Segundo especialistas ouvidos pela FOLHA, temas abordados na campanha de Bolsonaro motivaram mobilização feminina de caráter suprapartidário
Segundo especialistas ouvidos pela FOLHA, temas abordados na campanha de Bolsonaro motivaram mobilização feminina de caráter suprapartidário | Foto: Arquivo FOLHA



Londrina terá quatro manifestações pró e contra o candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro (PSL) neste final de semana. Serão duas carreatas a favor dele e dois atos contra, no sábado (29) e domingo (30). Neste sábado, a carreata de apoio ao candidato vai sair do Autódromo Ayrton Senna a partir das 9h, e no domingo a concentração pró-Bolsonaro ocorre a partir das 16h na praça Nishinomiya, em frente ao aeroporto. Já os atos contra Bolsonaro ocorrem, no sábado, a partir das 10h, em frente ao Teatro Ouro Verde, no Calçadão, organizado pelas Mulheres Unidas Contra o Fascismo, e no domingo a partir das 16h, em frente à loja Pernambucanas, também no Calçadão, organizada pela Ação Antifascista Londrina e Alternativa Popular Londrina.

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A PM (Polícia Militar) acredita que os eventos transcorrerão de forma pacífica. O MPPR (Ministério Público do Paraná), por sua vez, expediu nesta sexta-feira (28) uma recomendação administrativa dirigida à governadora do Estado, Cida Borghetti (PP), com o objetivo de assegurar que as manifestações organizadas por grupos de mulheres previstas para ocorrerem em todo o Paraná sejam realizadas de forma pacífica.

Segundo a PM, em caso de eventos a corporação deve ser informada por meio de ofício. Esse tipo de notificação não costuma ocorrer, porém, o setor de inteligência realiza o monitoramento e garante o policiamento. "Acredito que vão ser passeatas, manifestações, pacíficas. A previsão é que sejam eventos ordeiros. Vai haver reforço policial, com aumento do efetivo não especificamente para esses eventos, mas para deixar as pessoas tranquilas com o trabalho preventivo. Se tiver um problema maior, outras equipes serão acionadas para ajudar", explica o major Edvaldo Vieira, subcomandante do 5º BPM (Batalhão de Polícia Militar).

O organizador da carreata a favor de Bolsonaro que acontece neste sábado, Ulisses Sabino, presidente estadual do PTC, afirmou que "o delegado Francischini vai participar do evento e trazer a equipe própria de segurança". Cerca de 70 veículos já confirmaram presença no ato, mas não há como precisar o número total de participantes. "Teremos uma estrutura grande, com caminhões. A expectativa é muito boa, temos bastante aprovação", disse.

A Ação Antifascita Londrina, que organiza a manifestação de domingo, informou que não fez pedido de segurança para a polícia. Procurada, a CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização), por meio da assessoria, informou que não irá se manifestar.

DEBATE DILUÍDO

No último domingo (23), a discussão em torno de declarações da chapa de Jair Bolsonaro (PSL) que em tese possam ferir princípios democráticos ganhou força com a divulgação de um documento intitulado "Pela democracia, pelo Brasil" com a assinatura de intelectuais, artistas e empresários. O texto, que não apóia nenhuma candidatura, coloca o militar como uma ameaça autoritária.

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Na avaliação de Camila Mont'Alverne, doutoranda em Ciência Política pela UFPR, parte da ressonância do movimento #EleNão se deve justamente ao fato de a candidatura de Bolsonaro colocar em xeque "regras básicas" da democracia ao falar em "fuzilar opositores", por exemplo. "Acho que há também uma preocupação de fundo com a qualidade da democracia que vamos ter após esse processo eleitoral, a ameaça que esse processo pode representar", diz. "Acho que as questões do manifesto também estão presentes na mobilização."

Lara Facioli, pós-doutoranda em Sociologia na UEL, também diz perceber a presença destas questões no movimento. "Elas podem não estar diretamente colocadas [no nome da mobilização], mas estão sendo discutidas o tempo todo. Na internet isso fica muito evidente, com imagens, hashtags, memes, materiais que apontam para a questão da militarização, por exemplo", diz.

Para Rayza Sarmento, professora do Departamento de Ciências Sociais da UFV (Universidade Federal de Viçosa), o debate em torno de preceitos democráticos clássicos é inseparável da pauta feminista. "Na minha perspectiva, uma democracia sem mulheres é uma democracia incompleta", diz.