Finda-se o processo eleitoral, inicia-se a transição e aguarda-se o novo governo. Neste momento histórico nos deparamos com a realidade revelada nas urnas: temos o primeiro presidente eleito, do povo e pelo povo. O fato é notório e não admite discussões e assim o coração do povo se enche de esperança, o mundo nos assiste com um misto de surpresa e admiração, embora alguns confiem desconfiando, mas certamente convictos que o Brasil cresceu e seu povo amadureceu, restando consolidada a democracia não só porque o novo presidente foi eleito pelo povo, mas porque saiu do próprio povo.


Fato inédito no Brasil. Um país, até então, governado por reis, por presidentes escolhidos em gabinetes ou ainda quando eleitos, lideranças formadas nas camadas sociais mais privilegiadas, sem experiência vivencial com a realidade dos milhões de brasileiros miseráveis e marginalizados (não vivência esta que necessariamente não é demérito, mas não é inédito), pelos próximos quatro anos será governado por um líder popular.


Muitos talvez estejam se perguntando: Será isso bom? Onde isso nos levará? O povo soube escolher? Estas questões não podem nem nunca poderão ser respondidas com certeza sem se considerarem os fatos reais futuros, e todos de alguma forma temos experiência nisso, afinal quem persiste imune a escolhas aparentemente bem feitas, mas ao final frustrantes? Não cobremos por conta disso a resolução total de cerca de 500 anos de desajustes. Se a nova liderança tem o dever de acertar, a história lhe dá o direito de errar.


Neste contexto devemos congelar a imagem histórica, reler o passado e, a partir de então, construir o futuro. Se isto já foi feito anteriormente no Brasil por um presidente, sê-lo-á pela primeira vez a partir da realidade vivida dos marginalizados e excluídos, e o que é também importante, com respeito à ordem jurídica, à Constituição e às instituições democráticas estabelecidas, construindo-se uma nova ordem que apesar de inovadora não perde o substantivo, compromissos estes assumidos pelo futuro chefe da Nação.


Devemos abandonar os votos de sucesso menos desejado e mais recomendado; devemos, juntos, trabalhar incessantemente para o real restabelecimento da sociedade brasileira quebrando, de um lado, as estruturas distorcidas e viabilizadoras do mal, como a fome que emerge, a mortalidade não sentida, o analfabetismo excludente, o desemprego agravado, a degradação ecológica e a corrupção, e de outro, reconstruindo estruturas vivificantes, capazes de dar a todos o alimento que fortalece, a saúde mais efetiva, a educação capacitante, o trabalho motivador, a regeneração cósmica e a correção incondicional, não só pregada, mas vivida, e não apenas desejada, mas viabilizada pela esperança vencedora do medo, já ocorrida, mas a aguardar ansiosamente seja por todos nós implementada.


O povo se dá uma oportunidade. Este é o símbolo maior da democracia, sistema do povo, pelo povo e para o povo. Passemos, doravante, do corporativismo para o cooperativismo social; trabalhemos em busca do bem comum e não individual, de modo que todos tenham igualdade de oportunidades e cada brasileiro tenha condições de exercer seu sagrado direito de viver. De efetivamente viver, vivendo então o Brasil.


ANDRÉ LUIZ DE ALMEIDA MENDONÇA é advogado da União em Londrina e bacharelando em Teologia pela Faculdade Teológica Sul-Americana