Você tem perdido muito tempo no trânsito? Já evitou sair a pé por causa da falta de calçadas no trajeto? Algum idoso da sua família já se machucou na rua? Quanto tempo dura a sua paciência esperando um ônibus no ponto? Já pensou em comprar uma bicicleta? Tudo isso tem a ver com a mobilidade urbana, um tema importante e que está muito mais próximo dos habitantes das cidades que dos escritórios de urbanistas ou do discurso dos especialistas. A maneira como nos descolamos tem tudo a ver com a qualidade de vida e Londrina já anda preocupada com isso, com planos para melhorar o modo como os londrinenses se movem por aqui, nos próximos 25 anos.

Imagem ilustrativa da imagem Um plano de mobilidade e de qualidade de vida
| Foto: Gustavo Carneiro

O PlanMob é o Plano de Mobilidade da Cidade, encomendado pelo Ippul (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina) à LOGIT, empresa especializada em consultoria de engenharia de transportes e de planejamento urbano e veio para atender à Lei Federal 12.587/2012 que exige que cidades com mais de 20 mil habitantes tenham um plano desse tipo, atendendo às exigências da Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU).

A partir de uma extensa pesquisa, o plano elaborado pela LOGIT revela alguns pontos interessantes não só para os gestores públicos, mas também para o cidadão comum. Reflexões mais conscientes, de como estamos vivendo a mobilidade nas nossas próprias cidades, podem ajudar no desenho de soluções de problemas que são comuns a todos.

O Plano de Ação para a melhoria da mobilidade urbana está apoiado em seis eixos: transporte coletivo, uso de bicicletas, pedestres, segurança viária e moderação de trafego, sistema viário e trânsito – representado pelo Plano de Obras e por último, o fortalecimento institucional e adequação da própria legislação. A consolidação e continuidade das diretrizes do Plano de Mobilidade depende muito do fortalecimento do próprio Ippul e dos órgãos de gestão urbana.

De acordo com Tadeu Felismino, presidente do Instituto, a partir da análise da divisão modal de transporte é possível perceber que hoje, em Londrina, mais de metade das viagens é por meio de transporte motorizado privado, que respondem por 55% do total das viagens, contra apenas 18% das feitas por transporte público.

“Um aspecto de grande prioridade e preocupação é a baixa utilização do transporte coletivo, com apenas um quarto das viagens motorizadas. Londrina tem um sistema de transporte ótimo e que é pouco utilizado. Esse plano está muito focado no fortalecimento do transporte coletivo. O uso de bicicletas também é muito pequeno, feito só para 1,1% das viagens. Esse é um outro modal prioritário no Plano de Mobilidade”, diz.

Outro dado que chama atenção é o percentual de 23% dos deslocamentos realizados a pé. Além de representar o envelhecimento da população, continua Felismino, o alto índice de pedestres nas ruas também indica um empobrecimento. “Aqui estão os excluídos de qualquer modal, as pessoas sem renda e esses indivíduos são uma preocupação tanto para as políticas de mobilidade quanto para as políticas públicas em geral”, afirma.

A projeção populacional de Londrina aponta um crescimento de quase 30% nos próximos 20 anos e um aumento de 120% no número de idosos. Se por um lado, os idosos não costumam de locomover por motivos de trabalho ou estudo, reduzindo o movimento nos horários de picos, o estilo de vida vai exigir uma melhoria das calçadas, uma das diferentes condições de mobilidade que esse público exige.

“O Plano de Mobilidade dá grande ênfase no melhoramento das condições para os pedestres ao facilitar a acessibilidade. Uma das ações é a criação das Rotas Acessíveis, com prioridade numa primeira etapa, até 2025, de 58 km de calçadas, e até 2030, com 33 km de calçadas em toda a cidade”, revela.

O Plano de Mobilidade conversa com o Plano Diretor e indica a necessidade de se diminuir a distância nos deslocamentos. A cidade cresceu esparramada, com um impacto direto nas políticas urbanas e da qualidade de vida. “Ainda praticamos uma política habitacional, de interesse social, que coloca pessoas de baixa renda em pontos mais distantes da cidade. Isso aumenta a ineficiência dos deslocamentos e gera uma perda de tempo precioso. Esse estudo calculou todos os pontos de atraso, demora e congestionamento, calculando um custo social dessa expansão desorganizada que chega a R$ 30 milhões por ano, isso sem considerar os custos de infraestrutura, transporte e saneamento. Para se ter uma ideia, todas as obras realizadas em Londrina em 2019 e 2020 custaram R$ 30 milhões. Ou seja, um desperdício com um valor que poderia ser investido diversamente, todos os anos. Culpa da ineficiência e irracionalidade desses deslocamentos na Cidade”, explica o presidente do Ippul.

Segundo Felismino, o Plano Diretor e na sequência, a Lei de Uso e Ocupação de Solo e a Lei de Sistema Viário, busca uma expansão induzida, adensando as regiões centrais. “Temos muitas regiões próximas ao centro de Londrina com excelente infraestrutura e que se encontram degradadas, deprimidas. Um dos objetivos dessa legislação é promover e favorecer, por meio das políticas públicas, o adensamento dessas regiões”, diz.

Outra diretriz é multiplicar as centralidades - não considerar apenas o Centro Histórico, mas consolidar outros como já acontece na Zona Norte com a Saul Elkind, na Gleba Palhano e em outras regiões. “O objetivo é favorecer o cidadão para que ele possa fazer tudo a pé, evitando o uso do transporte motorizado. Com isso reduzimos custos, tempo e poluição e consequentemente, melhora a qualidade de vida e a eficiência da cidade”, avalia.

Ainda sobre essas novas centralidades, Felismino diz que está previsto algo desse tipo entre os distritos de Irerê e Paiquerê, com a criação de diversos serviços de apoio para evitar que os moradores da zona rural venham para a sede do município. “Corredores industriais na PR-445, com a implantação do Contorno Norte. A avenida Brasília passa a ter outras possibilidades de destinação. Todas essas possibilidades chegam com o estudo do Plano de Mobilidade”, completa.

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Já uma realidade desde o início do segundo mandato da atual administração, o PlanMob quer o fortalecimento do transporte público e o incremento do uso das bicicletas para a locomoção. Esses seriam pontos estratégicos para a melhoria da mobilidade em Londrina. Um dos objetivos é que pelo menos 25% das viagens motorizadas na cidade sejam por meio do transporte coletivo - atualmente isso gira em torno dos 18% e o ideal, ficaria perto dos 40%.

“Corredores exclusivos vão formar uma rede estratégica de transporte coletivo para tornar o serviço mais ágil”, conta Felismino. Isso também significa um investimento em obras viárias e intervenções na infraestrutura e na operacionalidade do sistema, priorizando a circulação dos veículos de transporte. O Plano, ainda prevê 380 km de ciclovias, bicicletários nos terminais de ônibus para a integração e 224 pontos de paraciclos – lugares para “estacionar” a bike. Mas tudo isso, com um longo prazo para a implementação: 25 anos.

“Uma das estratégias para reduzir a motorização do sistema viário de Londrina é dotar a cidade com uma extensa rede de ciclovias para que esse modal tenha maior participação nos deslocamentos da população”, explica.

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