Segundo Ratinho Jr., um dos primeiros atos da nova gestão será o de diminuir número de secretarias
Segundo Ratinho Jr., um dos primeiros atos da nova gestão será o de diminuir número de secretarias | Foto: Theo Marques


Curitiba - Eleito governador do Paraná com quase 60% dos votos válidos, ainda no primeiro turno, o deputado estadual licenciado Ratinho Junior (PSD), de 37 anos, filho do apresentador de televisão Carlos Massa, disse que pretende divulgar todos os nomes de secretários até o fim de 2018. Por enquanto, o único confirmado é o da segurança pública, o general Luiz Felipe Kraemer Carbonell.


De acordo com Ratinho, o quesito principal será "capacidade técnica", e não a cidade ou o Estado de origem. Os próximos escolhidos devem ser os comandantes das pastas da Educação e da Saúde. O futuro chefe do Executivo estadual conversou com a reportagem da FOLHA em seu escritório localizado nos fundos da Rádio Massa, emissora de propriedade de sua família, em Curitiba.


Além de destacar as prioridades da gestão, ele comentou a eleição de Jair Bolsonaro (PSL-RJ), para quem fez campanha intensa no segundo turno das eleições presidenciais, a forte incidência de fake news, o clima pesado instaurado no país e a desconfiança levantada até mesmo por políticos acerca do uso das urnas eletrônicas.


FOLHA - Quais serão seus primeiros atos de gestão?
Ratinho Junior - Nós contratamos a Fundação Dom Cabral e temos o compromisso de diminuir o número de secretarias. Por dois motivos: otimizar a máquina pública, para dar mais velocidade nas decisões, e pela questão de custo. A fundação vai apresentar um esboço no final do mês.


- Depende desse estudo saber quantas e quais serão extintas? O senhor falou durante a campanha em metade.
- É algo extremamente técnico. Vamos ver aquelas que serão extintas e aquelas que serão unificadas. A ideia é essa mesmo [metade]. Vamos cumprir esse compromisso em cima de um estudo técnico.


- Pretende anunciar mais nomes de secretários em breve?
- Todos possivelmente antes de eu tomar posse. Tive a preocupação de já fazer o anúncio do secretário de Segurança porque é uma pasta muito sensível. Busquei o nome de um general do Exército porque quero governar o Paraná com a importância que ele tem e o tamanho de um país. A ideia é trazer esse know-how de defesa de fronteira, de inteligência, e acima de tudo a própria autoridade que o cargo tem. Existe, e todo mundo sabe, disputa de espaço entre as polícias, e queremos que haja sinergia entre elas. O fato de colocarmos um general que, em termos de hierarquia, está acima de todos, facilita o trabalho.


- O Paraná já teve generais no comando da segurança, mas todos no período da ditadura militar. Existe algum simbolismo nesse retorno?
- O significado é pelo conhecimento da área e estratégia que queremos implantar, de criar a melhor política. Aqui 80% das armas do crime organizado entram pelas fronteiras com o Paraguai. Temos o maior volume de contrabando de cigarros, de droga. Temos de ter uma política estratégica de segurança diferente de um Estado que não tem esses problemas.


- No secretariado haverá representação de diferentes cidades e regiões do Estado?
- Eu sou do interior. Mas o quesito não é territorial. Isso não quer dizer que não vamos buscar técnicos de diversas regiões do Estado ou até mesmo do país. Eu não tenho preocupação nenhuma em ter secretários que nasceram em outro Estado, que vivem em outro Estado, mas que têm capacidade técnica maravilhosa para ajudar a cuidar do Paraná.


- Quais as prioridades de investimento já para 2019?
- Depende muito de como vão estar as contas. Ainda não temos uma informação detalhada disso, até porque a transição foi anunciada pela governadora [Cida Borghetti, do PP] para o dia 3 de dezembro. Eu pedi antecipação e ainda não tivemos um OK [ela falou em entrevista coletiva que manterá o cronograma]. Em infraestrutura eu não acredito que vai ter dinheiro para fazer grandes investimentos. O que estamos fazendo é redigir uma nova lei de PPPs (parcerias público-privadas), que também passei para a governadora e queremos ver se ela pode encaminhar para a Assembleia ainda neste ano.


- O senhor defendeu em sabatina na FOLHA a realização de parcerias público-privadas para construção de presídios. Essa seria uma das PPPs pensadas?
- É uma pauta importante, até porque as delegacias estão sobrecarregadas e não deveriam ter esse número de presos que têm. Se vai ser por PPP ou com dinheiro que o governo do Estado tem, quando eu assumir vamos tomar essa decisão.


