A natureza é uma senhora, com alguns milhares de bilhões de anos, muito cheia de manias e regras. Essas manias e regras são conhecidas pela humanidade como as leis da natureza, e cabe a nós o trabalho eterno de entender, descrever e formular essas leis, de forma que todos os humanos possam compreender. O método aplicado ao estudo da natureza recebe o nome de ciência. Hoje a metodologia científica é dividida em várias áreas, cada uma responsável pela descrição de um certo conjunto de fenômenos naturais.

Muitos humanos dedicam suas vidas à compreensão e descrição da natureza, as pessoas que seguem a metodologia científica para tal finalidade são chamadas de cientistas. Um exemplo dessas regras é conhecido como lei da gravitação universal. Tal lei estipula, por exemplo, o comportamento dos corpos massivos próximos da superfície da Terra, esses corpos são sempre atraídos em direção ao centro do planeta. Isso também vale para a própria Terra, toda a massa do planeta está constantemente sendo atraída em direção ao seu centro, fazendo com que a mesma possua um formato esférico, pois toda a massa está igualmente distribuída em torno da superfície.

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Vamos considerar agora que você não conheça a lei da gravitação universal, ou alguma outra lei da natureza. Nesse caso, existem várias formas de proceder, que vão desde tentar apreender, ignorar ou o caso mais extremo negar. Isso poderia trazer, para uma pessoa desinformada, a sensação de pertencimento, uma vez que ela faria parte do seleto grupo daqueles que não aceitam a formulação das leis da natureza. Para isso seria necessário desconstruir os fatos, ou seja, você teria que se convencer, ou ser convencido, de que os corpos não são atraídos para o centro da Terra, sendo assim, o formato de nosso planeta, e todos os outros astros celestes, poderia ser qualquer um. Negar a lei da gravitação universal é chamado de terraplanismo.

Vamos imaginar um cenário mais extremo, onde um ambiente negacionista seja criado durante uma pandemia de ordem mundial, protagonizada por um vírus antes desconhecido. Se pontos de vista negacionistas existem acerca de questões muito bem compreendidas e estabelecidas, como o formato da Terra, por exemplo, uma tragédia poderia surgir quando o foco é uma doença inédita. Pessoas poderiam ser induzidas à seguinte questão: “por que irei ser manipulado pela ciência e crer nas mentiras ditas científicas?”

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Um vírus, um remédio, taxa de mortalidade, vacina, tudo poderia ser contestado de forma assertiva, levando a uma profunda desconexão com a realidade, e pondo em risco a vida de centenas de milhares de pessoas. Pior seria se os próprios líderes das nações adotassem posturas negacionistas, negando as descobertas científicas de suas próprias nações. O caos tomaria conta: grandes corporações poderiam induzir as pessoas a crer em remédios milagrosos, tratamentos inúteis, lucrando centenas de milhões e ainda induzindo os governos a financiar o processo usando os bancos públicos; falsos gurus surgiriam, espalhariam falsos conceitos negacionistas, de forma assertiva, pondo em risco sua própria vida, de suas famílias e de todos que o seguirem; laudos médicos seriam adulterador para garantir a farsa negacionista; pessoas deixariam de se vacinar; milionários lucrariam milhões, e o povo morreria aos milhares.

Imagem ilustrativa da imagem ESPAÇO ABERTO - O discurso sem método
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Vírus, bactérias e doenças são processos naturais, seguem os fundamentos da natureza e devem ser abordados seguindo a metodologia correta. A natureza é muito fiel às suas manias e regras, e tende a não se importar, nem um pouco, com o ponto de vista, opinião, ou crença de negacionistas. A natureza irá sempre seguir suas leis e discordar dela pode ter consequências graves, incluindo daqueles que espalharam a discórdia.

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A pergunta que você deve estar se fazendo é: como se prevenir de tamanha tragédia? Podemos tomar conhecimento sobre os fatos e ajudar a esclarecer de forma pacífica para aqueles menos informados ou mais suscetíveis. Para evitar que o cenário acima aconteça, ou volte a acontecer, devemos todos fazer um pacto pelo conhecimento, começando por aqueles que o detém. Todas as pessoas precisam ser cientes para não cair na conversa assertiva de falsos gurus, quando estes padecerem por seus próprios discursos pode já ser tarde demais.

Tiago Debarba é professor adjunto da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, e coordenador do Coletivo Conexões Londrina

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