Liberdade de Lula e suspeição de Moro abrem de novo as trincheiras
PUBLICAÇÃO
quarta-feira, 10 de março de 2021
Folha de Londrina
Nos últimos meses, só um assunto conseguiu competir nos noticiários com os números estratosféricos de casos e mortes pela Covid-19 no Brasil: a suspensão das condenações de Luis Inácio Lula da Silva pelo ministro do STF Edson Fachin, o que tornou o ex-presidente novamente elegível do dia para a noite.
Na segunda-feira (8) , quando Fachin anunciou sua decisão, os brasileiros levantaram de novo um debate que desde 2018, ano da prisão de Lula, mobiliza a opinião pública. O assunto tomou a imprensa de surpresa e também as redes sociais que ressuscitaram acaloradas discussões em torno da culpa ou inocência de Lula, os meandros do processo e a sentença do juiz Sérgio Moro que condenou o ex-presidente às vésperas da eleição presidencial.
Há poucos meses, o conteúdos das conversas entre o juiz e os promotores da Lava Jato, divulgados pelo site The Intercept, arranharam todas as certezas acerca do papel da justiça no caso, mas o assunto foi deixado em banho-maria enquanto os advogados do ex-presidente procuravam por todos os meios anular as condenações.
Foi pelas mãos de Fachin que Lula se tornou de novo elegível, mas até esta terça-feira muitos se perguntavam o que teria movido o ministro a tal decisão. Analistas consideram que ao tirar Lula do tabuleiro da Lava Jato, Fachin procurou abrir caminhos para que a suspeição sobre Moro, que seria julgada nesta terça-feira pelos ministros do STF, não se consolidasse dentro de um prognóstico considerado até humilhante para o juiz que já foi considerado um dos nomes mais fortes do Judiciário.
Afastando o caso traumático da condenação de Lula do contexto da Lava Jato, também se preservaria, segundo os analistas, a continuidade da operação que deflagrou outras investigações de políticos e empresários poderosos, ainda que tubarões como Aécio Neves, Michel Temer e Renan Calheiros tenham sido blindados pela condição de foro privilegiado que nunca permitiu que seus indiciamentos chegassem a julgamentos cabíveis.
Mas ainda que se considere, como pregam alguns , a contaminação das relações do juiz da Lava Jato com os promotores, que teria culminado na prisão de Lula, não dá para negar que no âmbito da operação muitas coisas chegaram ao conhecimento público de uma forma que nunca haviam chegado antes: a estreita relação de políticos com empresas, sobretudo empreiteiras, em trocas de favores; a prisão de Eduardo Cunha, ex-presidente do Congresso, por corrupção; o apartamento lotado de dinheiro utilizado pelo ex-ministro do governo Temer Geddel Vieira Lima são fatos que não podem ser considerados ficção.
Enquanto muitos festejam a liberdade de Lula, livre de condenações e desde já apontado como principal antagonista de Jair Bolsonaro em 2022, ainda se aguarda a decisão dos ministros do STF sobre a suspeição de Moro na condenação de Lula por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá. Nesta terça-feira, a votação no Supremo acabou empatada por 2 X 2, com votos de Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski condenando a atuação de Moro e os votos de Carmen Lúcia e Edson Fachin rejeitando o pedido da defesa do ex-presidente para que se declare a suspeição do juiz no caso.
A sessão foi interrompida por um pedido de vista do ministro Kassio Nunes que adiou a decisão. Tudo indica que o julgamento, iniciado em 2018, ainda haverá de render muitas sessões, enquanto nas redes sociais e nos noticiários pululam julgamentos paralelos que trazem de volta um combustível capaz de incendiar a opinião pública: a ação da Lava Jato no caso de Lula. Diante disso parece que todos os outros julgamentos e condenações empalidecem ou são deixados em segundo plano, paradoxalmente, no âmbito de uma mesma operação.
A FOLHA agradece a preferência de seus leitores!

