A morte de Olavo de Carvalho, no final de janeiro, traz um desafio para os integrantes da “nova direita” brasileira: manter o olavismo vivo, sem tanta fragmentação de ideias. Especialistas ouvidos pela FOLHA dizem crer que o olavismo vai sobreviver, mas ainda não é possível dizer em que dimensão.

Olavo de Carvalho em sua casa nos EUA (06/10/2017)
Olavo de Carvalho em sua casa nos EUA (06/10/2017) | Foto: Vivi Zanatta/Folhapress

O termo “nova direita” é utilizado pela comunidade acadêmica para definir os integrantes da chamada direita conservadora brasileira que ganharam espaço nos últimos anos. Olavo de Carvalho é considerado o criador desse movimento, que se popularizou no país para combater uma suposta “hegemonia cultural esquerdista”.

“A verdade é que o Olavismo cresceu tanto que acabou adquirindo várias roupagens, vamos dizer assim, nos últimos anos. Então, você tem os Olavistas da cultura policial antidireitos humanos, tem os Olavistas que trabalham diretamente com educação e têm como prioridade eliminar a influência de Paulo Freire no currículo escolar, tem os antiambientalistas, tem aqueles que se criaram no interior de circuitos evangélicos e tem os antivacina. Enfim, embora esses grupos não sejam iguais, eles guardam esse modo de ver o mundo como pressuposto da sua intervenção no real”, explica o historiador Murilo Cleto, mestre em Cultura e Sociedade.

Para Clodomiro José Bannwart Júnior, professor de Ética e Filosofia Política da Universidade Estadual de Londrina (UEL), algumas questões pesarão no modo como as ideias de Olavo de Carvalho serão mantidas ou mitigadas no movimento conservador.

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“É inegável que o Olavo de Carvalho – gostem ou não dele ou de suas teses – conseguiu catalisar ideias que reavivaram o discurso da direita conservadora. Com a sua ausência, importará saber quem ocupará o seu lugar de fala, sobretudo, sua tribuna nas redes sociais? Ou ainda sob outra perspectiva: seu espólio tem um herdeiro definido? Ou são vários herdeiros que correrão o risco de fragmentar seu pensamento em distintas intepretações?”, questiona Bannwart Júnior.

RACHA DE IDEIAS

O historiador Murilo Cleto acredita nessa movimentação para herdar o espólio de Carvalho. Segundo ele, o racha de ideias dentro da própria “nova direita” pode influenciar essa disputa.

“À primeira vista o Olavismo parece um grande bloco coeso e coerente, que liga iguais. Mas, na verdade, ele também tem as suas divisões internas, ele tem sua hierarquia como qualquer movimento. Esse modo de ver o mundo continua com ou sem o Olavo. O que pode haver, em um primeiro momento sobretudo, é uma tentativa de herdar esse espólio intelectual. Coisa que já vinha acontecendo com Olavo em vida, e que vai continuar acontecendo com Olavo morto”, cita.

De acordo com o professor Bannwart Júnior, existirão desafios, já que o contexto político se altera com o passar dos anos. Nesse sentido, é necessário um esforço para consolidar ideias.

“O pensamento leva certo tempo de maturação e igual necessidade de passar por um contraditório para se firmar de fato. O que se viu foi uma grande adesão ao olavismo. Talvez esteja aí o grande desafio dos seus seguidores. Sustentar seu pensamento em um contraditório não só acadêmico, no âmbito teórico, mas também diante de uma realidade que se altera muito rapidamente”, considera.

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