Leio, em meu blog favorito (Brasil 247), que o procurador da república Diego Castor foi demitido do ministério público federal por sua participação no financiamento irregular da produção de um outdoor propagandeando a operação lava jato.

Imagem ilustrativa da imagem ESPAÇO ABERTO - Castor e o dique rompido...
| Foto: Rafael Costa/ 27/03/2019

Tenho sido crítico ferrenho da lava jato desde seu nascimento (bater agora é fácil, não?). Ainda assim não consigo ficar feliz com a demissão de Castor. Talvez porque não seja eu um punitivista (não imaginava que haviam tantos) de plantão. Entendo, todavia, que o procurador demitido (que o blog 247 diz ser "estagiário de Dallagnol") cometeu, sim, irregularidade funcional ao financiar a autopromoção.

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Lamento, todavia, que o menino prodígio do garoto prodígio seja (até então) o solitário pagador da conta do abuso institucional trilhado por parcela mais afoita do ministério púbico – no final das contas é disso que se trata, na medida em que o país, conduzido por uma mídia comercial parcial, acovardou-se para, aparvalhado, se deixar embrutecer. Assim estupidificado pôde aplaudir, sem qualquer freio moral, os garotos de ouro de Curitiba e seu justiceiro da cidade canção, como quem encontra o cálice da aliança e brinda, com o próprio, a natureza do achado...

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É dizer: o procurador demitido não foi senão um peão no xadrez neopentecostal de Dallagnol. Deltan, de sua parte, segue bonifrate de moro. Isso não pode ser desconhecido ou relativizado se pretendemos, de fato, resgatar o espectro democrático do estado de direito.

Castor, na mitologia grega, era irmão gêmeo de Pollux, ainda que fosse filho de um outro pai – Póllux filho de Zeus, Castor de Tíndaro. A mãe (comum) era Leda.

Por ser filho de Zeus, Póllux é o gêmeo imortal; talvez isso explique a situação de Castor que recuso comemorar, suposto que nem de longe a decisão do CNMP resgata as premissas do devido processo que a operação midiática sepultou (com o aplauso do próprio CNMP), ao construir sua narrativa de muitos vilões para nenhum mocinho. Castor é o lado mais frágil da corda. Um mortal em um mundo de imortais...

Noves fora meu escrúpulo civilizatório, não posso deixar de observar que, ao criar heróis a operação lava jato se vendeu às narrativas que lhe sustentaram, estabelecendo o apanágio da desídia estatal, naquilo que tutelou a condução tendenciosa e absolutamente parcial dos processos midiáticos que mitigavam a esquerda – leia-se: Lula e PT...

Basta acompanhar as conversas por aplicativo (Telegram) de celular que vazaram para identificar, com clareza solar, o consórcio ilícito estabelecido entre os procuradores e o então juiz – à época um ator político já considerável...

A conta chegando apenas para o mortal (Castor) passa a ideia de que os imortais (moro e Dallagnol) não serão alcançados – seria essa a tal terceira via? Juliana Paes poderia nos esclarecer, por favor?

Deltan e moro são os responsáveis diretos pela desídia que corrompeu o estado de direito, ainda que não tenham agido solitariamente. A mídia comercial familiar brasileira (frias, marinho, mesquita e civita) sustentou a narrativa de conveniência com a qual os garotos de ouro de Curitiba se lambuzaram.

O ponto sem retorno, todavia, da operação lava jato foi a criação e destinação de um fundo bilionário em favor dela própria. Ao se auto conceder imensa fortuna, a lava jato desconstruiu seu único pilar moral (a instituição do ministério público), desintegrando a soberania constitucional do ‘parquet’, na indecência que a criação do fundo bilionário propiciara – tudo chancelado por uma juíza federal....

Dallagnol, moro e a juíza (que por decisão monocrática admitiu a criação e destinação do tal fundo bilionário) neste instante são beneficiários da demissão do mortal Castor, naquilo que a repercussão da medida lhes protege dos estilhaços reverberantes do consócio ilícito que estabeleceram, conforme demonstram as conversas travadas no aplicativo de celular Telegram – repito à exaustão...

Todavia, na mitologia grega, com a morte de Castor, Póllux pede a seu pai (Zeus) que ressuscite o irmão, em tempo de partilhar-lhe a imortalidade. Zeus atendeu ao pedido do filho, transformando ambos em uma constelação (Gêmeos).

Na terra do mito, o politizado ministério público de nossos dias não pediu à Zeus por Castor – antes o contrário: deu seu filho mortal em paga da conta de seu deleite político/institucional.

Por isso não ouso comemorar a demissão de Castor, que ela não é senão um eclipse que vem mantendo à salvo o orvalho infértil que feneceu no abandono do dever de ofício.

Juízes e promotores políticos e parciais não deveriam passar. Passarão?

Saudade pai. Vai Corinthians!

João dos Santos Gomes Filho, advogado

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