O governo federal insiste em uma narrativa tão desgastada quanto equivocada ao afirmar que "o mercado joga contra o país". Esta retórica, proferida pelo presidente Lula e seus ministros, revela-se não apenas falaciosa, mas também perigosamente conveniente para mascarar as próprias deficiências da atual gestão.

É risível observar o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a ministra do Orçamento, Simone Tebet, tentarem justificar o injustificável. Enquanto apontam supostas conspirações do mercado financeiro, os números teimam em contar uma história bem diferente. A dívida pública, essa senhora implacável que não se dobra a discursos vazios, já ultrapassou a astronômica cifra de R$ 7 trilhões, com um crescimento vertiginoso de 1,8% em apenas um mês.

O governo se vangloria de uma suposta diminuição na evasão escolar, brandindo o programa Pé-de-Meia como um troféu. Contudo, a realidade é muito mais cruel: quase 400 mil jovens brasileiros entre 6 e 14 anos continuam fora das salas de aula. É uma vergonha nacional que 9 milhões de estudantes não conseguem concluir o ensino médio, com uma perversa concentração de 71,6% entre pretos e pardos.

E quando o assunto é crescimento econômico, o governo parece viver em uma realidade paralela. As projeções do PIB são constantemente revisadas para baixo, enquanto a dívida pública teima em subir, caminhando para ultrapassar 81% do PIB em 2026. Enquanto nossos vizinhos latino-americanos mantêm uma média de endividamento de 59% do PIB, o Brasil segue na contramão, como um paquiderme desgovernado rumo ao precipício fiscal.

É mais fácil culpar um mercado supostamente conspiratório do que assumir a responsabilidade por decisões equivocadas e pela ausência de reformas estruturantes. O Brasil merece mais do que narrativas fantasiosas e bodes expiatórios. Merece a verdade, por mais incômoda que ela seja.

Ruy Carneiro Giraldes Neto (servidor público) - Londrina

O valor da vida e os planos de saúde

No artigo "O valor da vida e as negativas de coberturas do planos de saúde" (Espaço Aberto, 06/12), a drª Natália Soriane defendeu o custeio, pelos planos de saúde, de tratamentos não previstos em contrato. Citou jurisprudência, o valor da vida, a Constituição Federal, o código de defesa do consumidor... Permita-me discordar. Não das citações ou da conclusão a que levam, muito menos do valor da vida, mas da obrigatoriedade de planos particulares em custearem tratamentos não previstos. O direito à vida deve ser garantido pelo estado, pago por todos nós. Não deve ser obrigação de particular. A lei deve mudar. As decisões devem mudar. Não mudam porque não existe parlamentar ou juiz sem plano de saúde. Se os planos só tivessem que arcar com procedimentos previstos, as vantagens seriam inúmeras. Primeiro, o custo de ter um plano seria menor. Depois, os postos de saúde teriam menos superlotação (a pessoa não iria procurar serviço público quando o problema fosse o coberto pelo seu plano). Com custo bem menor, as pequenas empresas teriam condições de dar plano de saúde para seus funcionários (por exemplo: hospitais dariam planos com cardiologistas e ginecologistas por ser grande a quantidade de mulheres empregadas; uma hamburgueria daria planos com ortopedista pelo risco de uma fratura de seus entregadores). O governo teria que investir menos em pessoal e infraestrutura para a saúde. E, pagaria com facilidade por procedimentos complexos. Como está, somente 24% dos brasileiros possuem plano de saúde. Só os privilegiados têm direito à vida?

Ildo Yukio Marubayashi (agricultor) - Londrina