Prestes a fechar seu primeiro ano como deputado federal pelo Paraná, o ex-governador Beto Richa (PSDB) concilia os compromissos em Brasília com uma tarefa hercúlea, já que, membro da executiva nacional do partido, ele apontou em entrevista exclusiva à FOLHA que, passado o turbilhão da derrocada tucana nas eleições de 2022, a atuação dele em 2023 também tenta dar à legenda o protagonismo de outrora.

“A nossa história é muito maior do que as dificuldades que no momento enfrentamos. A política é cíclica, o momento é realmente ruim, sofremos uma polarização muito forte, dois extremos, radicalização. O PSDB, que está no centro democrático, acabou sendo esmagado. Era um contra o outro e não tinha mais ninguém”, avaliou Richa.

Um dos passos para deixar de ser coadjuvante passa naturalmente pelo próximo pleito, as eleições municipais de 2024. Em Londrina, o possível nome do PSDB para disputar a Prefeitura é o do coronel Nelson Villa Junior, que comandou o 5º Batalhão de Polícia Militar (5º BPM) de 2019 a 2023. Hoje na ativa em Curitiba, o oficial está prestes a se aposentar e anda circulando por meios políticos da cidade acompanhado dos ex-vereadores Gustavo Richa, primo do governador, e Marcos Defreitas (respectivamente, presidente e vice do tucanato local).

Embora Villa ainda não possa se filiar à sigla, o ex-governador, ao menos no discurso, já faz coro ao militar. “Tem conteúdo, é preparado e tem grandes propostas e ideias para a cidade [..] Estamos construindo [a candidatura do PSDB em Londrina]. Ele está empolgado, disposto a disputar a eleição e nós apoiamos ele de braços abertos.”

RELAÇÃO COM PT

Richa disse ter sido cobrado por apoiadores por ter votado a favor de determinadas pautas de interesse do governo do presidente Lula (PT). O ex-mandatário, no entanto, alegou que os embates com o Partido dos Trabalhadores em seus dois mandatos consecutivos (2011-2018) à frente do Executivo estadual colocam-no “acima de qualquer suspeita”.

Ao mesmo tempo, ele sustentou que a legenda não adere ao “quanto pior, melhor”. “O pessoal está ‘babando’. Qualquer coisa que você fizer, você é petista, você é comunista, aquelas conversas. O meu comportamento e o do meu partido são de independência [...] Vamos cumprir o papel que nos foi imposto na urna, que é oposição. Porém, uma oposição construtiva.”

ATAQUE AO ‘LAVAJATISMO’

Preso pela Operação Lava Jato semanas antes das eleições de 2018, quando perdeu a disputa para o Senado, Richa teve atritos em seu ano de estreia no parlamento nacional com o ex-procurador e deputado federal cassado Deltan Dallagnol (que se filiou recentemente ao Novo). Durante a conversa com a FOLHA, ele reforçou as críticas ao adversário, ampliando-as para o ex-juiz (e agora senador) Sergio Moro (União Brasil).

“Na política, a atuação deles é uma tragédia, tanto quanto foi no Judiciário e no Ministério Público. Eles mancharam a história de instituições de respeito [...] Um conluio provado entre juiz e procuradores [...] Em um país onde a Justiça fosse precisa, estariam presos [...] Qual foi o feito dos dois que viraram heróis? Prenderam o Lula, e daí? De que forma aconteceu? Sempre fui adversário do PT, mas nunca fiz injustiça com ninguém”, atacou Beto Richa.