Desde o princípio da pandemia da Covid-19, um grande contingente de dúvidas nos assola diariamente. Passados dois anos, muitas questões foram respondidas, mas outras ainda não. No meio universitário brasileiro não tem sido diferente. Depois de mais de 623 mil mortos e 24,3 milhões de contaminados registrados no país, permanece o medo entre os membros da comunidade e os desafios para gestores assegurarem a manutenção das atividades didático-pedagógicas com segurança.

Cabe lembrar que nas universidades existe grande concentração de estudantes vindos das mais diversas regiões. Neste ambiente complexo, de um lado se colocam aqueles que entendem que já é possível retornar às aulas presenciais, devido, entre outros fatores, ao alto número de vacinados, à redução de internações nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) e à baixa letalidade da cepa ômicron.

De outro lado, posicionam-se aqueles que se preocupam com o crescimento expressivo do número de contaminados, com as sequelas da Covid-19 e o risco de um colapso no sistema de saúde, num contexto de falta de testes e crescimento de internações em enfermarias. E ainda existe uma pequena parcela de negacionistas, o que é uma contradição esdrúxula.

De que lado se posicionar? A resposta deve vir da ciência, sem manipulação, e jamais pela politização do tema. Erro que ocorre nas instâncias superiores de poder no Brasil e que nos tem feito pagar um preço altíssimo.

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Resultado de pesquisas realizadas por cientistas e instituições reconhecidas por seu prestígio internacional, algumas evidências já foram comprovadas, dentre estas: o “kit Covid” não evita a doença; o contágio ocorre pelo ar, por meio da introdução do vírus pelas vias respiratórias; a vacina é eficaz e tem sido responsável pela redução drástica dos casos graves e internações em UTIs; crianças podem e devem ser vacinadas; o distanciamento social, a higienização das mãos e o uso de máscara de forma correta são protocolos que, em conjunto, reduzem significativamente o risco de contaminação; ninguém pode prever quando a pandemia irá acabar, pois novas cepas podem surgir a qualquer momento, principalmente em locais em que mais circula o vírus.

Observados estes pontos é possível delinear um caminho para o retorno seguro das aulas presenciais, mas sem absoluta certeza. Sempre existe uma parcela de risco. Para tomada de decisão, portanto, é preciso observar se a comunidade está informada sobre estes riscos, as medidas de proteção e a evolução do quadro pandêmico, que pode sofrer drástica alteração, como ocorreu recentemente.

Cansados da prática do ensino remoto emergencial e sabedores da importância da realização das atividades presenciais para uma boa formação, após dois anos, alunos e professores aprofundam o debate sobre o momento e as condições para o retorno presencial.

Imagem ilustrativa da imagem Retorno do ensino presencial nas universidades
| Foto: UEM/Divulgação

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Com o conhecimento acumulado até aqui, é possível dizer que, respeitados os protocolos estabelecidos, com a comunidade universitária vacinada e o monitoramento periódico do número de contaminados, é possível retornar. Para tanto, é imprescindível a colaboração de todos, não simplesmente apontando fragilidades, mas dando solução rápida para os problemas emergentes.

A universidade pública brasileira nunca viveu num ambiente ideal, pelo contrário, e hoje vive um de seus momentos mais difíceis, com sucessivos cortes de pessoal e de recursos financeiros. Mas ainda é nela que são produzidas as pesquisas que nos apontam as soluções para as graves crises que enfrentamos. Ao contrário do que dizem os mal-intencionados, a universidade púbica não parou durante a pandemia. Orientou a população, investigou o comportamento e formas de combate ao vírus e prestou assistência à saúde, enquanto mantinha suas atividades administrativas por meio de teletrabalho e suas atividades didático-pedagógicas em ensino remoto.

Agora, cabe à universidade apontar o caminho para o retorno das aulas presenciais num ambiente seguro e colaborativo, através da leitura científica dos problemas e não da coleta de opiniões ou para agradar projetos políticos eleitorais.

Ricardo Dias Silva é arquiteto e urbanista pela UEL, doutor em Arquitetura e Urbanismo pela USP e vice-reitor da UEM

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