Curitiba - Para Rodrigo Prando, professor de Sociologia e Política da Universidade Presbiteriana Mackenzie, a política europeia pode até estimular, porém, não é definidora do que são os partidos no Brasil. "Aqui são muitos partidos e, se a gente for olhar o quadro, são cinco no máximo que exercem poder no governo central ou com condições de tratar politicamente dos temas que a sociedade reivindica. A grande maioria é moeda de troca para construir a maioria no Parlamento", opinou.

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Nesse contexto, criar ou alterar nomes de legendas não traz, na avaliação dele, muitos impactos. "Acaba sendo uma mudança mais cosmética do que no conteúdo, tanto que continuam os mesmos dirigentes. A ideia de democracia dentro do partido muitas vezes é só uma frase de efeito. Não estou dizendo que esse [Podemos] é o caso. Mas a gente deveria é repensar com seriedade a quantidade de partidos, para que o eleitor possa identificar o político e a ideologia que ele professa. Hoje, eu, que sou especialista no assunto, não consigo citar quais são todos os partidos, de cabeça. Imagine o eleitor, que toma contato com o tema de dois em dois anos."

Segundo Prando, legendas sem ideologia não existem. "É um discurso muito pobre, que acaba dizendo que você paira acima da sociedade, como grande referencial ético – ‘não sou uma coisa, nem outra; estou acima’ ou ‘não estou envolvido em disputas’. Qualquer político tem de saber quais são os valores que seu partido professa. A partir dessa leitura que você pode analisar e dizer se é de esquerda, direita ou centro, sobretudo em relação ao papel do Estado com o mercado."

O professor citou também a ex-senadora e ex-ministra Marina Silva, porta-voz da Rede Sustentabilidade. "Ela adotou esse discurso quando criou a Rede. E o que havia de novo no que trazia; que outros partidos ou ela própria já havia falado? No fundo, todo mundo, em dado momento, para se apresentar ao eleitor, por conta do desgaste da [Operação] Lava Jato e outras diz: ‘eu sou novo’. É mero discurso, propagandístico. Dentro dos partidos, as práticas pouco republicanas de se lotear o Estado são iguais." (M.F.R.)