Com o objetivo de atender o anseio por soluções urgentes e em meio a divergências sobre as medidas mais adequadas para enfrentar o problema das ameaças de ataques em escolas, a Câmara Municipal de Londrina sediou na noite de terça-feira (11) uma reunião pública para começar a alinhar estratégias locais de prevenção.

O encontro durou mais de 3 horas e teve público significativo. Houve discursos emocionados de mães. Entre os pontos mais reivindicados, famílias pediram reforço nas iniciativas de segurança colocadas em prática nos últimos dias pela Prefeitura de Londrina e pelo governo do Paraná.

O secretário municipal de Defesa Social, Pedro Ramos, afirmou que os agentes da GM (Guarda Municipal) enviados para as unidades da rede do município ficariam até esta quarta-feira (12). “Vamos avaliar a evolução dos fatos no âmbito nacional”, disse ele.

A Polícia Militar seguiu linha diferente do comando da GM. Segundo o comandante do 5º Batalhão em Londrina, tenente-coronel Nelson Villa Junior, a PM vai prosseguir por tempo indeterminado com o patrulhamento realizado nos horários de entrada e saída das instituições estaduais.

Saúde mental

Já o delegado-chefe da 10ª Subdivisão da Polícia Civil em Londrina, Amarantino Ribeiro Gonçaves Neto, defendeu estratégias não só em curto, mas também em médio e longo prazo. Ele argumentou que o clima hoje vivenciado é reflexo da ausência de programas de saúde mental para a comunidade escolar.

“O problema não é a presença do vigilante, o problema é a presença do adolescente doente na escola sem psicólogo. Falamos em colocar câmera, grade, alambrado, mas ninguém falou em colocar psicólogo na escola”, declarou Ribeiro, sob aplausos da maioria.

“Temos que reconhecer que erramos. Todos, de alguma forma. Não podemos ficar jogando a culpa um no outro. A polícia não é a solução. Nós não temos viatura e nem gente para tudo. Nós precisamos pensar em prevenção, e os pais são peça importante”, acrescentou o delegado.

Há, no entanto, um déficit expressivo de psicólogos e assistentes sociais para atender tanto as escolas municipais quanto, principalmente, as estaduais, como observou a conselheira tutelar da zona norte de Londrina, Carla Gimenez. “Acaba gerando uma demanda muito grande para a equipe pedagógica, que não dá conta, porque não é a área de atuação do pedagogo ou do professor.”

Ex-vereador e atualmente diretor de uma unidade da rede municipal de ensino na zona leste, Amauri Cardoso, cobrou a gestão de Marcelo Belinati (PP) para, conforme ele, tirar do papel projetos firmados na legislatura anterior, de 2017 a 2020 – entre eles, a própria equipe multidisciplinar de profissionais. “Não colocaram dinheiro, não existe uma política real de investimento para as escolas”, criticou.

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Procurada pela FOLHA ao fim do encontro, a secretária de Educação de Londrina, Maria Tereza Paschoal, não deu entrevista, mas confirmou que a pasta tem cinco psicólogos para atender toda a rede municipal de ensino. “O que, de fato, for possível, dentro de todas as regras, a Secretaria de Educação vai fazer”, discursou anteriormente.

A Secretaria de Saúde do município não mandou representante para a agenda. Além disso, Jessicão (PP) e Mara Boca Aberta (Pros) questionaram a ausência do prefeito na reunião pública. Alinhada com a fala do sindicato desses profissionais, a pepista pediu a contratação em caráter de urgência de vigilantes particulares para as escolas municipais.

Famílias ausentes – Educação do PR também

Presidindo o debate em nome da Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Paradesporto e Lazer, Professora Flávia Cabral (PTB) defendeu uma solução, segundo ela, baseada na “pluralidade”, já que, na visão da parlamentar, a questão reúne temas ligados a saúde mental e segurança, aliados ainda ao protagonismo das famílias junto à rotina escolar.

“Estamos sentindo muita falta da família. Quando o adolescente comete um ato infracional, às vezes o pai ou a mãe não querem se fazer presente. O pai precisa ouvir e conhecer seu filho”, pediu o tenente-coronel Villa.

A chefe do NRE (Núcleo Regional de Educação) de Londrina, Jéssica Pieri, não participou da reunião pública e não enviou ninguém para representá-la. A ausência, conforme ela, deveu-se um compromisso “previamente agendado”. Em vídeo gravado, a representante do governo Ratinho Junior para a educação estadual da região disse estar trabalhando “muito forte” com a Secretaria de Segurança Pública do Paraná para prevenir ataques e a disseminação de boatos.

Pieri ainda salientou aos pais que monitorem os hábitos digitais dos filhos para mapear possíveis conteúdos nocivos. “A gente está muito mais infectado de fake news do que criminosos em potencial”, declarou o delegado Ribeiro.

Comitê

A partir de agora, o Legislativo tentará criar um comitê multidisciplinar para agregar órgãos públicos e entidades em uma rotina sistemática de busca de soluções ao tema. A informação é da presidente da Comissão de Seguridade Social, Lenir de Assis (PT). O colegiado também organizou a reunião desta terça.