Eu nunca li um livro. Por óbvio também nunca escrevi um. Nunca frequentei bibliotecas e, para falar a verdade, não dou a mínima para elas. Não é por isso que eu não mereça ser agraciado com a medalha Ordem do Mérito do Livro, concedida pela Biblioteca Nacional.

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Mereço sim, e merecia mais. A Academia Brasileira de Letras que reserve meu lugar. Mereço porque eu sou o representante de grande parcela da população. Sou representante daqueles que preferem as armas aos livros; daqueles que são contra o “sistema”, mas o utilizam para benefício próprio; sou representante dos que dizem ser democráticos, mas atacam as instituições pilares da democracia; sou também representante dos que são contra a corrupção, mas fraudam atestados médicos para faltar ao serviço; represento uma camada da sociedade que não gosta de leitura, preferem os memes da internet; uma camada social que representa os brucutus. E essa é a era dos brucutus e eu sou seu maior representante.

Mereço sim, porque muitos outros brasileiros receberem a mesma distinção, e eu sou um brasileiro. Ora, porque são melhores do que eu Carlos Drummond de Andrade, Gilberto Freyre, Oscar Niemeyer e Afonso Arinos, que igualmente como eu receberam a honraria? Só porque escreveram um livro e eu não? Isso mostra o quanto essa medalha da Biblioteca Nacional não era democrática, só era concedida a quem tinha escrito um livro! Eu inaugurei a homenagem àqueles que sequer leram um! Isso sim eu chamaria de inclusão social.

Só lamento que meus seguidores não lerão este texto pois são todos avessos a livros, leitura, jornais e tudo relacionado a bibliotecas.

Mas foi uma justa homenagem. Aliás, foi destruindo uma homenagem que eu me elegi deputado federal. Homenagem nem sempre são merecidas.

João Eugênio Fernandes de Oliveira (advogado) Londrina

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