Na manhã do dia 4 de julho de 2022, às 9 horas, morreu em São Paulo, aos 87 anos, o Arcebispo Emérito de São Paulo e Prefeito Emérito da Congregação para o Clero, o Eminentíssimo Cardeal Cláudio Hummes. O cardeal, nos últimos meses, tratava de um câncer agressivo no pulmão que suportou durante delongado tempo.

Natural de Salvador do Sul (RS) (08/08/34), ingressou em sua juventude na vida religiosa na Ordem Franciscana dos Frades Menores (OFM). Recebeu a ordenação presbiteral no dia 03 de agosto de 1958 e foi ordenado bispo em 25 de maio de 1975. Desenvolveu seu ministério pastoral como bispo nas dioceses de Santo André (SP) como coadjutor (1975) e titular (1975-1996); de Fortaleza (1996-1998) e de São Paulo (1998-2006).

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Foi criado cardeal da Igreja Católica por sua Santidade, hoje São João Paulo II, no Consistório de 21 de fevereiro de 2001. Entre os anos de 2006 a 2011 trabalhou diretamente ao lado de Sua Santidade o Papa hoje Emérito Bento XVI, em Roma, como prefeito da Congregação para o Clero.

Ao retornar ao Brasil, assumiu a função de presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia, da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e da recém-criada Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA).

Dom Cláudio é uma daquelas personalidades que surgem a cada 100 anos, homem excepcional e de uma grandeza incomparável. Impossível não recordar seu afeto e sorriso com o povo e com a causa do Evangelho.

No Conclave de 2013, que escolheu o papa Francisco, influenciou na escolha do nome papal de Jorge Mario Bergoglio. Na época, Francisco relatou sobre o conclave: “Ao meu lado, nas eleições, estava o arcebispo emérito de São Paulo e prefeito emérito da Congregação para o Clero, cardeal Cláudio Hummes, um grande amigo. Quando a situação ficava um pouco perigosa, ele me consolava. Quando os votos chegaram aos dois terços, começaram a aplaudir, porque o papa tinha sido eleito. E ele me abraçou, me beijou e disse: ‘Não se esqueça dos pobres’. E aquela palavra entrou na minha cabeça: os pobres. Pensei em Francisco de Assis”.

Dom Cláudio não deixa somente um legado para a Igreja Católica, mas para toda a sociedade civil brasileira por sua atuação profética e evangélica, pela justiça social e a defesa dos irmãos mais fragilizados, como já prefiguraria seu lema: somos todos irmãos.

Nos anos da Ditadura Militar no Brasil, lutou por salvaguardar os direitos humanos num contexto marcado extremamente pela repressão e pela tortura. Abriu as Igrejas do ABC para assembleias de operários para que pudessem superar a grande crise de 1979 e 1980, intercedeu pela libertação dos operários presos, não teve medo de se posicionar “à queima roupa”.

Pressionado por algumas figuras da Igreja, optou por ir à Roma consultar o próprio papa para refletir sobre a autenticidade de suas convicções e lutas. O próprio papa João Paulo II o abençoou e mandou continuar seu belíssimo trabalho.

Impossível também não esquecer seu desenvolvimento frente a Conferência Eclesial da Amazônia onde batalhou pela defesa da dignidade dos povos indígenas da Amazônia, que deveriam também ser protagonistas de suas histórias e não um mero objeto do capitalismo selvagem. Por isso, no Sínodo da Amazônia (2019), defendeu com esmero a demarcação das terras indígenas, pois, ele sustentava que elas preservavam a grande Amazônia.

Dom Cláudio era um homem da paz, do amor, da misericórdia, da alegria, contanto que se encontrou com Dalai Lama Tenzin Gyatso, líder espiritual do povo tibetano valorizando a construção de pontes de diálogo para o bem comum na construção de uma cultura de tolerância e de respeito à diversidade religiosa como sementes do Verbo. Santos de Deus, vinde em seu auxílio; anjos do Senhor, correi ao seu encontro! Acolhei a sua alma levando-a à presença do Altíssimo. Amém!

Diácono Caio Matheus Caldeira da Silva, doutorando e mestre em teologia

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