Em 1922, há cem anos, o Brasil vivenciou a sua mais violenta campanha eleitoral presidencial em toda a sua história. Houve notícia falsa, boatos infundados espalhados, envolvimento de setores do exército, criou-se um ambiente de instabilidade que influiria nos destinos políticos do país, no mínimo, pelos 60 anos seguintes.

Os anos anteriores haviam sido de revolta, não de rebelião, dentro das Forças Armadas brasileiras, dada a nomeação de um civil como ministro da Guerra, tratava-se de Pandiá Calógeras.

Setores do exército, em especial os oficiais mais jovens, enxergavam nesta situação um desprestígio para a força e uma descontinuidade das ações do marechal Hermes da Fonseca, que havia sido ministro da Guerra e presidente da República entre 1910 e 1914.

O marechal, que também presidia o Clube Militar, despontava como candidato de oposição em 1921, disposto a enfrentar o presidente de Minas Gerais, Arthur Bernardes, apoiado pelas principais oligarquias dopaís.

Em outubro daquele ano, “O Correio da Manhã”, jornal do Rio de Janeiro, publicou a fac-símile de duas cartas atribuídas à Arthur Bernardes, soube-se mais tarde que eram falsificadas, nelas havia ofensas pessoais à Hermes da Fonseca, aos seus apoiadores e ao Exército.

Foi um escândalo. O Clube Militar criou uma comissão que determinou a sua autenticidade, negada por Bernardes. Ao fim, o marechal não mais se candidatou, sendo seu lugar ocupado por Nilo Peçanha, também um ex-presidente da República e que passou a receber o apoio dos militares conflagrados com a situação.

Em relação ao campo político, havia no exército dois grupos: o dos oficiais superiores que preconizava pelo profissionalismo da Força e não envolvimento com questões partidárias e eleitorais e; outro dos jovens oficiais, tenentes em sua maioria que defendia um envolvimento pleno dos militares com a política e a condução do país.

Realizadas as eleições em março de 1922, Arthur Bernardes foi declarado eleito, os derrotados denunciaram fraude, os tenentes colocaram em prática os seus planos para “salvar a república”.

O tenentismo foi o mais longevo movimento contestatório da República Velha, se opunha ao “coronelismo”, chamado de a “velha política”, com o poder centrado no chefe político local, nas oligarquias estaduais até atingir o poder central da república.

Os tenentes não possuíam um programa de ideias claras, queriam impedir a posse e depois derrubar Bernardes. Eram liberais na economia, mas defendiam ideias autoritárias para a política, demoraram anos até juntarem forças com políticos civis, no caso Getúlio Vargas.

A aurora tenentista deu-se à cinco de julho de 1922, quando à 1h20, na madrugada, os canhões do Forte de Copacabana dispararam. Era uma reação a prisão do Marechal Hermes e ao fechamento do Clube Militar.

Outras unidades haviam prometido aderir à revolta, a Vila Militar com o tenente Costa e Silva, presidente no regime militar de 1964, o Batalhão Ferroviário de Luís Carlos Prestes e, a Escola Militar, mas foram contidos ou não se movimentaram.

Cercados, sob o comando do tenente Antonio Siqueira Campos, da guarnição do forte restaram poucos que enfrentarem tropas leais nas areias da Praia de Copacabana. Disseram ser 18 os que lutaram, restaram vivos apenas Siqueira Campos e Eduardo Gomes, futuro brigadeiro, famoso na política.

O governo federal conhecia os planos dos tenentes e estava preparado, tanto que, ao ouvir o primeiro disparo do Forte de Copacabana, o presidente da República, Epitácio Pessoa, sarcasticamente teria dito: “estão vinte minutos atrasados”! Voltaram à carga em 1924, em São Paulo, fizeram a Coluna Prestes-Costa, lutaram em Catanduvas, no Paraná, apoiaram a Revolução de 1930.

Roberto Bondarik, professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Cornélio Procópio

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