No Livro VII da obra “A República” de Platão, existe o mito da caverna sobre o conhecimento e a educação para se construir um Estado ideal. É uma tentativa de explicar a condição de ignorância em que vivem os seres humanos aprisionados pelos sentidos e os preconceitos que impedem o conhecimento da verdade. Nesse, se imagina um grupo de pessoas que vivia em uma grande caverna, com seus braços, pernas e pescoços presos por uma corrente e voltados para parede que fica no fundo. Atrás das pessoas, existe uma fogueira e outros indivíduos transportavam objetos que projetavam sombras na parede, observados pelos prisioneiros.

Estando presos, podiam ver apenas as sombras julgando serem aquelas projeções a própria.

Uma das pessoas consegue se libertar e sai para o mundo. As luzes, as cores e formas assustam o fugitivo, mas com o tempo, ele admira as novidades e diversidade da sua descoberta. Tomado por misericórdia, volta pensando em maravilhar os ex-companheiros presos e conta sobre as maravilhas do mundo exterior. Os ex-companheiros não acreditam, chamando-o de louco e o matam. A caverna simboliza o mundo. As sombras projetadas representavam a falsidade dos sentidos e as correntes mostram os preconceitos e opiniões que aprisionam a humanidade à ignorância e ao senso comum.

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E se no Brasil tivéssemos o senso crítico e razão para nos libertar das correntes e buscar o conhecimento verdadeiro fora das cavernas seríamos outro povo. Estaríamos na frente, teríamos mais recursos e seríamos mais felizes. Mas estamos presos a ideologias de igrejas da Idade Média, a dirigentes despreparados ou outros que atuam como Robin Wood do mal, além de roubos, da falta de caridade e honestidade, incorreta distribuição de riquezas; e também medo de um comunismo imaginário. E assim continuamos pobres tanto de matéria como de espírito e só nos resta rezar acreditando no dogma de Matheus 14,7: “Os pobres vocês sempre os terão consigo”. Já pensava ele na América Latina e África?

Deveríamos ter uma ligação direta com Deus, esquecer essa intermediação de algumas igrejas retrógradas. As quais nos ameaçam com o inferno dos demônios se formos desorientados e nos premiam com o céu dos santos se formos comportados, dito pelo jornalista dramaturgo Bernard Shaw no começo do século XIX, aprisionando aqueles simples de coração. O quanto nos aprisionamos a desnecessários sacrifícios.

Rubem Alves, psicanalista e educador, fala: Tenho um grilo sério com gente de convento, pois toda a nossa educação, espiritual- ocidental é baseada no sofrimento. “Deus se deleita quando vê os homens sofrendo.” E é por isso que as pessoas religiosas quando fazem promessas, prometem o absurdo de subir 400 degraus de joelhos, tendo a ideia de que “Deus é sádico”, quando poderia prometer, simplesmente ser mais feliz.

Ariana Suassuna, se conversasse com Deus, iria lhe perguntar por que sofremos tanto? Que dívida é essa que o homem tem que morrer para pagar? Porque existem alguns felizes e outros que sofrem tanto, nascidos do mesmo jeito, criado no mesmo canto. Quem foi temperar o choro e acabou salgando o pranto?

Arrogância, sair da caverna e ir além? A história da torre de Babel e de Ícaro mostram que, ir além das limitações, nos conduz à frustação e ao fracasso. Lendas da igreja que não podem ser associadas a um Deus sábio e caridoso.

Derrotados na segunda guerra, Japão e Alemanha, graças a fatores políticos e culturais chegaram ao sucesso e o Brasil deveria ter também resultados, pois temos os ingredientes. Nos falta investimento em educação como a Coréia, Canadá, Islândia. Conseguiríamos sair da fome que nos assola. Três em cada dez brasileiros não sabem se terão a próxima refeição. É triste para um país que deveria ser o celeiro do mundo.

O Brasil tem hoje, a oportunidade de construirmos o amanhã que desejamos. Por que não conseguimos?

Nélio Roberto dos Reis, professor universitário, Londrina

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