"Para enfrentar uma linha tão longa e tão diversa, é preciso amar ser motorista", destaca Cleber Lima
"Para enfrentar uma linha tão longa e tão diversa, é preciso amar ser motorista", destaca Cleber Lima | Foto: Fotos: Ricardo Chicarelli


A partir do Terminal Rodoviário de Londrina, é possível chegar ao extremo norte do Brasil e também aos confins do Rio Grande do Sul. Há linhas que levam os passageiros para outros países sul-americanos e também carros que chegam apenas aos municípios vizinhos. Entre os mais de 300 ônibus que passam pelo local diariamente, chama a atenção o que cumpre o trajeto mais longo. A linha São Félix do Xingu/Carazinho, da viação Helius, percorre 4.000 quilômetros entre o Pará e o Rio Grande do Sul transportando pessoas que, por motivos diversos, encaram longos trajetos de ônibus para chegar aos mais inusitados destinos.

Os motoristas da linha são de Carazinho e costumam viajar uma semana para percorrer o trecho completo, que totaliza 8.000 quilômetros. Um deles é Cleber Lima, 28, que reveza a direção com um colega. "Enquanto um dorme, o outro dirige", simplifica, explicando que há uma "quitinete" no carro para que possam descansar.

No dia da entrevista, Lima estava se despedindo da linha, que passará a ser operada em trechos mais curtos. No tempo que passou à frente do trajeto, entretanto, ele conheceu lugares e viveu experiências que jamais pensou. "O Brasil é muito grande e diverso. Sul e Norte são muito diferentes", afirma.

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Ao sair de Carazinho, ele conta que é comum haver passageiras idosas que oferecem bolachinhas e outros quitutes aos motoristas. Conforme se avança para o Norte, o cardápio vai se diversificando. "Nunca tinha comido tapioca ou milho assado. Até comecei a gostar de um caldo chamado chambari", conta.

A recicladora Rosa Bernardo, de Cambé, enfrentaria quase um dia de viagem para visitar a filha em Iporã do Oeste
A recicladora Rosa Bernardo, de Cambé, enfrentaria quase um dia de viagem para visitar a filha em Iporã do Oeste



Na rodoviária de Londrina, um dos passageiros que esperava para embarcar para Carazinho é o aposentado José dos Reis de Melo. Ele vinha de Apucarana e iria à capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, para vender bonés. Reis faz esse percurso uma vez por mês e aproveita o benefício da passagem gratuita para idosos para conseguir vender os produtos e complementar a renda. "Só com a aposentadoria não consigo viver", explica.

A recicladora Rosa Bernardo, de Cambé (Região Metropolitana de Londrina), também se preparava para enfrentar quase um dia de viagem a bordo da mesma linha para visitar a filha em Iporã do Oeste, em Santa Catarina. Com muitas saudades dos netos, ela estava acompanhada da mãe, Francisca, 76, e levava um grande volume de bagagem onde não faltavam presentes para as crianças e o enxoval do bebê que ainda vai nascer. Seria a primeira vez que ela viajaria para tão longe, por isso, se preparou para a aventura com roupas de inverno e muitos lanches. "Estou levando o básico: farofa com carne para a janta, lanches, refrigerante e água com gás. Acho que vai dar para chegar lá", diverte-se. (C.A.)