Trata-se de um termo praticamente desconhecido, há anos. Contudo, faz parte do glossário democrático da maioria dos países e aplica-se a uma pena correspondente a atos praticados durante um mandato, que atentaram em última análise, contra a própria democracia. A impossibilidade de ser eleito durante anos, trará como efeito colateral não desprezível, a evaporação entre as brumas da memória, do patrimônio político.

Desde 1988 o país já conheceu alguns políticos que foram considerados inelegíveis pela Justiça Eleitoral. Portanto, Bolsonaro não é fato inédito e tão pouco estranho aos que acompanharam sua postura, principalmente como presidente da República.

Embora o seu processo tenha sido motivado por uma das dezesseis ações que estavam no Tribunal, não há dúvidas que o julgamento contemplou a sua conduta geral, de frequentes e permanentes ataques à democracia e ao Estado de Direito.

É fato que Bolsonaro quis permanecer no poder. Nunca negou ser admirador do golpe de 1964 e dos torturadores desse regime totalitário. Seu pupilo Tarcísio acaba de incluir o nome de Erasmo Dias, expoente da ditadura militar, em trecho de rodovia no interior do Estado.

Bolsonaro, por um triz não quebrou a espinha dorsal das nossas Forças Armadas, arrastando-as para o lamaçal de uma aventura golpista. Foi por bem pouco, reconhecem agora generais, respirando aliviados. Bolsonaro é a mão invisível da tentativa de impedimento da posse do novo presidente eleito.

Seu ajudante de ordens, que extrapolou todas as nuances da função institucional que cumpria, está preso e em posse de um arsenal de informações que a história um dia conhecerá. Não. Não foi apenas um episódio com embaixadores, que o tornou inelegível!

Já em 2020 ele dizia ter provas da fraude das eleições de 2018, em que tinha sido eleito! Nunca provou nada. Mentiu. Foi uma vida inteira na baixa política, no baixo clero, na medíocre presidência. Instigou milhões a acreditarem que a esquerda deveria ser criminalizada per si e com isso reforçou a sua imagem de “messias”, usando dinheiro público em motociatas pelo país afora. Foi por um triz que o Brasil venceu.

Bolsonaro continuará respaldado por uma parcela de cidadãos que agora me leem e não aceitam a anulação dos processos contra Lula, classificando o STF com adjetivos impublicáveis nesta FOLHA. O advogado Zanin, no Senado, deu uma aula sobre juridiquês processual, mas não creio que tenha surtido efeito. Vida que segue, em que os cidadãos de bem torcem pelo seu país e se beneficiam das condições favoráveis ao crescimento econômico.

As boas notícias não são poucas ultimamente. O arcabouço fiscal aprovado, a reforma tributária chegando, a inflação domada e, quem sabe, os juros a médio prazo, caindo. Neste minuto, a cesta básica acaba de cair 4% em Londrina. Bolsonaro ficará para trás. Não o que ele representa!

O brasil minúsculo, homofóbico, desigual, racista, escravagista, que tanto nos envergonha, esse continuará por longos anos. Será o nosso grande desafio interno vencermos o que nos amarra a um passado que ali deve permanecer! Só assim avançaremos com civilidade, fazendo desta nação uma mãe de todos e para todos. A classe econômica pensante, sabe que o brasil miúdo não interessa a ninguém!

A democracia está longe de ser ideal, mas é o melhor que temos! Nenhum crescimento econômico e bem-estar social serão profícuos e sustentáveis, se o povo não puder manifestar-se e trocar os seus representantes periodicamente. Desde Montesquieu, o equilíbrio entre os poderes é imprescindível. Na Constituição brasileira, eles devem funcionar em harmonia, de maneira a se complementarem e a se limitarem em suas ações.

Um Poder controla o outro. Não foi isso que vimos durante quatro anos. Foi uma tensão constante, provocando aparentes desiquilíbrios e usurpações. Mas que não restem dúvidas! Com a vénia dos discordantes, precisamos reconhecer que o Supremo foi de extrema importância para preservar a nossa frágil democracia! O resto, é história.

Padre Manuel Joaquim R. dos Santos, Arquidiocese de Londrina

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