Washington - As autoridades de saúde dos Estados Unidos planejam atualizar as diretrizes de administração de vacinas com tecnologia de RNA mensageiro para adolescentes e jovens adultos devido a alguns casos de problemas cardíacos, mas insistem que os benefícios superam os riscos.

Imagem ilustrativa da imagem EUA alertará sobre possíveis problemas cardíacos em jovens por vacinas anti-Covid
| Foto: Mandel Ngan / AFP

A decisão foi anunciada durante reunião de especialistas convocada nesta quarta-feira (23) pelos CDC (Centros de Controle de Doenças) do país, na qual foram analisados 323 casos de miocardite e periocardite em menores de 30 anos. Essas doenças são, respectivamente, uma inflamação do músculo cardíaco e da membrana cardíaca que o envolve.

Entre as pessoas afetadas, 309 foram hospitalizadas, sendo que 295 já tiveram alta e nove ainda estão internadas; dois delas em unidades de terapia intensiva. Sobre os outros cinco não há dados. Os casos ocorreram principalmente em homens, a maioria após a segunda dose e não há mortes confirmadas.

Os dados são de 11 de junho, quando mais de 50 milhões de doses das vacinas de RNA mensageiro da Pfizer e Moderna haviam sido injetadas em pessoas entre 12 e 29 anos nos Estados Unidos.

Embora a quantidade de casos seja baixa, é maior do que o esperado para essa faixa etária e os pesquisadores estão tentando descobrir os motivos. "A miocardite é uma doença rara, mas não é nova", observou Matthew Oster, membro da força-tarefa de vacinas contra a covid-19 do CDC. Segundo ele, o índice estimado de miocardite é de cerca de 0,8 a cada 100 mil crianças por ano.

Oster afirmou que a doença pode ser causada por um vírus, mas também podem haver outros agentes que a provoquem. "Parece que as vacinas de RNA mensageiro podem ser um novo fator de miocardite", disse.

De acordo com os CDC, para cada 1 milhão de segundas doses aplicadas em adolescentes entre 12 e 17 anos, podem ser evitados 5.700 casos de covid, 215 hospitalizações, 71 internações sob terapia intensiva e duas mortes. Da mesma forma, entre 56 e 69 casos de miocardite podem ser esperados após as vacinas.

"Atualmente, os benefícios superam claramente os riscos da vacina contra a Covid em adolescentes e jovens adultos", disseram os cientistas na reunião.

Os CDC e a Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA) planejam adicionar aos rótulos alertas sobre os potenciais riscos.

Se alguém sofrer de periocardite após a primeira dose, deve esperar que os sintomas desapareçam e consultar o médico antes de receber a segunda; segundo o rascunho da instrução que está sendo concluída.

Quem sofrer de miocardite após a primeira dose deverá notificar a situação e adiar a segunda até que mais informações sejam obtidas.

LEIA TAMBÉM:

- Anvisa autoriza vacina da Pfizer para jovens de 12 a 15 anos

- Infectologista do HU alerta que imunização só é garantida após segunda dose

CASOS LEVES

Os especialistas independentes presentes na reunião virtual concordaram com as conclusões, embora alguns tenham sido mais cautelosos. Se um paciente desenvolver periocardite após a primeira dose, "hesitaria em dar-lhe a segunda dose da vacina de RNA", afirmou Pablo Sanchez, professor de pediatria da Universidade do Estado de Ohio e do Hospital Nacional Infantil.

Embora crianças tenham sido menos afetadas pela Covid do que adultos, o vírus causou a hospitalização de 3 mil menores de 18 anos nos Estados Unidos e 300 mortes, segundo dados oficiais. Cerca de 2.700 pessoas com menos de 30 anos morreram da doença.

As vacinas de RNA mensageiro têm se mostrado altamente eficazes. Além de manter as crianças a salvo agora, os pediatras desejam protegê-las de possíveis efeitos de longo prazo, como um curso prolongado da doença ou uma complicação pós-viral chamada Síndrome Inflamatória Multissistêmica.

Antes da reunião, Monica Gandhi, especialista em doenças infecciosas e saúde pública da Universidade da Califórnia, em São Francisco, apontou que os Estados Unidos foram muito mais longe do que outros países na imunização de adolescentes.

Isso inclui Alemanha e Israel, que recomendam a vacinação apenas de adolescentes em risco grave, enquanto o Reino Unido está analisando as informações antes de tomar uma decisão.

Receba nossas notícias direto no seu celular! Envie também suas fotos para a seção 'A cidade fala'. Adicione o WhatsApp da FOLHA por meio do número (43) 99869-0068 ou pelo link wa.me/message/6WMTNSJARGMLL1