No comando da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) Paraná há cerca de 50 anos, o grupo político representado pela chapa XI de Agosto saiu vencedor nas eleições da entidade, que chegaram ao fim na noite desta quinta-feira (25) em todo o Paraná. Com o resultado, a atual vice-presidente da seccional do Paraná, a advogada e professora Marilena Winter, substituirá Cássio Telles pelos próximos três anos. Ela será a primeira mulher à frente da OAB-PR em nove décadas de fundação da entidade. Já em Londrina, o advogado Nelson Sahyun Júnior, também da chapa XI de Agosto, contabilizou 2.147 votos - 42,18% dos eleitores. Entretanto, o processo eleitoral na subseção foi alvo de uma liminar que apontava o suposto cometimento de fraudes por parte de algumas candidaturas, questionamento que fez parte de toda a campanha na cidade.

Embora a advocacia paranaense seja formada por cerca de 100 mil pessoas, apenas 44,7 mil advogados participaram das eleições, a primeira a ser realizada de forma remota. A diferença ocorre porque nem todos os advogados mantiveram suas inscrições ativas ou não estão em dia com o pagamento da anuidade, critério de exclusão do processo.

Dentre os votos válidos na eleição do Estado, 59,68%, foram para a chapa XI de Agosto. Liderada pelo advogado Marcelo Trindade, a Algo Novo recebeu 12,6 mil votos, ou 28,30% do eleitorado. Já a Artigo 5º, encabeçada por Rômulo Quenehen, recebeu 5.382 - 12,01% dos votos.

Imagem ilustrativa da imagem Chapa XI de Agosto recebe maioria dos votos nas eleições da OAB Londrina
| Foto: Gustavo Carneiro

Já em Londrina, a votação contou com a participação de pouco mais de cinco mil advogados. A reportagem entrou em contato com o candidato que recebeu o maior número de votos, Nelson Sahyun Junior. Entretanto, ele não atendeu as ligações.

Principal movimento de oposição à XI de Agosto, a chapa Algo Novo computou 1.447 votos, ou 28,43% dos votos. Na liderança da segunda chapa mais votada, a advogada Luana da Costa Leão parabenizou a vencedora e disse que seu principal valor segue sendo o fortalecimento da advocacia. “Nosso trabalho de oposição continua pela valorização da advocacia, mas trabalharemos juntos pelos próprios três anos", disse.

Completou a disputa, a chapa OAB Que Eu Quero, liderada pelo advogado Mário Barbosa, que somou 1.018 votos, ou 20%.

Conforme divulgou a OAB-PR, pouco mais de cinco mil advogados de Londrina participaram da eleição e a contagem dos votos ainda registrou 192 brancos e 285 nulos.

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JUDICIALIZAÇÃO

Embora temas como o suposto direcionamento de nomeações na advocacia dativa tenham entrado em pauta na campanha, a questão racial foi a que tornou a disputa mais tensa nas eleições de Londrina. Isso porque, pela primeira vez, as chapas deveriam obedecer critérios de igualdade de gênero e reservar 30% das vagas para pessoas negras ou pardas. Houve acusações de supostas fraudes. O único critério adotado para o preenchimento destas vagas foi a autodeclaração. Inicialmente, cerca de 30 candidatos em todo o Paraná foram alvos de questionamentos.

Por conta disso, o candidato Mário Barbosa ingressou com um Mandado de Segurança solicitando a suspensão das eleições. Como resposta ao pedido, a juíza Vera Lúcia Feil, da 6ª Vara Federal de Curitiba, deferiu parcialmente o pedido e determinou prazo de dois dias para que a Comissão apresente a relação dos candidados autodeclarados negros.

Em âmbito administrativo, Barbosa teve negado o acesso às cópias das autodeclarações por parte da comissão eleitoral sob o argumento que de que cessão das informações violaria a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados).

“Tem aspectos muito importantes. Um é porque é quem está a mando da OAB Paraná há mais de 50 anos, então eles têm influência. Quando fizemos o pedido administrativo, negaram essa lista para nós e utilizaram com base a LGPD, uma desculpa jurídica. Por conta disso, recorremos ao Judiciário. Então estamos conseguindo fazer a máquina trabalhar do jeito que tem que ser. Nós temos que levar a questão racial muito a sério, por isso que entramos ”, disse Barbosa.

A reportagem conversou com o presidente da Comissão Eleitoral da secccional paranaense da OAB. De acordo com Ivo Harry Celli Junior, a Comissão foi notificada da expedição da liminar que suspendeu a promulgação dos votos de Londrina às 17h01 desta quinta, pouco menos de uma hora antes do encerramento da votação. Ele afirmou que a Comissão ainda estava estudando quais medidas poderiam ser tomadas. E lembrou que o pedido para a divulgação das autodeclarações das chapas teria sido feito após após o vencimento do prazo dado pela Comissão para a impugnação das candidaturas.

Questionado se a Comissão Eleitoral da OAB teve acesso às fotos dos candidatos no momento da homologação das candidaturas, Junior explicou que não. "Não porque não temos esse parâmetro definido na nossa legislação. Nosso parâmetro são as autodeclarações", lembrou.

Também questionada sobre o tema, a candidata Luana da Costa Leão considerou que a entidade possui autonomia para tratar a questão de forma administrativa. “Confiamos na Ordem, acredito que esta judicialização é intempestiva, inadequada”.

REGIÃO

Em subseções próximas de Londrina, os próximos presidentes serão os advogados Márcio Marques (Apucarana), Aline de Oliveira (Arapongas), Fernando Castanho de Lima (Bandeirantes), Marcio Aurélio do Carmo (Cornélio Procópio), Dirceu Rosa Junior (Jacarezinho) e Aílson Jesus Levati (Santo Antônio da Platina).

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