite também devem fazer uma ressonância magnética do coração.

CARGAS MAIS LEVES

Mesmo com a saúde do coração em dia, a volta para as atividades deverá ser progressiva e com cargas mais leves. "Antes do retorno para a academia, à corrida ou à caminhada, pergunte-se: estou bem para voltar à atividade física que sempre fiz?", diz Piscopo.

Para Páblius Staduto Braga, médico especialista em medicina do esporte pela SBMEE (Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte) e pela Associação Médica Brasileira, caminhar e pedalar sem alcançar altos níveis de fadiga e exaustão são atividades indicadas para o recomeço de atividade física.

Ele chama a atenção para o cuidado que se deve ter com a corrida, se nunca praticou. Para os iniciantes, o ideal é alternar caminhada e pequenos trotes. Opte por distâncias curtas. "A corrida emagrece, mas se você nunca fez não vá simplesmente sair correndo", alerta. "Mesmo que não tenha problema cardíaco, ultrapassar o limite pode trazer doenças e lesões", afirma Braga.

ALERTAS E DICAS

Outro alerta importante é para possíveis doenças que a pessoa possa ter adquirido sem saber durante o tempo em que ficou sedentária, como por exemplo a hipertensão. Faz toda a diferença para o corpo se exercitar com frequência e parar de repente.

"As pessoas querem bem-estar, fazer atividades que proporcionam prazer e boas experiências, mas sem limite. Tome cuidado. Fique atento ao seu corpo, ao cansaço acentuado, e a sintomas que não apresentava antes. Valorize as dores. Se sentir, procure imediatamente um especialista", orienta Braga.

"Às vezes, é melhor dar um passo para trás e voltar aos poucos do que passar do limite e ter problemas mais para a frente", acrescenta. "Vale o alerta: respeite seu corpo, o que você trata e os sintomas que não conhecia."

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