O governador Ratinho Júnior (PSD) anunciou na quinta-feira (13) algumas medidas para garantir mais segurança nas escolas, incluindo o aumento do policiamento e do número de escolas cívico-militares. As medidas, entretanto, não agradaram especialistas na área da Educação, que divergiram a respeito da efetividade das ações propostas pelo governo.

Professor e advogado criminalista, João dos Santos Gomes entende que as famílias estejam apavoradas por conta dos ataques e ameaças que aconteceram nas últimas semanas, mas afirma que a segurança almejada pela população não virá através da militarização das escolas.

Segundo ele, a escola é um ambiente de ciência e pensamento, ressaltando que os governos batem sempre na mesma tecla e esquecem da necessidade de melhorar o ensino.

Ele ressalta que o aumento de policiais nas escolas deve ser entendido como uma medida emergencial que não pode ultrapassar 60 dias, ressaltando que “a Polícia Militar tem que sair de cena do mesmo jeito que entrou: sem ser notada”.

O advogado e professor explica que nesse espaço de tempo em que a força policial estiver nas escolas, o governo deve buscar com os municípios medidas efetivas, como guarda desarmada, capacitada e vestindo trajes civis.

Gomes explica que outra medida a ser tomada é a criação de um fórum permanente de discussão do ensino. “As pessoas que enxergam a necessidade de se proteger, não enxergam a necessidade de se melhorar o ensino”, destaca.

Assim como Gomes, Flávia Vivaldi, doutora em Educação pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) com ênfase no trabalho de convivência ética nas escolas, ressalta que o policiamento no entorno das instituições de ensino pode ajudar a intimidar qualquer possibilidade de invasão ao espaço escolar. Entretanto, segundo ela, há ressalvas em relação aos policiais atuando dentro das escolas, principalmente se eles estiverem armados.

“A escola não pode ser um espaço em que essa instituição [Polícia] seja uma figura de referência. Nós continuamos apostando na promoção de uma convivência mais ética, em uma cultura de paz e não na presença de policiais”, afirma.

De acordo com Vivaldi, os governos devem “trabalhar com as vacinas e não com os remédios”, se referindo ao fato de que é mais importante tratar a causa do que a consequência do problema. “Está mais do que na hora da convivência ética e democrática nas escolas ser uma política pública, ou seja, passar por um planejamento, assim como a gente planeja todas as disciplinas”, explica.

Segundo ela, é necessário trabalhar a convivência em diferentes vias: cuidar da qualidade das relações, abrir espaço na matriz curricular para as temáticas da convivência e a escola estar aberta para a participação e diálogo de todos. A pesquisadora afirma que o Brasil dá muito destaque aos vestibulares, mas desconsidera a necessidade de ter ambientes favoráveis: “e é aí que entra esse planejamento da convivência”.

Adriana Medeiros Farias, professora do Departamento de Educação da UEL (Universidade Estadual de Londrina), argumenta que as medidas para combater a violência - que não acontece somente nas escolas - não devem ser tratadas como simplistas. Também, segundo ela, medidas paliativas, que tratam o problema e não a causa, como propostas pelo governador do Paraná, podem gerar ainda mais violência e apontam a precarização da educação pública e a desvalorização do trabalho docente.

Nos últimos anos, segundo a professora e pesquisadora, os grêmios estudantis e os conselhos escolares foram varridos: “e não há outra forma de resolver a questão da violência sem uma comunidade pensando nos problemas da comunidade, por isso o governo precisa ouvir a comunidade escolar”. Também de acordo com ela, é necessário criar um marco regulador nas plataformas digitais, que são locais de discurso de ódio de células nazistas. “O acompanhamento dessas plataformas é fundamental porque não são casos isolados”, afirma.