Imagem ilustrativa da imagem Óbitos por Covid-19 na faixa de 20 a 59 anos no Paraná crescem 357%
| Foto: Isaac Fontana/Framephoto/Folhapress

Os números da Covid-19 divulgados diariamente pelos boletins dos órgãos oficiais de saúde brasileiros apontam uma evolução das mortes entre a população mais jovem na segunda onda da doença, marcada pela circulação das novas cepas do coronavírus. Os números são confirmados pelos atestados de óbitos emitidos pelos cartórios de registro civil no país. Entre janeiro e março deste ano, os óbitos por complicações decorrentes da infecção pelo novo coronavírus cresceram 255% na faixa etária dos 20 aos 59 anos.

No Paraná, o crescimento dos óbitos entre o público mais jovem foi ainda maior. De janeiro para março, as mortes de pessoas na faixa etária dos 20 aos 59 anos subiram de 413 para 1.889, um salto de 357%. No mesmo período, os registros de falecimentos de idosos a partir de 60 anos tiveram um aumento de 159%, passando de 1.539 em janeiro para um total de 4.001 em março. Na comparação entre os dois meses, o número total de mortes cresceu 201%, passando de 1.962 no primeiro mês do ano para 5.925 no mês passado.

Londrina vive a mesma realidade e a Secretaria Municipal de Saúde já externou a preocupação com essa mudança no perfil dos pacientes infectados. Segundo balanço divulgado no fim de abril, os idosos ainda são maioria entre o número de mortes decorrentes da Covid-19, com mais de 950 óbitos entre os mais de 1,2 mil registros. Na faixa etária de 20 a 39 anos foram 45 mortes e entre 40 e 59 anos, 206 falecimentos. O levantamento refere-se aos números computados até o dia 25 de abril.

Em relação ao número de contaminados, no entanto, a população mais jovem se destaca. Entre o público de 20 a 39 anos de idade, são mais de 21,1 mil infectados e entre os 40 e 59 anos, 16,8 mil. Os idosos com diagnóstico positivo somam 7,7 mil. “O perfil da doença mudou muito do final de janeiro para cá. Nós tínhamos uma doença até janeiro que era agressiva e letal, na grande maioria das vezes, com idosos e pessoas com comorbidades. Com o advento da circulação das novas cepas, a gente percebeu uma mudança no perfil epidemiológico, de modo que a doença passou também a ser agressiva e letal em pessoas jovens, com ou sem comorbidades”, ressaltou o secretário municipal de Saúde, Felippe Machado.

O secretário destacou a preocupação com o aumento de óbitos até então fora da faixa de risco. Em março, um rapaz de 20 anos morreu em Londrina, vítima da Covid-19. Foi o paciente mais jovem, até o momento, a perder a vida por complicações da doença. “Em outras cidades, houve óbitos de crianças e adolescentes. Isso realmente mostra que a doença é uma doença grave e séria. A pandemia não acabou e as pessoas precisam tomar todos os cuidados.”

NO BRASIL

A Covid-19 não deixou de matar os idosos. Em número total de mortes, pessoas acima dos 60 anos ainda estão entre as principais vítimas da Covid-19, mas em termos percentuais, o avanço das mortes entre esse público tem sido mais lento do que entre aqueles que ainda não completaram 60 anos.

Os registros dos óbitos por Covid-19 estão disponíveis no Portal da Transparência do Registro Civil, cuja base de dados é abastecida em tempo real pelos atos de nascimentos, casamentos e mortes praticados pelos Cartórios de Registro Civil do país. Segundo as informações reunidas no site, entre janeiro e março de 2021, o maior aumento dos óbitos no Brasil se deu entre pessoas na faixa dos 30 aos 39 anos, com alta de 295%. Na sequência, está a população de 40 a 49 anos, com crescimento de 289% no registro de mortes, seguida pelo público de 20 a 29 anos e de 50 a 59 anos, com elevação de 259% e 230%, respectivamente.

No mesmo período, o ritmo de mortes entre os idosos diminuiu. Na faixa etária dos 60 aos 69 anos, o aumento foi de 174% e à medida que aumenta a idade, reduzem as mortes. Entre o público de 80 a 89 anos, as mortes cresceram 80% de janeiro para março e, entre 90 e 99 anos, a elevação foi de 34%.

Quando se analisa o total de mortes registradas mês a mês, os idosos ainda são maioria. Em março, por exemplo, das 58.702 mortes contabilizadas pelo Portal, 33% foram de idosos entre os 70 e os 79 anos, com 19.417 registros, e outros 33% eram pessoas na faixa dos 60 aos 69 anos, com 19.401 falecimentos. Mas os óbitos da população na faixa dos 50 aos 59 anos superaram a faixa dos 80 aos 89 anos. No primeiro grupo, foram 12.404 mortes, o que corresponde a 21% do total de óbitos atestados no mês passado, contra 11.936 falecimentos entre os octogenários, o que representa 20% do total de registros no mês.

De 1º a 31 de janeiro de 2021, os cartórios do país documentaram 6.704 mortes de pessoas de 20 a 59 anos de idade. Entre 1º e 31 de março, os óbitos nessa faixa etária deram um salto de 255%, totalizando 23.856 registros. Na faixa etária de 60 até maiores de 100 anos, foram 24.497 falecimentos em janeiro e 53.829 em março, alta de 119%.

DINÂMICA EPIDEMIOLÓGICA

A “dinâmica epidemiológica” explica em parte a mudança do perfil de infectados, avaliou o médico infectologista do Serviço de Epidemiologia do Complexo Hospital de Clínicas da UFPR (Universidade Federal do Paraná), Bernardo Montesanti. A elevação da transmissibilidade do vírus, avaliou, se dá pelo aumento da mobilidade e da interação física entre as pessoas. “Adultos mais jovens e crianças têm, naturalmente, maior interação do que os idosos”, destacou.

A pirâmide de contágio, observou Montesanti, tem em sua base as infecções. No meio, estão os casos que requerem internamento e, no topo, as mortes. Se aumenta a base da pirâmide, ou seja, o número de pessoas contaminadas, é certo que haverá crescimento no número de mortes. Com o aumento do número de jovens infectados pela Covid-19, é esperado que esse público comece a surgir com mais frequência nos obituários. “O idoso com infecção tem uma chance muito maior de ser internado e evoluir a óbito. Conforme vai aumentando a idade, vai aumentando o risco, exponencialmente. Entre os idosos contaminados, o risco de internamento é de 40% a 50% e a chance de morte é de quase 20%. O mais jovem tem uma chance menor de ser internado e morrer, mas se aumenta muito o número de jovens infectados, aumentam também as mortes entre eles.”

O crescimento acelerado do número de jovens adultos contaminados pelo novo coronavírus, destacou o infectologista, está relacionado ao relaxamento das medidas de isolamento e segurança. “Na primeira onda, estava todo mundo mais preocupado e todo mundo se resguardou mais. Nessa segunda onda, os adultos relaxaram mais que os idosos, que continuaram se cuidando.”

Montesanti não descarta também os efeitos da imunização em massa, que tem contribuído para reduzir as chances de óbito entre os idosos, que compõem o grupo prioritário. “Com o início da vacinação dos idosos, já era esperado ter redução das mortes.” (Colaborou Micaela Orikasa)

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