O material mais conhecido para proteger o fluxo menstrual do meio externo são os absorventes descartáveis. Sua produção teve início no final do século XIX na Alemanha. Apesar de ter sido uma grande invenção que revolucionou a saúde feminina, os descartáveis, tanto externos como internos, necessitam de alguns cuidados para não gerar infecções ou alergias - como escolher os não perfumados e fazer as trocas necessárias ao longo do ciclo menstrual.

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Além disso, o uso desse material causa um impacto muito grande no meio ambiente, já que, segundo levantamento do Recicla Sampa, uma única mulher joga 3 kg de absorvente no lixo por ano. Considerando a média de um ciclo menstrual que ocorre dos 11 aos 54 anos, isso dá mais de 130 kg de lixo gerado. Aproximadamente 90% do produto é feito de plástico e demora 400 anos para se decompor. Eles também não são reciclados e não possuem um destino correto para o descarte, portanto, se acumulam em lixões e aterros sanitários.

Foi apenas por volta de 2010 que outras alternativas chegaram ao mercado brasileiro e se popularizaram. Em junho daquele ano, foi comercializado o primeiro coletor menstrual 100% brasileiro. Após alguns anos, também surgiu a calcinha absorvente. Todas as opções são reutilizáveis e podem durar anos, dependendo da higienização e cuidado adequado. Por esse motivo, são considerados mais sustentáveis e econômicos em relação aos descartáveis.

Coletor menstrual

O coletor menstrual é feito de silicone, tem formato de "copinho" e é livre de substâncias que podem prejudicar o corpo feminino. Por isso, ele é maleável e totalmente ajustável ao corpo. Ele deve ser inserido na entrada do canal vaginal e coleta todo o sangue menstrual, de modo que não fica em contato com o ar nem com o tecido da calcinha. Para remover, basta apenas puxar pela base e esvaziar o conteúdo no vaso sanitário.

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Por entrar na vagina, pode ocorrer o rompimento do hímen. No entanto, é seguro para a prática de esportes e dormir, mas, atenção: deve ser trocado e higienizado a cada 6 a 12 horas - tudo depende do fluxo de cada mulher. A higienização correta é muito simples, basta lavar com água e sabão neutro na pia ou durante o banho e fervê-lo quando o ciclo menstrual acabar.

Disco menstrual

Já o disco menstrual possui as mesmas funcionalidades e vantagens do coletor, ele apenas possui um outro formato, de disco, e é inserido no fundo do canal vaginal, junto ao colo do útero. No entanto, ele não possui cabinho como o coletor menstrual. Por isso, deve ser retirado com cuidado. Não existem graves riscos à saúde para utilizar o coletor ou o disco, contanto que seja higienizado da maneira correta.

Calcinhas absorventes

Já as calcinhas absorventes são como calcinhas normais, mas possuem mais camadas de tecidos para absorver o fluxo menstrual. Diferentemente do que se pensam, elas são confortáveis e seguram o fluxo, mas precisam ser trocadas quando estão "cheias". Precisam ser trocadas duas vezes ao dia em fluxos leve e moderado e, durante o fluxo intenso, trocar mais vezes, conforme a necessidade.

Para higienizar, é necessário lavar até 12h após o uso, deixando-a de molho até o sangue soltar no tecido por, no máximo, 30 minutos. Depois disso, é necessário lavar à mão ou na máquina. Antes do primeiro uso, recomenda-se a lavagem com sabão neutro. Ela não protege apenas vazamentos, mas evita a proliferação de bactérias e fungos que podem prejudicar a saúde íntima da mulher.

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A ginecologista Lorraine Sales afirma que essas opções são livres de químicas, portanto, são mais saudáveis. “Não costumam estar relacionados a alergias, infecções e alterações no pH vaginal”, comenta. O coletor menstrual, segundo a ginecologista, é uma das opções mais interessantes. “São eficientes, não vazam e são fáceis de lavar. Um único absorvente pode durar anos e isso dura o autoconhecimento”. Ele ainda tem uma vantagem em relação ao descartável interno: podem coletar até 5x mais de sangue do que o descartável absorve.

A designer Isis Rantin, de 23 anos, afirma que usa a calcinha menstrual, mas prefere o coletor. Em sua primeira experiência, não conseguiu usar, mas, depois de um tempo, tentou com uma nova marca e, após três ciclos menstruais, se adaptou perfeitamente. Hoje declara que confia 100% no coletor. “Sempre fiquei animada para testar essas alternativas porque me preocupo muito com o meio ambiente. Sei que não vou salvar o mundo fazendo essa troca, mas por uma questão moral, decidi parar de produzir esse tipo de lixo”, relata.