- O senhor está licenciado como deputado estadual. Vencendo essa licença, irá postergá-la ou deve retornar à Assembleia Legislativa?
- Estou avaliando, porque mesmo a transição não sendo formalizada, estamos de alguma forma tentando nos organizar. Vai [depender] muito do volume que temos. Também não posso me dedicar como deputado estadual tendo uma transição acontecendo que é profunda. Tenho a licença até o dia 15 (de novembro) e vou ver se vale a pena voltar.


- O que o senhor considera fundamental para desenvolver as principais regiões metropolitanas?
- Primeiro um planejamento. Temos de criar o plano diretor das regiões metropolitanas. Buscar o desenvolvimento habitacional, industrial e de mobilidade urbana começa por um bom plano diretor. É o ponto básico para desenvolver outras áreas.


- Qual será o tamanho da sua base na Assembleia? Já conversou com o deputado Delegado Francischini (PSL), que foi o recordista de votos?
- Ainda não tive a oportunidade de conversar com ele com calma, porque tem a transição e a eleição do Bolsonaro. Mas a gente tem um bom relacionamento, os deputados são novos, e acredito que a gente vai construir uma base boa com o PSL.


- Por que apoiar o Jair Bolsonaro?
- Vejo que o Bolsonaro representa a ruptura política. As pessoas não querem mais a velha política - nas práticas, em especial; não na questão da idade ou do tempo de trabalho. Já demos oportunidade ao PT para cuidar do país e cuidaram por 14 anos. O que fortalece a democracia é a oxigenação no poder.


- Mesmo sendo adversário da atual governadora, o senhor mantém relação de cordialidade com ela. Nacionalmente isso não tem ocorrido. O próprio Bolsonaro falou sobre banir opositores, mandar para a cadeia ou o exílio o que chamou de "marginais vermelhos". Esse tipo de declaração o preocupa?
- Acho que as declarações são de ambos [Bolsonaro e Fernando Haddad, do PT]. É natural que no segundo turno os ânimos acabem se aflorando um pouco além da normalidade. Quando acaba a eleição isso diminui muito. O próximo presidente vai ter que unir o país. Essa vai ser a grande missão dele e acho que ele vai ter competência pra isso.


- É mais difícil para os governantes governar nesse clima?
- É mais difícil governar se a economia não retomar. Não vejo que a política crie problema. A economia que cria um problema para a política. Se o cidadão não tiver emprego, dinheiro para pagar aluguel, dinheiro para comprar medicamento e dar o mínimo de qualidade de vida para seu filho, isso cria um ambiente ruim para o país. Mas se a economia voltar a crescer, empregos voltarem a ser gerados, automaticamente dá uma apaziguada boa nos ânimos.


- O senhor disse em entrevista à Folha de S.Paulo que o eleitor está vacinado contra fake news. A presidente da missão da OEA (Organização dos Estados Americanos) para acompanhar as eleições no Brasil, Laura Chinchilla, porém, afirmou que é inédito em uma democracia o fenômeno de uso maciço de fake news para manipular o voto.
- Eu acho que ela está enganada. Nos Estados Unidos foi uma loucura o uso de fake news. A internet é um instrumento muito difícil de ser fiscalizado. A pessoa solta uma mensagem de WhatsApp com um chip do Paraguai ou de qualquer outro país e para você pegar o fio desse novelo é muito difícil. A sociedade tem de aprender a lidar e buscar comprovar se a notícia é verdadeira ou não nos veículos de tradição, que têm credibilidade.


- Não acredita então em influência no resultado das eleições?
- Acho que tem um ou outro tipo de fofoca que pode distorcer a campanha, mas ainda acredito na boa fé, que as pessoas são muito inteligentes e têm consciência. Penso que o fake news passa a prejudicar quando o histórico da pessoa tem algum tipo de questionamento. Se você tiver um histórico negativo, potencializa. Mas se tiver uma vida que a sociedade conhece, de conduta ilibada tanto na questão particular como profissional, quando chega a notícia não tem tanto impacto.


- As instituições brasileiras e o governo não têm como agir de maneira mais eficaz quanto a isso?
- Acho que a Justiça, o TSE e os TREs têm buscado fazer isso. Quando descobrem, punem. Agora, como eu falei, a internet é uma área extremamente difícil de ser fiscalizada.


- Alguns eleitores mostraram desconfiança com as urnas eletrônicas no primeiro turno. Mas o TRE fez uma auditoria que não constatou problemas. Como o senhor vê essa questão?
- Eu confio nas urnas eletrônicas. Acho que a Justiça Eleitoral trata disso com muita seriedade. Não deixa que haja qualquer hipótese de se discutir fraude. Mas eu também questiono o porquê de países de primeiro mundo, com democracias consolidadas, ainda não terem aderido às urnas eletrônicas.

LEIA MAIS:
-O 'bolsonarismo' se consolida em Londrina
-No Paraná, Bolsonaro perdeu em 92 municípios