Lisboa ficou inundada de jovens durante uma semana. O motivo foi o encontro com o papa Francisco, na XXXVII Jornada Mundial da Juventude, evento criado pelo papa João Paulo II em 20 de dezembro de 1985. O maior evento católico desse género ocorreu em Manila em 1995, numa dessas Jornadas, quando se reuniram 4 milhões de jovens para ver o papa de então. Em 2013, Francisco se encontrou com cerca de 3 milhões e setecentos mil no Rio de Janeiro; foi o segundo maior!

Jovens de 151 países acorreram à capital portuguesa, num misto de fé, festa e alegria, dando a cor respectiva a um encontro deste nível. Lisboa, capital de um país com 10 milhões de habitantes, viu a sua população dobrar repentinamente em poucos dias. Portugal testou com sucesso a sua capacidade de acolhimento e repetiu a façanha de ter sediado a Exposição Universal em 1998, quando reformou toda a área degradada junto ao rio Tejo.

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Hoje, a nação se defronta com a questão dilacerante dos abusos e é palco de racismo e xenofobia, o que gera infelizmente atitudes negativas da população. Em 1982, quando foi visitado por João Paulo II, o papa pop star, era um país pobre que queria ansiosamente mostrar a sua ancestral virtude: a acolhida! Agora, é um país inserido na Europa, que procura em baús antigos que deve ser de forma perene, a sua principal caraterística: a abertura ao mundo.

Uma Jornada Mundial da Juventude é uma oportunidade única, acima de tudo. Os papas sentem o calor humano juvenil contagiante e mostram à Igreja e ao mundo o potencial transformador que possuem em suas fileiras. Francisco é muito querido; a sua postura humilde e a espontaneidade o tornam próximo de todos, de modo especial dos jovens.

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Mas é também um momento, em que o papa dá os “seus recados” em forma de orientação, manifestando a essência do seu pensamento. Bergoglio não desperdiçou nem um segundo! Do alto dos seus 86 anos, de cadeira de rodas, encarnou o ancião limitado, possuído, porém, por um espírito arrojado de vanguarda, automaticamente identificado com as caraterísticas psicológicas juvenis.

Os milhares de jovens viram em Francisco o seu porta voz. O seu pastor. Credível, próximo e amável com todos. Aliás, a abertura sem exceção, tem sido a tônica preponderante das suas palavras. Na noite do dia 03, no Parque Eduardo VII, ele levou a multidão a repetir junto: “Todos! Todos! Todos! Cabem na Igreja”! E quando Francisco fala assim, ele enseja quebrar as barreiras que ainda se configuram como pedágio para os excluídos. Ele é um timoneiro, que comanda a barca de Pedro por denso nevoeiro, sem medo, no mar aberto.

Os grandes problemas que se colocam hoje à humanidade e de modo especial, ao mundo ocidental, não são alheios à teologia de Francisco. As suas palavras são penetrantes: “Neste momento histórico, os desafios são enormes e os gemidos dolorosos, mas abracemos o risco de pensar que não estamos numa agonia, mas num parto; não no fim, mas no início dum grande espetáculo. Por isso, sede protagonistas de uma `nova coreografia´ que coloque no centro a pessoa humana, sede coreógrafos da dança da vida.”

À velha Europa, o papa não poupa críticas. “Para onde navegais, Europa e Ocidente, com o descarte dos idosos, os muros de arame farpado, as mortandades no mar e os berços vazios? Para onde ides se, perante o tormento de viver, vos limitais a oferecer remédios rápidos e errados como o fácil acesso à morte, solução cômoda que parece doce, mas na realidade é mais amarga que as águas do mar. O mundo tem necessidade da Europa, da Europa verdadeira: precisa do seu papel de construtora de pontes e de pacificadora no Leste europeu, no Mediterrâneo, na África e no Oriente Médio”.

Por essas e outras, os jovens foram ao delírio. Acreditam num mundo diferente. Apostam que o planeta tem futuro. Quem viver verá! No final, ficaram as palavras imponentes: “Não tenhais medo!”

Padre Manuel Joaquim R. dos Santos, Arquidiocese de Londrina