Isis recomenda ter, pelo menos, duas unidades da calcinha ou do coletor. Dessa maneira, enquanto um está secando ou de molho, você usa o outro. Também comenta sobre a comodidade de usar essas opções, afirmando que não existe esforço - por não precisar sair para comprar e ficar trocando várias vezes ao dia - e até esquece que está menstruada. Ainda destaca que utilizar o coletor trouxe um novo olhar sobre a menstruação: “Eu odiava menstruar e acabava odiando o meu corpo por fazer você passar por isso todo o mês. O coletor elimina vários elementos que podem ser irritantes na menstruação. Se torna algo muito menos invasivo para você”.

Absorventes de pano

Além dessas opções, existe o bom e velho paninho. Esses estão voltando à moda, quebrando a impressão de que deixam vazar ou não são higiênicos. A ginecologista afirma que é uma alternativa segura e eficiente para solucionar a absorção do sangue menstrual.

Esse tipo de produto segue o mesmo formato dos absorventes descartáveis, mas é feito com tecido 100% de algodão (o que é benéfico para a pele, pois a ajuda a “respirar”) e pode durar até cinco anos. A ideia é que ele seja lavado e reutilizado, como se fazia antigamente, antes dos absorventes descartáveis. Ele possui um botão para prender na parte de baixo da calcinha, por isso dá mais segurança para fazer as atividades do dia a dia.

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Érica Ribeiro é londrinense e vende absorventes de pano na cidade desde 2019. Ela, com sua mãe, avó e filha, fazem diversos produtos em tecidos e começaram a produzir os absorventes pensando no meio ambiente e nas alergias geradas pelos protetores convencionais. Ela participa da Economia Solidária de Londrina e também comercializa seus produtos por meio das redes sociais. A artesã comenta que um kit com duas unidades do tamanho padrão custa R$30. Isso pode assustar à primeira vista, porém, eles duram de três a cinco anos se a pessoa higienizá-los da maneira correta. “O produto não prejudica e nem dá alergia. É uma economia bem grande”, pontua.

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. | Foto: Érica Ribeiro

A instrutora de Yoga Amanda Petri Martins, de 35 anos, começou a utilizar absorventes de pano em 2015, quando foi morar em uma eco aldeia no Ceará. Ela usa até hoje por conta do conforto e praticidade. Além disso, a questão financeira também teve benefícios porque ela nunca mais comprou absorvente descartável. Ela recomenda a compra de dois pequenos, dois médios e dois grandes para trocar com conforto e sempre ter disponível em tamanhos variados. "Uma mulher consegue usar o mesmo absorvente por um bom tempo, reutilizar várias vezes. O preço que for pagar é infinitamente menor que o de plástico", comenta. Também pontua os benefícios para o meio ambiente por ser mais ecológico.

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. | Foto: Érica Ribeiro

Qual é o melhor para doação?

No entanto, na hora de promover doações de absorventes, os coletores, calcinhas e paninhos não são os mais indicados. A melhor opção, nesse caso, continua sendo os absorventes descartáveis, principalmente o externo, explica a ginecologista Lorraine Sales. Os materiais reutilizáveis necessitam de cuidados especiais e não é garantido que todas as mulheres em situação de vulnerabilidade consigam acesso a saneamento básico ou até mesmo de um lugar para lavar e higienizar seus produtos. “Se ela receber na escola, na UBS, ela vai saber usar os absorventes, jogar no lixo e colocar um novo”, diz. Não é recomendada a doação do coletor menstrual ou das calcinhas absorventes, por exemplo, porque o seu mau uso ou má higienização podem causar infecções e doenças mais complicadas.

Absorvente sustentável leva prêmio

A curitibana Rafaella de Bona Gonçalves é estudante de design de produto da UFPR (Universidade Federal do Paraná) e, em 2019, criou um projeto que levou o prêmio alemão iF Design Talent Award, um dos maiores prêmios de design do mundo. Ela desenvolveu um absorvente interno sustentável feito de fibra de banana, o Maria. A intenção foi trazer mais dignidade às mulheres em situação de rua, já que é um produto fácil de usar e de descartar.

Veja o Maria:

Em sua palestra para o Ted Talks, a curitibana pede aos ouvintes para se colocarem no lugar de uma mulher em situação de rua. Provavelmente essa mulher está com fome, com frio e, quando está menstruada, sente cólica e suja a sua roupa de sangue. Não tem um banheiro público para se trocar ou se higienizar, ou seja, estão em uma condição extrema. Foi a partir desse problema que Rafaella desenvolveu o projeto sustentável, reinventando o absorvente de modo que se tornasse prático, higiênico e universal.

Não apenas mais sustentável, mas será mais barato e também será adaptável de acordo com a intensidade do fluxo menstrual, já que possuem dois tamanhos diferentes. O nome Maria é uma homenagem a todas essas mulheres, as tirando do anonimato.

Assista:

TEDx Talks

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(Reportagem exclusiva da FOLHA on-line)