Quantas vezes você já foi desencorajado por um líder ou recebeu um feedback em tom violento? E, ainda, quantas vezes você já falou com alguém da sua equipe em um tom mais agressivo do que deveria? Todos sabemos que esses são comportamentos inaceitáveis, no entanto, relatos variados comprovam que atitudes assim ainda fazem parte do cotidiano de muitas empresas em todo o mundo. Isso porque, apesar das recentes mudanças culturais, reforçadas pela chegada de novas gerações no mercado de trabalho, o mundo corporativo carrega uma herança comportamental centralizada em resultados, em que as relações humanas têm menos peso do que deveriam.

É claro que esse cenário está se transformando e evoluindo. Mas a comunicação violenta ainda é um desafio do dia a dia das corporações, principalmente porque diz respeito à personalidade dos indivíduos e à maneira como cada um reage a estímulos externos. Em uma realidade em que grande parte dos profissionais precisou se isolar em seu próprio ambiente, com mini versões de escritórios-casa e interações limitadas a reuniões virtuais, além de toda pressão e preocupações acentuadas pela pandemia de Covid-19, o tema se tornou ainda mais evidente.

Em suas bolhas transmitidas por pequenas telas virtuais, as pessoas passaram a se comunicar de forma mais direta – não existe mais aquele tempo para o cafezinho e uma conversa descontraída em que mal entendidos são rapidamente solucionados. Os problemas também parecem ter se tornado maiores, os prazos mais curtos e a exigência por resultados mais alta. Isso tudo contribui para a escalada de sentimentos e pode se refletir na maneira como as pessoas se comunicam, verbalmente e não-verbalmente, já que as expressões faciais são destacadas nas interações por vídeo.

A conjuntura atual também escancara as diferenças de estilos de vida entre homens e mulheres, pessoas mais jovens e mais velhas, casados e solteiros, com ou sem filhos, diversidade racial e LGBTQIA+. E, todos sabemos, lidar com as diferenças não é tão simples quanto parece. Ao mesmo tempo em que as empresas investem em ambientes diversos e acolhedores, a empatia se apresenta como elemento fundamental para a construção de uma base sólida para a viabilidade dessas transformações, inevitáveis e extremamente necessárias para o desenvolvimento da sociedade.

É nesse cenário que ganha força a aplicação do conceito de comunicação não-violenta (CNV), criado pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg nos anos 1960, mas que só agora começa a ecoar nos mais diversos espaços, sejam eles profissionais ou pessoais. A pesquisa defende que em qualquer tipo de relação predomine a comunicação eficaz e empática e começa a ser aplicada com frequência no ambiente corporativo.

Para que a CNV funcione na prática, é preciso orientar, em primeiro lugar, os profissionais em cargos de liderança e que, em geral, ditam o ritmo e o clima das empresas. Porém, esse conhecimento deve ser amplificado para todas as áreas e deve fazer parte da rotina de todos os colaboradores, começando pelo alinhamento entre fala e atitude.

Ouvir, acolher e se colocar no lugar do outro são premissas básicas dessa comunicação, que parecem simples, mas são extraordinariamente eficazes. Seres humanos se sentem constantemente julgados e, muitas vezes, “fora de lugar”. Por isso, quando paramos para ouvir o que o outro tem a dizer e dedicamos tempo para tentar entender determinadas situações, evitamos conflitos e, ainda, estimulamos laços de confiança e respeito.

A comunicação não-violenta é sobre entender que os resultados que esperamos dependem das nossas atitudes e que se esperamos uma mudança do outro, somos nós que precisamos agir primeiro. Isso vale principalmente para os líderes, pois nos espaços profissionais é muito comum que os times reflitam as atitudes e trejeitos da liderança.

Agora, em complemento aos questionamentos levantados no início desse texto, é evidente que a violência ainda está presente em nossas relações de trabalho, mesmo que sutil, mas existe um caminho para transformar essa realidade. A comunicação não-violenta é uma das soluções, mas depende de engajamento, tanto de líderes quanto de liderados: esse é o verdadeiro trabalho em equipe.

Adriana Pavlakis, Diretora de People & Performance na International School