As campanhas dos candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), que lideram as pesquisas para a Presidência da República, começaram na última semana como uma espécie de "guerra santa". Utilizando-se da religião, ambos buscam táticas para atrair o eleitorado.

Jair Bolsonaro
Jair Bolsonaro | Foto: Gabriela Biló - Folhapress

Termos como "demônios", "diabos", "terrorismo religioso", "Deus acima de tudo" e "fariseus" têm sido utilizados por Lula e Bolsonaro durante discursos pelo país.

Lula
Lula | Foto: Andre Ribeiro/Futura Press/Folhapress

De acordo com Elias Wolff, professor de teologia da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), embora o movimento pareça ter ganhado força recentemente, não é de hoje que a religião tem sido utilizada como arma para garantir votos na política.

"Há um vínculo muito estreito na história da humanidade entre religião e política, porque a religião acaba sendo, desde os primórdios, uma forma de orientar a vida social. Contudo, no momento atual, com o processo de secularização, há uma autonomia da organização social com relação às religiões. Hoje, no nosso tempo, não se justifica mais organizar a sociedade com base a princípios religiosos", disse em entrevista à FOLHA.

Para o teólogo, candidatos têm feito uma leitura errada de determinados princípios religiosos no intento de justificar interesses que não tem nada a ver com religião.

"No Brasil, nós vemos essa tensão social muito grande de determinados grupos ou partidos políticos, que procuram justificar na sua fé o que fazem [...] nós vemos essa ideologização da religião em função de terminados partidos políticos, por exemplo. É um uso indevido dos princípios religiosos", considerou.

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POPULAÇÃO PERDE

Segundo o cientista político Clodomiro José Bannwart Júnior, a oposição política significa divergência de possibilidades, de propostas em relação a gestão do país. Quando se transforma o debate em uma batalha entre "bem e mal", quem perde é a população.

"Quando eu transformo isso em uma visão maniqueísta, eu estou colocando que tenho uma visão que é do bem e a outra que é do mal. E essa visão binária vai transformar a disputa, do ponto de vista democrático, em uma guerra", explicou à FOLHA.

Conforme Bannwart Júnior, a "guerra santa" faz com que outros temas, que também são importantes na discussão da democracia, sejam esquecidos.

"A guerra vai transformar a política em um ringue, ou seja, eu não estou mais olhando a política como possibilidades de propostas que são apresentadas, estou olhando na verdade que estou colocando o eleitor dentro de uma guerra, em que ele tem que escolher um lado. Isso é bastante prejudicial", pontuou.

Mas, na avaliação do especialista, isso está longe de mudar. Ele cita que pautas religiosas atingem quase um terço do eleitorado brasileiro, sobretudo no campo evangélico.

"Essa batalha religiosa, que vem para a política, ela vai permanecer, do meu ponto de vista, porque isso é um fenômeno, já dá primeira década do nosso século, que vem demonstrando uma participação cada vez maior do discurso político no espaço público", analisou.

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