No jornalismo, o editor é aquele que revisa e corrige o trabalho de quem escreve, antes do conteúdo ser levado ao público. Na maioria das redações, também é o editor quem escolhe o que o jornal deve ou não deve publicar.

Diante dessa breve definição, fica mais fácil entender por que uma recente fala de Dias Toffoli, presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), foi tão escandalosa. Num evento online, o chefe do Judiciário brasileiro disse: "nós, enquanto Judiciário, enquanto Suprema Corte, somos editores de um país inteiro, de uma nação inteira, de um povo inteiro".

Quando ouvi isso, além da natural indignação, também me questionei se o ministro não teria passado esse texto para alguém “editá-lo” antes de ler. É mesmo possível que ele não tenha percebido o quão entorpecida de arrogância essa frase soaria?

Pode ser que não. Poder ser que o correto senso de limites que o STF deveria ter ficou num passado distante e, agora, tudo o que resta aos ministros é tentar normalizar as ininterruptas usurpações de poder, as imposições de censura, as ordens de prisão sem justo fundamento e o uso cada vez mais frequente de todo um arsenal de artifícios jurídicos para punir desafetos que ousam criticá-los.

Podem tentar, podem até vencer algumas batalhas e calar temporariamente aqueles que mais lhes incomodam, mas jamais conseguirão domesticar o povo brasileiro. Não nos acostumaremos com os abusos dos “editores da nação”.

A cada novo surto de autoritarismo, prosseguiremos fazendo uso das ruas, das redes sociais e de cada ambiente possível para expor o ato abusivo e demonstrar toda a vergonha e repulsa que sentimos diante de tais atitudes.

O desejo que alguns desses senhores parecem ter, que é o de nos ver aceitando calados, com medo, cada um de seus espasmos ditatoriais, nunca deixará de ser aquilo que é: um sonho de egos inflados e mentes perturbadas.

E a razão disso é simplesmente o mundo real. Por mais audacioso que pareça o projeto de sociedade dócil que tentam fabricar, é impossível acabar com as críticas, as piadas, os memes e todas as inúmeras manifestações dos brasileiros que têm por alvo a pior formação do STF na história da Corte.

É por isso que a “edição” que querem nos impor vai falhar. Culpem a realidade.

Filipe Barros, deputado federal