Alvo de CP por xenofobia, vereador tem 10 dias para apresentar defesa
“No Nordeste, o pessoal não gosta muito de trabalhar”, disse Antonio Garcia (União); comissão pode gerar pedido de cassação do mandato dele
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sexta-feira, 25 de agosto de 2023
“No Nordeste, o pessoal não gosta muito de trabalhar”, disse Antonio Garcia (União); comissão pode gerar pedido de cassação do mandato dele
Lucas Marcondes
Alvo de uma Comissão Processante (CP) na Câmara Municipal de Apucarana, no Vale do Ivaí, após atacar nordestinos durante um discurso em plenário, o vereador Antonio Garcia (União Brasil) tem agora um prazo de 10 dias, contados a partir do recebimento da notificação da CP, para apresentar sua defesa por escrito. A informação é do parlamentar escolhido para relatar a investigação, Marcos da Vila Reis (PSD). O documento foi enviado na terça-feira (22), mas ainda não se sabe se foi oficialmente recebido por Garcia.
“A gente está juntando provas. É a fala dele mesmo, o áudio da sessão do dia 14 [de agosto, quando o fato ocorreu], o áudio da sessão do dia 21 e o relato da imprensa. A gente quer deixar tudo isso anexado no processo. Assim que ele apresentar a defesa, a comissão volta a se reunir de novo para analisar todas as coisas e dar andamento no trabalho”, explicou o relator.
“NÃO PODE NORMALIZAR”
A denúncia contra Garcia partiu de outro parlamentar, Moisés Tavares (Cidadania), e acabou acolhida por unanimidade pela Casa – 8 votos a 0 –, na sessão da última segunda-feira (21). O presidente do Legislativo, o denunciado e o denunciante não votam em casos como esse.
Para Tavares, a apuração pode servir para “dar um exemplo” para “coibir esse tipo de manifestação”. “A expectativa é que, de forma muito imparcial, essa comissão possa trabalhar em cima das informações levantadas que comprovam repercussão não só local, mas nacional”, comentou.
“Entendo que é uma fala que denota quebra de decoro parlamentar [...] Como filho de nordestino, me senti extremamente ofendido”, acrescentou Tavares. “A minha maior preocupação é com relação a normalização. A gente não pode normalizar uma situação como essa, principalmente vinda de um agente público dentro de uma Casa que representa a população”
“VAMOS SER RIGOROSOS”
A CP tem 90 dias para terminar, mas o relator disse acreditar que o trabalho “não vai ser muito longo”. “Da nossa parte, vamos ser bem justos e rigorosos com essa questão, com aquilo que a lei determina [...] A gente tem a oportunidade de fazer justiça, e é isso que a gente quer fazer”, projetou Marcos da Vila Reis.
Entre as possíveis sanções, a comissão pode indicar uma advertência, suspensão temporária das atividades e até cassação do mandato. O julgamento caberá ao plenário.
ENTENDA O CASO
Garcia está em seu quarto mandato Câmara de Apucarana. Ele proferiu a fala considerada xenofóbica quando, no último dia 14, a Casa votava um projeto de lei para incentivar o turismo na região. “Um projeto tão importante, o pessoal sai daqui e vai para o Nordeste. No Nordeste, o pessoal não gosta muito de trabalhar – uma parte de lá, não todos. Não vamos abranger todos, não”, disse na ocasião.
Em seguida, Tavares e Rodrigo Recife (União) repudiaram em plenário o ataque do vereador, que, por sua vez, alegou “falar de um jeito e entenderem de outro”. “Para quem saber ler, um pingo é letra. Eu não desfiz das pessoas do Nordeste, eu só dei um exemplo.”
Procurado pela FOLHA na tarde desta sexta-feira (25), o investigado não deu retorno até o fechamento da edição. Em nota divulgada no dia seguinte ao ocorrido, Antonio Garcia pediu desculpas por sua atitude e afirmou repudiar “qualquer ato de discriminação”.