As rodovias no Paraná seguem com muitos pontos bloqueados por atos antidemocráticos e que pedem “intervenção federal” no resultado das eleições. A Secretaria da Segurança Pública do Estado (Sesp) informou que até o começo da noite desta quarta-feira (2) foram identificados 42 pontos de bloqueio parcial nas rodovias estaduais e 20 nas federais.

A PMPR (Polícia Militar do Paraná), cujo comando-geral havia dito na terça-feira (1) que agiria para desbloquear nesta quarta todas as rodovias, não repassou quais eram esses locais. Não há mais bloqueios totais. Segundo a nota da Sesp, as forças de segurança do governo estadual encerraram 145 bloqueios em rodovias estaduais e federais que cortam o Estado desde a segunda-feira (31).

Cerca de oito mil pessoas estiveram na PR-445, em Cambé, pedindo a intervenção federal para invalidar resultado das urnas.
Cerca de oito mil pessoas estiveram na PR-445, em Cambé, pedindo a intervenção federal para invalidar resultado das urnas. | Foto: Roberto Custodio

Os bombeiros apagaram 25 focos de incêndio e removeram objetos das vias. A Defesa Civil também limpou 10 locais de bloqueio. Foram empregados 4,5 mil policiais militares e 1.550 viaturas da PM. Pelo Corpo de Bombeiros, atuaram 333 viaturas e 682 militares.

Além disso, foram registrados 73 boletins de ocorrência das manifestações e identificadas 34 lideranças. A Polícia Militar do Paraná emitiu 20 notificações de trânsito de veículos relacionados aos bloqueios das vias.

A PMPR informou que realizou duas escoltas de caminhões, sendo uma de alimentos perecíveis e outra de combustíveis.

RODOVIAS FEDERAIS

Nas rodovias federais havia nesta quarta-feira (2) três pontos de bloqueio totais em Palmeira, Corbélia e Medianeira (Oeste) e em 17 outros pontos há bloqueios parciais: nos municípios de Tijucas do Sul, Mandirituba, Paranaguá, Fazenda Rio Grande, Rio Azul, Irati, Mallet, Lapa, Campina Grande do Sul, São Mateus do Sul, Prudentópolis, Marechal Cândido Rondon, Contenda, Apucarana, Foz do Iguaçu, Paula Freitas e General Carneiro.

A PRF (Polícia Rodoviária Federal) informou que os procedimentos utilizados pela desmobilização das manifestações priorizam o emprego legal e proporcional da força. Segundo a corporação, o uso da força deve ser controlado a fim de preservar o direito à vida e à dignidade humana.

MANIFESTAÇÃO NA PR-445

Na Rodovia Celso Garcia Cid (PR-445) houve uma grande manifestação dos bolsonaristas no trecho próximo ao posto Cupimzão, em Cambé, no perímetro urbano da divisa com Londrina. O clima no local era como se fosse de final de Copa do Mundo, com muitas bandeiras nacionais empunhadas e o Hino Nacional tocado exaustivamente. Havia faixas e cartazes com dizeres “Resistência Civil junto com os caminhoneiros”, “Socorro, Forças Armadas. Salvem o nosso povo do comunismo”, “Queremos intervenção federal”, “SOS Forças Armadas. Restaurem a democracia”, “Fora comunistas”, “Brasil livre do comunismo”.

O ato visa tirar a legitimidade do resultado das eleições deste ano. Um volume considerável de empresários, agricultores e famílias se uniu aos caminhoneiros, que consumiram sanduíches de mortadela, salsicha e churrasco. Muita gente levou crianças ao local.

Um dos participantes foi o empresário Sandro Cunha, que comentou que estava todo mundo tranquilo e participativo. “Todo mundo que estava lá estava indignado pelo que aconteceu nas eleições, pois o Lula foi liberado para concorrer em uma situação atípica, coisas que deveriam ter sido resolvidas lá atrás e não agora.” Segundo ele, todas as manifestações da direita, do lado de Bolsonaro, "foram tolhidas".

protestos antidemocraticos pro bolsonaro na pr 445. foto: roberto custodio - folha de londrina - 02/11/2022
protestos antidemocraticos pro bolsonaro na pr 445. foto: roberto custodio - folha de londrina - 02/11/2022 | Foto: Roberto Custódio

O aposentado Almir Martins, que hoje é líder de grupo de pedal, foi 100% a favor da manifestação. “Eu votei no Bolsonaro para que houvesse uma mudança na política. No passado, já votei no PT. Não acreditamos no resultado das eleições.”

O caminhoneiro Lourival dos Santos afirmou que mais de 2,2 mil caminhões estão parados voluntariamente nos municípios de Londrina, Sertanópolis e Cambé. “Na manifestação no posto tem em torno de oito mil pessoas. Não tem como saber quantos carros. Não estamos parando carro baixo, mas o trânsito está lento por causa dos carros que vieram do Tiro de Guerra, mas não somos nós que estamos obstruindo.”

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CLUBES DE TIRO

Paula Angélica Gardinal Góes Gomes, proprietária de um clube de tiro em Cambé, também estava na manifestação. “Estou defendendo os nossos direitos, do meu filho e da minha família. A gente não pode ser governado por um condenado que não vai fazer nada por nós. Só vai destruir o que a gente tem e o que a gente conquistou até hoje.”

Questionada sobre a influência que o episódio com a deputada bolsonarista Carla Zambelli (PL-SP), com a arma em punho nas vias de São Paulo antes das eleições, poderia ter sobre os CACs (Caçadores, Atiradores e Colecionadores), ela afirmou que a parlamentar estava no lugar errado e na hora errada. “Talvez ela tenha agido sem pensar. Eu acredito que isso não vai acabar com a nossa classe do CAC. Somos pessoas de bem, que só querem ir para o clube de tiro treinar. Se precisar defender a nossa casa, aí é outra conversa.”

Sol Yasmin Simões Gonçalves, atendente em um clube de tiro, afirmou que foi na manifestação em busca de uma nação melhor. “Uma boa parte do País está se juntando para mostrar que nem todos estão de acordo com o resultado. Não estamos aqui pelo Bolsonaro, mas pelo Brasil”, declarou.

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