Imagem ilustrativa da imagem ESPAÇO ABERTO - Balbúrdia nômade: um problema londrinense
| Foto: Isaac Fontana/FramePhoto/Folhapress

Imagine uma mulher com uma blusinha e uma saia, caminhando pela rua, vítima de assédio. Agora imagine alguém culpando essa mulher pelo assédio que ela própria sofreu, por causa da roupa que ela usava. Parece absurdo, não é?!

Hoje em dia, os donos de bares da Rua Paranaguá são como mulheres de blusinha e saia, sofrendo assédio periodicamente e sendo considerados os culpados por uma perturbação de sossego que não é culpa deles. No linguajar popular, são os bodes expiatórios.

Os donos de bares da Rua Paranaguá estão sendo apontados por alguns moradores da região, por políticos populistas e outros oportunistas de plantão como os causadores de som automotivo alto, barulho de grupinhos reunidos fora dos bares, lixo na calçada e urina nos muros. Justificam a “caça às bruxas” com o fato de serem pagadores de impostos. Espere aí! Os donos de bares também pagam impostos. E vão além, geram empregos.

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Para quem, prematuramente, já elegeu os culpados e não faz questão de mudar de opinião sobre o real problema, é preciso explicar que os donos de bares, os frequentadores dos bares, funcionários e músicos são igualmente afetados pelos mesmos problemas e repudiam ainda mais tais atos cometidos na Rua Paranaguá.

Tanto é verdade a afirmação que os proprietários de bares se mostraram favoráveis à fiscalização, promovida pelo poder público, para coibir excessos. Os bares possuem banheiros próprios e lixeiras próprias. Os bares possuem clientes que se unem para confraternizar, colocar a conversa em dia e se sentem incomodados com um motorista que passa perto com o som do carro no volume extremo, com um motoqueiro que acelera apenas para fazer graça ou com grupinhos nas calçadas berrando, entupindo o caminho de volta pra casa.

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Se o cliente se sente incomodado, os funcionários e os donos de bares também ficam assim. É um problema não apenas dos moradores. Tem quem busca encontrar solução mirando fora daqui. Não dá certo! É um problema cultural da cidade. Antes de olhar para Berlim (ALE) ou Gramado (RS) é preciso olhar a realidade de Londrina, conhecer o histórico da bagunça e discutir o melhor para a cidade.

O verdadeiro problema de Londrina é quem se diverte sem respeitar o próximo (seja este próximo morador da região, cliente ou dono de bar) e ignora a civilidade, as boas práticas em sociedade, a coletividade. É gente que promove a balbúrdia nômade. O excesso de bagunça já foi no Alto da Higienópolis. Já foi também na Rua Espírito Santo. Mudou para o Jardim Higienópolis. Depois, para o entorno da UEL. Migrou para o espaço do Zerão, onde ocorre a Feira da Lua. De tempos para cá, buscaram a Rua Paranaguá.

“Ah! Mas o pessoal da bagunça só passa ali pelo fato de ter bares na rua”. Pode ser, mas o espaço do Zerão não tinha bar. O ponto do Jardim Higienópolis tinha um único bar e um posto de combustíveis. Não é pelos bares, é pela bagunça. Gente assim precisa encontrar um local onde se sinta confortável. Conforto, nesse caso, é sinônimo de liberdade para produzir algazarra, barulheira, som automotivo alto, jogar lixo no chão, urinar nos muros e até usar drogas ilícitas.

Se algo estivesse errado com os bares, já teriam sido lacrados. Os bares têm recebido visitas quinzenais de funcionários da Secretaria Municipal da Fazenda, quando não em periodicidade maior. Junta-se a isso o fato de os bares estarem seguindo todas as determinações impostas durante a pandemia de Covid-19, como, por exemplo, a redução da capacidade de público pela metade.

Os resultados das blitz realizadas são muitos carros e motos com IPVA vencido. Apreenderam algum veículo carregando numerosas caixas de som e cornetas? Já não existe a lei contra poluição sonora? A lei municipal que proíbe consumo de bebidas alcoólicas em vias públicas não existe mais? É só colocar em prática. Ate lá, a balbúrdia vai migrar. Depois da Rua Paranaguá, onde eles vão atacar? E quem serão os bodes expiatórios?

Fábio Aguayo, presidente da Abrabar

A opinião do autor não reflete, necessariamente, a opinião da FOLHA.

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