PF diz ao STF que vídeos do 8/1 somam mais de 4.400 horas de gravação
Após vazamento de imagens do ministro do GSI e servidores do Planalto durante os atos, Alexandre de Moraes cobrou explicações da polícia
PUBLICAÇÃO
domingo, 23 de abril de 2023
Após vazamento de imagens do ministro do GSI e servidores do Planalto durante os atos, Alexandre de Moraes cobrou explicações da polícia
Marcelo Rocha, Cézar Feitoza e Lucas Marchesini - Folhapress
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A Polícia Federal enviou um comunicado ao STF (Supremo Tribunal Federal) neste domingo (23) em que informa ter coletado 4.410 horas de filmagens dos circuitos internos de segurança do Palácio do Planalto, Congresso Nacional e do próprio Supremo no dia dos ataques às sedes dos Poderes.
Os arquivos somam 1,47 terabytes. Outras 129 gigas de imagens foram capturadas na internet pelos investigadores.
"Os vídeos foram encaminhados para os Institutos de Criminalística e Identificação Nacional e estão sendo realizadas as perícias e análises para as deliberações pertinentes", disse à PF.
A PF utiliza uma mistura de inteligência artificial e trabalho manual dos policiais para identificar os apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) envolvidos nos ataques aos Poderes, em 8 de janeiro.
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Apesar de o material ser usado pela perícia para identificação de quem cometeu crime, a equipe responsável diretamente pela investigação dos atos de vandalismo não analisou a íntegra das gravações.
"Informo que foi solicitado ainda dia 19/04/2023 a apresentação de laudo pelo INC (Instituto Nacional de Criminalística) a fim de identificar e reconhecer as movimentações e dinâmica de ações dos agentes públicos, neste compreendidos também as identidades destes", reforça a PF.
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O documento é uma resposta à decisão do ministro Alexandre de Moraes. Na sexta-feira (21), o magistrado determinou que a PF prestasse informações acerca do recolhimento das imagens.
Golçalves Dias
A medida foi tomada após as gravações de câmeras de segurança do Planalto, divulgadas pela CNN Brasil, mostrarem o ex-ministro do GSI Gonçalves Dias e outros servidores no interior do Palácio do Planalto durante os atos. Dias pediu demissão do cargo após o surgimento das imagens.
Moraes também determinou a quebra do sigilo das imagens captadas durante a invasão do Palácio do Planalto para envio à investigação que está em andamento no STF.
As imagens estavam em poder do GSI e foram utilizadas como provas iniciais para justificar a abertura de sindicância contra os envolvidos.
Na decisão, Moraes disse que a apuração não está restrita aos "indivíduos e agentes públicos civis e militares que criminosamente pretenderam causar ruptura do Estado democrático de Direito", mas também na identificação das condutas de agentes civis e militares que, por ação ou omissão, foram "coniventes ou deixaram de exercer suas atribuições legais".
"Para elucidação das responsabilidades criminais dos envolvidos nos crimes objeto desta investigação, é necessária a vinda aos autos de todas as imagens que auxiliem na identificação dos responsáveis", concluiu o ministro.
Na resposta, a PF ainda diz que foram ouvidos 81 militares que atuaram no dia 8 de janeiro, tendo sido selecionados os de patente igual ou superior a sargento do Exército.
Os depoimentos foram tomados todos no mesmo dia, em 12 de abril. Dentre os intimados, prestaram esclarecimentos os generais Gustavo Henrique Dutra de Menezes (ex-comandante Militar do Planalto), Carlos Feitosa Rodrigues "ex-secretário de segurança do Planalto) e Carlos José Russo Assumpção Penteado (ex-número 2 do Gabinete de Segurança Institucional).
Além dos 81 militares ouvidos, a Polícia Federal colheu o depoimento de nove funcionários do GSI neste domingo -alguns deles são ouvidos pela segunda vez. Todos eles aparecem nas imagens gravadas pelas câmeras de segurança do Palácio do Planalto em 8 de janeiro.
No grupo estão o general Carlos Feitosa Rodrigues e o capitão José Eduardo Natale Pereira, que aparece nas imagens dando água para os manifestantes. Ainda foram intimados a depor os coronéis Wanderli Baptista da Silva Júnior, Alexandre Santos de Amorim e André Garcia Furtado, os tenente-coronéis Alex Marcos Barbosa Santos, Marcus Vinicius Bras de Camargo, o capitão Adilson Rodrigues da Silva e o sargento Laércio da Costa Júnior.
Vândalo queria ter certeza que cena seria registrada
As imagens do circuito interno do Palácio do Planalto mostram que a antessala do gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi arrombada por golpistas às 15h56 do dia 8 de janeiro, após um homem dar um chute na porta de vidro.
Os vídeos, tornados públicos pelo STF (Supremo Tribunal Federal), indicam que o homem só desferiu o chute após estar ciente que sua ação seria gravada por outra pessoa - no caso, um repórter fotográfico da agência de notícias Reuters.
Após a invasão, as imagens mostram alguns dos vândalos em uma atitude intimidatória contra o repórter fotográfico, incluindo a visualização do seu crachá.
No dia dos ataques, diversos jornalistas foram agredidos e intimidados, sendo forçados a apagar imagens que haviam feito. Alguns, como o repórter fotográfico Pedro Ladeira, da Folha de S.Paulo, ainda tiveram o equipamento roubado.
O gabinete de Lula, que estava trancado, não foi invadido pelos vândalos.
Os invasores circularam no terceiro andar, onde despacha o chefe do Executivo, a partir das 15h20 e por volta das 16h30 não aparecem mais nas imagens, após terem sido expulsos por integrantes do GSI e policiais.
Minutos após eles apareceram nas imagens, uma fumaça surge no local e eles tentam proteger os rostos com bandeiras ou camisetas.
Os primeiros integrantes da segurança presidencial, do GSI, apareceram nas imagens um minuto depois dos invasores. Um homem de terno e dois paramentados com capacete e escudo desceram as escadas atrás dos golpistas.
A porta de vidro da antessala presidencial, em frente ao gabinete de Lula, foi arrombada às 15h56, mas antes disso já haviam tentado abri-la quatro vezes. Há um sistema de segurança no Planalto que só permite acesso a determinados locais com uma credencial específica.
Entre 16h e 16h30, há a maior circulação de invasores na antessala do gabinete presidencial, onde não apenas despacha Lula, como os seus primeiros auxiliares e até mesmo a primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja.
O primeiro extintor em frente ao local foi levado às 15h29 e o segundo uma hora depois. Eles usam as tomadas para carregar os celulares, fazem selfies e vídeos em frente à sala de Lula.
Os invasores tentam abrir o gabinete do presidente ao menos quatro vezes, mas a porta estava trancada.
As imagens das 33 câmaras, com duração de 160 horas, também mostram ministros e o presidente Lula no Palácio do Planalto, após a liberação do prédio. (Com Paulo Saldaña, Marianna Holanda e Ranier Bragon, da Folhapress)